Título: Quem é quem na gestão
Autor: Pavini, Angelo
Fonte: Valor Econômico, 07/08/2006, Eu & Investimentos, p. D1

Quem já ouviu falar da Pilla? E da Grove? Da Pinnacle? Ou da Teórica? Pois essas e outras gestoras de fundos agora passam a ter espaço nos levantamentos do setor feitos pela Associação Nacional dos Bancos de Investimento (Anbid).

Ficou mais fácil para o investidor saber quem são os responsáveis pelo destino do dinheiro aplicado em fundos. A partir deste mês, a Anbid passa a divulgar um ranking de gestores de recursos de fundos, complementando o que já era divulgado, mas que incluía apenas os administradores. O novo ranking inclui 185 instituições, um universo muito mais amplo que os 42 administradores do ranking anterior. A lista vai desde a gigante BB DTVM, com R$ 161,5 bilhões, até a pequena InvestPort, com R$ 800 mil em fundos abertos.

Com a nova lista, a Anbid está também reforçando a tendência de maior especialização entre os serviços de gestão e de administração de recursos. O gestor determina onde aplicar o dinheiro do fundo e define estratégias. Já o administrador cuida da parte de controle do fundo, desde o cálculo da cota até a verificação se o gestor está cumprindo o regulamento definido com o investidor. Normalmente, os grandes bancos fazem eles mesmos a administração de seus fundos, assim como a custódia. Já os gestores independentes contratam administradores e custodiantes externos. Em geral, esse mercado é dominado por Itaú, por meio da subsidiária Intrag, e Mellon Serviços Financeiros.

O ranking de gestores traz algumas diferenças em relação ao de administradores. O Unibanco, por exemplo, que aparece em sexto lugar entre administradores, cai para oitavo no ranking de gestores, enquanto ABN Amro Real e Santander sobem uma posição, para sexto e sétimo lugares, respectivamente. Já a Mellon, forte na área de administração, cai do 11º lugar para o 17º.

Fica mais aparente também o crescimento dos gestores independentes, onde aparecem desde os pesos-pesados Legg Mason e a Mellon até a tradicional Hedging-Griffo. Mas já é possível ver caras novas, como Claritas Investimentos, a Gávea, do ex-presidente do Banco Central Armínio Fraga, e sua dissidência, a Mauá Investimentos, do também ex-BC Luiz Fernando Figueiredo. O ranking poderá ainda trazer a discussão sobre o que pode ser considerado um gestor independente, uma vez que alguns bancos, como o Fator, com R$ 2,359 bilhões, também se incluem na lista. O Valor optou por agrupar os não ligados a bancos no levantamento.

O ranking traz ainda quanto cada gestor tem em cada tipo de fundo, nas categorias curto prazo, referenciado DI, renda fixa, multimercado, cambial, dívida externa, ações, privatização, previdência, FDIC (recebíveis), "offshore" (no exterior) e imobiliários. Isso permite definir sub-rankings, que mostram a especialização de alguns gestores em determinados tipos de carteira. O Valor fez dois levantamentos, de multimercados e ações, onde ganham destaque gestores de menor porte. Nos multimercados, além da gestora do Pactual, aparecem a Votorantim Asset, a BNP Paribas e a Hedging-Griffo. Já em ações, aparecem a asset do Opportunity, a BankBoston e novamente a Hedging-Griffo.

A tendência cada vez maior de separação entre as atividades de gestão, distribuição e administração levou a Anbid a criar o novo ranking, após cinco anos de criação do levantamento global de administradores de recursos de terceiros, afirma Marcelo Giufrida, vice-presidente da associação e responsável pela área de gestão do banco BNP Paribas. "Com o crescimento dos gestores independentes, essa separação pegou uma dimensão maior", afirma ele. Segundo Giufrida, ganha força no Brasil a figura do gestor de recursos, especialmente em fundos, concorrendo com a figura do banco. E o novo levantamento dá uma visibilidade maior para o investidor saber quem são os principais participantes desse mercado. Giufrida diz que o próximo projeto é um ranking de distribuidores de fundos.

O novo levantamento vai na linha de valorizar e utilizar cada vez mais os dados coletados pela Anbid, afirma Luciane Ribeiro, responsável pela gestão de recursos no ABN Amro Real e coordenadora da Subcomissão de Acompanhamento de Mercado da associação. "O ranking de gestores era uma demanda antiga dado o crescimento dos gestores independentes", afirma ela. "Como eles precisam ter um administrador, que em geral são bancos maiores, o gestor acabava não aparecendo", diz. Ela lembra que o ranking exclui os fundos de cotas, ou FICs, que não tem processo de gestão porque compram cotas de outras carteiras, e as carteiras administradas.

Luciane destaca o claro crescimento do segmento de gestão de recursos independente, apesar da forte concentração ainda em alguns grandes bancos. "Mas já dá para perceber o crescimento dos independentes", diz. Para ela, a tendência agora é a Anbid caminhar para uma segmentação dos acompanhamentos por estratégia de gestão, especialmente nos multimercados, como já acontece lá fora. Hoje, os multimercados macro - que buscam ganhos tentando antecipar as grandes mudanças de mercado -, os long/shorts - de arbitragem com ações - e os "market timing" - que buscam oportunidades de curto prazo - estão perdidos entre as categorias de multimercados com ou sem alavancagem ou com ou sem renda variável. "O próximo passo é caminhar para a segregação de estratégias ou de volatilidades", afirma.

"Hoje o setor de multimercados é muito grande, mas já estamos começando um trabalho de separar na Anbid esses fundos", afirma. Ela dá o exemplo dos long/shorts, que tiveram forte crescimento nos últimos dois anos, e os macro. "Já saímos do projeto e estamos trabalhando nessa divisão, que será definida pelo gestor", afirma. Os multimercados têm hoje cerca de R$ 154 bilhões e já representam a terceira maior categoria de fundos, com 18,65% do total de recursos do setor.

Um dos que apostam no setor de gestores independentes é Luiz Fernando Figueiredo, da Mauá, que deixou a sociedade com Armínio Fraga, na Gávea, em dezembro de 2004, para se lançar em carreira solo. Em pouco mais de um ano e meio de vida, a gestora já aparece em 39º lugar no ranking, com R$ 1,175 bilhão em fundos abertos e 32 funcionários, 11 dos quais são sócios. "Estamos indo bem com uma proposta de criar uma instituição e não ser apenas uma gestora baseada em um nome conhecido, o 'one man show'", diz.

Os gestores independentes se tornaram viáveis graças à criação no Brasil dos serviços de custódia, administração e controladoria pelos grandes bancos, diz Luis Stuhlberger, sócio da Hedging-Griffo. "Esses serviços tornaram os independentes confiáveis para o investidor colocar seu dinheiro", lembra. O fato de os grandes bancos evitarem vender fundos de maior risco também ajudou a abrir espaço para gestores diferenciados, assim como a possibilidade de um ganho maior do gestor em uma casa independente. Stuhlberger acha, porém, que o mercado independente já tem um tamanho razoável e que a tendência agora é de consolidação. "Quando o risco geral do país diminuir, haverá menos espaço para ganhos com juro e câmbio", diz. E aí ter escala será fundamental.