Título: Plebiscito alavanca candidaturas em 2012
Autor: Agostine, Cristiane
Fonte: Valor Econômico, 13/12/2011, Política, p. A7

O plebiscito sobre a divisão do Pará alavancou candidaturas de líderes envolvidos no debate para disputar a eleição municipal em 2012.

No comando da frente vitoriosa contra a criação do Estado de Carajás, o deputado federal Zenaldo Coutinho (PSDB) deve se tornar a principal aposta de seu partido para disputar a Prefeitura de Belém, com o apoio do governador do Pará, Simão Jatene (PSDB).

Com o fim do plebiscito, o governador fará uma reforma em seu secretariado e dará um cargo de destaque a Zenaldo. O deputado ocupou por sete meses a Casa Civil neste primeiro ano da gestão Jatene, mas depois deixou o cargo. O parlamentar é presidente do PSDB do Pará e disputa dentro do partido com o senador Flexa Ribeiro a indicação para concorrer em 2012. A vitória no plebiscito de domingo reforçou a pré-candidatura de Zenaldo, que aproveitou o tempo da propaganda no rádio e na televisão para tornar-se mais conhecido na capital.

O deputado desconversa sobre a disputa dentro do PSDB. "Ainda não tratamos da disputa municipal porque não queríamos contaminar o debate sobre o plebiscito. É cedo ainda", diz Zenaldo.

Mesmo com a derrota nas urnas, os presidentes das frentes pró-criação de Carajás e Tapajós ganharam força eleitoral em Marabá e Santarém, cidades previstas para serem as capitais desses Estados. Nos dois municípios mais de 90% dos eleitores votaram pela divisão do Pará.

O presidente da frente pró- Carajás, João Salame (PPS), é pré-candidato em Marabá. "Conseguimos mais de 1 milhão de votos no plebiscito, um terço do eleitorado. É um capital político nada desprezível", afirma Salame. "Naturalmente o plebiscito coloca meu nome em evidência na cidade", comenta o deputado, que em 2008 disputou a Prefeitura de Marabá e ficou em segundo lugar. Na cidade, o grupo político de Salame discute a pré-candidatura do deputado e a do ex-prefeito Tião Miranda. "O plebiscito vai interferir nisso", diz.

Na Assembleia Legislativa, Salame é vice líder do governo Jatene, mas a situação deve mudar com o fim do plebiscito. Durante a campanha, a frente pró-divisão, que tinha em Salame um de seus principais líderes, atacou o governador e o associou aos principais problemas vividos pelo povo do Pará. Agora, ele deve perder o posto. "Sempre fui muito independente na Assembleia. Me posicionar pela divisão do Estado não vai alterar minha relação com o governo, mas Jatene teve uma postura que não foi a mais correta", afirma Salame, referindo-se ao fato de o governador assumir posição contrária à divisão. "É ele [Jatene] quem vai dar o tom na Assembleia", declara o deputado.

Em Santarém, o presidente da frente pró-Tapajós, deputado federal Lira Maia (DEM), não deve sair candidato, mas já articulou apoio ao deputado estadual Alexandre Von (PSDB) para a eleição de 2012. Von foi fiel à causa separatista e atuou como um dos principais defensores da divisão na Assembleia Legislativa do Estado. Na cidade, 98,6 % dos eleitores votaram a favor da criação de Tapajós e 96,9% a favor de Carajás. No Pará, a apuração total dos votos registrou o oposto: dos 3,6 milhões de eleitores que votaram, 66,6% foram contra a criação de Carajás e 66,08% contra Tapajós. O índice de abstenção foi de 25,71%; votos em branco foram 0,41% e nulos, 1,05%.

Segundo o coordenador do grupo pró-Carajás, lideranças das duas frentes separatistas buscarão um caminho comum para o futuro. As frentes articulam-se para formar uma oposição forte ao governador em 2014.

A população do Pará percebeu a movimentação eleitoral na campanha sobre a divisão do Estado. Para o revendedor José Nogueira de Carvalho, de 50 anos, o plebiscito do domingo "vai servir de trampolim para os políticos que se engajaram". "Os vencedores serão os baluartes, porque ganharam politicamente. Os integrantes da frente pró-Carajás e Tapajós também, porque levantarão a bandeira da divisão em 2012. Para esses quatro houve ganho político", afirmou. Para o aposentado Josué Jonas, de 68 anos, a insatisfação da população das regiões separatistas devem se transformar em "uma carga pesada" para o governador em 2014.

Passado o plebiscito, os partidos buscam formas de capitanear a insatisfação da população tanto entre os separatistas quanto aqueles que foram contra a divisão.

O PT, que antecedeu o governo de Jatene com a ex-governadora Ana Julia, está desgastado no Estado com denúncias de supostas irregularidades que ainda recaem contra a gestão petista. No plebiscito, as principais lideranças locais do partido mostraram-se favoráveis à divisão, como a prefeita de Santarém, Maria do Carmo Martins, e o deputado federal Paulo Rocha. Na tentativa de se reestruturar, o partido deve apostar na candidatura de Rocha em 2012 para a prefeitura da capital.

O recém-criado PSD está sob comando do secretário estadual de infraestrutura, Sérgio Leão. O partido divide-se entre apoiar o governador tucano e consolidar-se no Estado. "Não vamos ser chapa 2 do PSDB. Mas também não vamos bater de frente com o partido", comentou Leão. No Estado, o PSD tem 15 prefeitos, 3 deputados estaduais e 300 vereadores.

Em 2012, o PSOL tem chances de ganhar a Prefeitura de Belém, com o ex-prefeito e deputado estadual Edmilson Rodrigues. Nas pesquisas eleitorais, é o nome mais forte até o momento.