Título: Meirelles vê ritmo forte de investimento
Autor: Sergio Lamucci
Fonte: Valor Econômico, 23/11/2004, Brasil, p. A3

O presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, disse ontem que o volume de investimentos no país cresce a um ritmo significativo, mostrando que os empresários aumentam a capacidade de oferta da economia. Segundo ele, os números sobre investimento indicam que, na hora de tomar decisões, "o empresário é mais racional do que quando faz declarações à imprensa". Meirelles voltou a insistir na importância de manter a inflação baixa para que o país cresça de forma sustentada por um período prolongado. "Desenvolvimentistas somos todos nós, à medida que estamos trabalhando para que o Brasil possa crescer e gerar empregos", disse ele, que participou do seminário "Canadá e Brasil: parcerias comerciais". Para Meirelles, os empresários "entendem perfeitamente" que "o BC está tomando todas as medidas" - uma referência indireta aos recentes aumentos de juros - para que o crescimento seja de longo prazo. "E o mais importante para o investimento não é uma alta dose de retorno no curtíssimo prazo e um retorno incerto no médio e longo prazo. O empresário precisa de previsibilidade." Meirelles traçou um quadro bastante otimista sobre a economia brasileira, insistindo que, desta vez, a retomada da atividade econômica terá fôlego. Segundo ele, a utilização de capacidade instalada na economia está crescendo, mas o investimento caminha à frente. No primeiro semestre, a taxa de investimento cresceu 6,8% em relação ao mesmo período do ano passado. Para Meirelles, os números deixam claro que os empresários estão investindo. Outro ponto positivo, segundo ele, é que, na Sondagem Conjuntural da Fundação Getúlio Vargas (FGV), os empresários continuam a se mostrar bastante confiantes. Na sondagem de outubro, por exemplo, 53% dos entrevistados acreditava que a situação dos negócios iria melhorar. "Lendo os jornais, a impressão é que os empresários estão desanimados, mas uma pesquisa como a da FGV sinaliza um quadro diferente." Então por que a cada reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) há reclamações por parte do setor privado? "Todos nós temos o desejo de que o Brasil tenha taxas de juros mais baixas e possa crescer a taxas muito elevadas. A discussão é como chegar lá, e a experiência de muitos países mostra que a maneira de chegar a juros mais baixos é a estabilidade monetária. O aumento da incerteza gera o aumento do prêmio de risco. Nós temos que ter cada vez mais as metas de inflação sendo atingidas, o equilíbrio fiscal consolidado, o que dá uma previsão cada vez maior sobre o comportamento futuro da economia. Isso vai fazer com que o risco-país caia e os investimentos continuem a crescer." Meirelles disse ainda que, no Brasil, permanece uma discussão entre inflação e crescimento, dicotomia que não existiria mais na maior parte dos países. Alguns que defendem mais inflação para ter mais crescimento, segundo ele, se auto-intitulam desenvolvimentistas. Para ele, a questão é que, sem estabilidade monetária, não há crescimento sustentado. Meirelles afirmou que não ficou incomodado com as críticas do ex-presidente do BNDES Carlos Lessa, que classificou sua gestão no BC como "pesadelo". "Não, absolutamente. O debate é saudável . Cada um tem o seu estilo, mas o importante é que todos estão trabalhando duro, pensando maneiras de descobrir para o Brasil crescer mais."