Título: Planalto atua para evitar surpresas em ano eleitoral
Autor: Zanatta, Mauro
Fonte: Valor Econômico, 08/02/2012, Política, p. A5

As negociações para a montagem dos palanques nas eleições municipais têm deixado o Palácio do Planalto em alerta máximo. Aliados de todos os partidos pressionam coordenadores políticos do governo por um desfecho favorável aos seus interesses na composição das chapas que disputarão as prefeituras em outubro.

O calendário eleitoral, mais apertado do que o ano civil, somado a tensões entre os partidos aliados no plano local e a ansiedade dos políticos em ocupar espaços e resolver as pendências paroquiais fez o governo reforçar os cuidados na articulação política no Congresso. O Planalto teme, segundo apurou o Valor, que aliados contrariados aprovem "alguma surpresa" para dar um eventual "troco" como resposta à sua recusa em arbitrar os conflitos eleitorais. A principal preocupação do governo é aprovar o fundo de previdência complementar dos servidores federais (Funpresp), principal prioridade para 2012. É uma solução para o atual déficit de R$ 56 bilhões provocado por 953 mil servidores que tende a ficar pior, já que outros 1,1 milhão se aposentam até 2023 - metade deles até 2015.

Mas, nos bastidores do governo, alguns articuladores acreditam que o "troco" pode ser ainda pior, com a criação de uma CPI da Casa da Moeda para investigar supostas irregularidades cometidas pelo ex-presidente da instituição, Luiz Felipe Denucci. Em conversas reservadas, a oposição já fez chegar ao Planalto sua disposição. E alguns aliados começaram a ver nessa alternativa uma chance para elevar a pressão sobre o governo para resolver questões eleitorais. Assinar um pedido de CPI para negociar vantagens pessoais não é algo incomum no Congresso. "Isso seria péssimo para nós. Mas, de fato, é um perigo real", disse ao Valor uma qualificada fonte do governo. Uma CPI, avalia, colocaria o governo "na parede", causando constrangimento ao ministro da Fazenda, Guido Mantega, a quem a Casa da Moeda está subordinada, sendo ele portanto responsável pelo que ali aconteceu.

O governo avalia, ainda, que só a ameaça de uma CPI na Fazenda causaria um "estrago" na imagem do Brasil nos mercados financeiros globais. "Um ministro da Fazenda sob suspeita é muito grave", diz a fonte. Essa CPI puxaria assuntos ainda "insepultos", como as negociações que levaram à venda de parte do banco PanAmericano à Caixa Econômica Federal. E poderia reavivar, segundo essa análise, tensões de grupos políticos insatisfeitos com a gestão de Mantega na Receita Federal.

Mesmo decidida a não entrar nas disputas pelas prefeituras, a presidente Dilma já foi alertada sobre os perigos embutidos nessa estratégia. E delegou a criação de um "cordão sanitário" para evitar respingos dessas contendas entre senadores e deputados aliados no governo. Os coordenadores políticos se apressam para garantir agenda parlamentar do governo e evitar uma derrota em temas prioritários, como o Funpresp. Como parte dessa estratégia, o presidente da Câmara, Marco Maia (PT-RS), entrou em campo ao comprometer-se com a agenda do governo e ao instalar três CPIs na semana passada para reduzir o espaço da oposição e de eventuais aliados descontentes. Como só podem funcionar cinco CPIs ao mesmo tempo, e ainda há várias outras propostas na fila, o governo conta com a ação de Marco Maia para barrar uma tentativa desse tipo.

A ministra das Relações Institucionais, Ideli Salvatti, e até o vice-presidente Michel Temer têm atuado para jogar "baldes de água fria", segundo expressão corrente no Planalto, para aliviar as tensões nas bancadas de partidos aliados. Os presidentes do PT, Rui Falcão, e do PMDB, senador Valdir Raupp (RO), também começaram a atuar para restringir a resolução das pendências nos palanques municipais no nível partidário. Ambos estão escalados pelas cúpulas partidárias para auxiliar na estratégia de blindagem da presidente Dilma Rousseff.

Afinada com seus coordenadores políticos, e com seu vice-presidente, Dilma segue mais voltada para pensar as questões mundiais, acompanhar a evolução da crise financeira global nos Estados Unidos e na Europa e na discussão interna sobre eventuais medidas para manter em alta o crescimento econômico e frear as ameaças inflacionárias. A presidente tem reiterado a interlocutores próximos que não entrará em "discussões político-partidárias" e manterá sua atenção fixada em questões econômicas. E o mesmo calendário encurtado do Congresso que exaspera os políticos também preocupa o governo, já que reduz a margem de manobra no caso de ser necessária uma reação rápida contra o agravamento da crise no exterior. Um "novo evento", como a quebra do banco americano Lehman Brother, que desatou a crise nos Estados Unidos em 2008, exigiria uma ampla mobilização do Congresso. Contrariado com o governo ou não.