Título: No lugar da festa, o combate ao ódio
Autor: Mariz, Renata
Fonte: Correio Braziliense, 17/09/2010, Brasil, p. 9

Mesmo com base em dados não oficiais, o número de crimes motivados pela intolerância contra homossexuais é bem significativo. Evento que começa amanhã em Brasília reúne a sociedade para dar um basta na violência e na homofobia O colorido das paradas gays, que se firmaram no Brasil como grandes festas de celebração da diversidade, ganhará um tom de luto no evento intitulado 24 horas de combate à homofobia, que ocorre amanhã em Brasília. A única pesquisa elaborada no país mostra o elevado nível da intolerância extrema: 198 homossexuais assassinados em 2009. Marcelo Cerqueira, presidente do Grupo Gay da Bahia, entidade que sistematiza os dados de crimes homofóbicos a partir de notícias veiculadas na imprensa, ressalta que o número de vítimas deve ser bem maior, devido à falta de registros oficiais a respeito do assunto. Angélica Ivo, mãe do garoto Alexandre Thomé Ivo Rajão(1), torturado e estrangulado há menos de três meses no Rio de Janeiro, é a convidada de honra do encontro (leia entrevista ao lado). Apesar de ter um tema tão triste e grave como assunto principal, a programação do evento inclui oficinas de arte, cinema, um painel com candidatos a cargos eletivos e uma festa de encerramento.

O 24 horas de combate à homofobia começa às 13h no gramado do Espaço Cultural da Funarte, com diversas tendas temáticas. Uma das coordenadoras do evento, Carolina Vilalva, destaca a questão das eleições como outro ponto forte do encontro. Acreditamos que é um momento único de falarmos dos candidatos com plataformas LGBT (lésbicas, gays, bissexuais, travestis e transexuais), debatermos as ideias, verificarmos quem apresentou projetos, diz. Ela menciona também a presença de advogados que estarão no evento para prestar atendimento gratuito relacionado aos direitos dos homossexuais e a situações de preconceito. Angélica será homenageada pela Secretaria Especial de Direitos Humanos, que apoia o ato ao lado do Ministério da Saúde. Representantes de outras pastas, como a da Igualdade Racial e a de Políticas para as Mulheres, foram convidados.

1 - O caso no Rio

Alexandre tinha 14 anos, fazia o 9º ano na escola e era apontado por familiares e amigos como um garoto calmo e sem desafetos. O crime ganhou repercussão nacional devido à brutalidade. Dos três meninos acusados de assassinar Alexandre, um deles confessou à polícia ser simpatizante do pensamento skinhead, que prega o ódio a homossexuais. O grupo chegou a ficar preso provisoriamente, mas responde ao processo em liberdade. O julgamento ainda não tem data marcada.

"Meu filho sofreu muita violência, tanto psicológica quanto corporal. Fizeram de tudo o que você pode imaginar e depois o estrangularam Angélica Ivo, mãe de Alexandre Thomé, assassinado há cerca de três meses