Título: ZTE produzirá celular em parceria com Evadin
Autor: Leo, Sérgio
Fonte: Valor Econômico, 01/09/2006, Empresas, p. B3

Após um malsucedido projeto para instalar no Brasil uma fábrica de equipamentos para telecomunicações, a ZTE tenta sua segunda incursão no país. Com faturamento mundial de US$ 5 bilhões, a segunda maior companhia chinesa do setor firmou contrato com a Evadin-Aiko para fornecer tecnologia e componentes para a produção de telefones celulares em Manaus.

A ZTE também anunciou ontem um acordo operacional com a prestadora de telefonia fixa e móvel Brasil Telecom.

"Nos últimos dez anos, a ZTE fez mais investimentos na Ásia e na África, por isso não é muito forte no Brasil e pretendemos investir mais nos próximos anos", afirmou o presidente do conselho de administração, Hou Wengui. Ele veio ao Brasil para o anúncio dos acordos firmados pela empresa, que acabaram ofuscados pela surpresa da compra de cem aviões da Embraer pela chinesa HNA.

A fábrica da Aiko produzirá celulares em sistema CKD (montagem de peças importadas) e tecnologia da ZTE. Dessa forma, explicaram os dirigentes da empresa, será possível assegurar melhor atendimento após a venda, aproveitando a rede da Evadin-Aiko já existente no país - e contornar as resistências dos consumidores a marcas chinesas desconhecidas, como ainda é a ZTE no mercado de celulares no Brasil.

Em 2004 e 2005, o faturamento da ZTE, que fornece equipamentos e serviços para a Vivo, Telefônica, Brasil Telecom e duas companhias menores, ficou em torno de US$ 50 milhões anuais. Embora não tenham confirmado cifras, os executivos da ZTE prevêem duplicar o faturamento em 2006, e pretendem dobrá-lo novamente em 2007.

A ZTE, que produz de celulares e modems a equipamentos de infra-estrutura em telecomunicações, como estações radiobase para celulares, pretende, primeiro, sondar as demandas do mercado brasileiro e esperar pelo fortalecimento dos países vizinhos para confirmar os investimentos, porém.

Segundo seus executivos, o faturamento não cresceu no ano passado, devido à comparação com um ano de bons contratos, como 2004 e à frustração da expectativa de crescimento nos mercados vizinhos.

A mudança de foco e reestruturação gerencial da empresa no Brasil levou ao arquivamento de uma anunciada fábrica de estações radiobase planejada há cerca de dois anos para instalação em Barueri, São Paulo.

A ZTE pretende aumentar seu quadro de funcionários na região, com a contratação de mil novos empregados nos próximos dois anos, 400 dos quais no Brasil, segundo Hou Wengui. "O mercado do Brasil é enorme, com sua dimensão econômica e população, por isso escolhemos o país como núcleo de nossas operações na América do Sul", explicou.

Junto com Índia, Rússia e África do Sul, o Brasil foi escolhido como foco da expansão mundial da empresa nos mercados emergentes, disse o presidente da ZTE para a América do Sul, Scott Wang Shouchen. "A empresa está no Brasil para buscar as necessidades do mercado: não iremos transferir tecnologia da noite para o dia, mas queremos crescer no país", ressaltou.

No primeiro semestre, segundo os últimos dados divulgados, os resultados líquidos da ZTE caíram em 47%, para pouco mais de US$ 40 milhões, queda justificada pelos executivos como resultado da expansão dos investimentos em tecnologia e em operações no exterior. As vendas da companhia tiveram aumento de quase 2%, para cerca de US$ 1,3 bilhão, crescimento ocorrido exclusivamente nos mercados emergentes, que já correspondem a 47% das vendas da empresa.

Hou Wengui rejeitou a tese de que a competitividade dos produtos chineses está nos baixos salários pagos aos empregados. Hoje, 70% do custo dos produtos refere-se a software e investimentos em inovação, afirmou. O executivo garantiu que a ZTE paga salários, em média, de US$ 40 mil anuais aos funcionários.