Título: Clima adverso tem pouco impacto sobre preços
Autor: Lamucci,Sergio
Fonte: Valor Econômico, 18/01/2012, Brasil, p. A3

O impacto das secas no Sul do Brasil, na Argentina e no Uruguai e das chuvas fortes no Sudeste sobre os preços de alimentos não tem provocado grandes surpresas neste começo de ano. As cotações de produtos agropecuários no atacado e de alimentos in natura têm subido nas últimas semanas, mas sem escapar das expectativas de boa parte dos analistas. Por enquanto, não há revisões significativas das previsões para a inflação desses itens.

Divulgado ontem, o Índice Geral de Preços - 10 (IGP-10) mostrou um quadro relativamente tranquilo dos produtos agropecuários no âmbito do produtor, o IPA. Eles subiram 0,44% em janeiro, uma aceleração em relação à deflação de 0,12% observada em dezembro do ano passado, mas inferior ao 0,6% de janeiro de 2011, como observa o economista Fabio Romão, da LCA Consultores. O IGP-10 mede a inflação entre os dias 11 do mês anterior e 10 do mês de referência.

Os preços da soja, que haviam recuado 3,66% em dezembro, subiram 1,29% no IGP-10 de janeiro, refletindo a alta das cotações do produto no mercado internacional no fim de dezembro e começo de janeiro. O efeito da seca no Sul do Brasil, na Argentina e Uruguai, causada pelo fenômeno climático La Niña, contribui para pressionar as cotações da soja e também do milho.

Romão acredita que a soja vai mostrar altas mais fortes no IGP-M e no IGP-DI deste mês, de 3,4% e 3,8%, pela ordem, mas considera que são movimentos dentro do esperado. O milho, por sua vez, recuou 0,47% no IPA-10 agropecuário, mas vem ganhando terreno nos últimos IGPs. No IGP-M de dezembro, por exemplo, havia caído 7%. Nas previsões de Romão, o milho deve alcançar uma alta de quase 4% no IGP-DI, que mede os preços no mês fechado. Influenciado por esses aumentos, o IPA agropecuário deve subir um pouco mais de 1% tanto no IGP-M como no IGP-DI de janeiro, acredita ele.

Uma boa notícia é que as cotações da soja e também do milho caíram no mercado internacional nos últimos dias, destaca o economista Fabio Ramos, da Quest Investimentos. Há bastante incerteza, contudo, quanto ao que deve ocorrer com os preços desses produtos. A expectativa dos meteorologistas é de que, depois das chuvas de sexta-feira e sábado, o Sul do país enfrente outro período de estiagem neste mês. Como Romão, Ramos também não vê grandes surpresas no comportamento dos preços dos alimentos. Ele até revisou de 0,6% para 0,5% a alta esperada para o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) em janeiro, dado o desempenho dos alimentos no fim de dezembro e também no começo de janeiro.

Ele vai acompanhar de perto a evolução dos próximos índices de preços, mas por enquanto está confortável com essa projeção, que embute elevação de 1% para o grupo alimentação e bebidas. Em janeiro de 2011, o IPCA subiu 0,83%, com alimentação e bebidas avançando 1,16%.

O economista-chefe da MB Associados, Sérgio Vale, é outro que não se preocupa com o movimento dos preços de alimentos, tanto no atacado quanto no varejo. Para ele, a alta registrada pelos alimentos in natura nas últimas semanas é normal. "É uma aceleração dentro do padrão, que não me surpreende", afirma Vale. "A alta é transitória e não costuma haver repasses."

No Índice de Preços ao Consumidor-10 (IPC-10), o grupo de hortaliças e legumes subiu 4,99% em janeiro, depois de ter recuado 2,76% em dezembro de 2011. Para Romão, é um comportamento normal, dentro da sazonalidade. Ele projeta que o IPCA, o índice que serve de referência para o regime de metas, vai subir 0,57% em janeiro, com o grupo de alimentação e bebidas avançando 1,01%.

O economista-sênior do Bradesco Daniel Weeks também diz que a pressão sobre os alimentos in natura têm ficado dentro do esperado. As altas são fortes, mas não fogem do script. "O que tem ocorrido até agora não muda as nossas expectativas para o primeiro trimestre", afirma ele, que projeta alta de 0,5% para o IPCA em janeiro.