Título: Companhias recompram ações em queda
Autor: Adachi, Vanessa e Mandl, Carolina
Fonte: Valor Econômico, 16/06/2006, Empresas, p. B2

A forte queda do preço das ações na Bolsa de Valores de São Paulo desde o fim de maio está estimulando empresas a lançar programas de recompra de seus papéis. Só nesta semana, o site de comércio eletrônico Submarino, a processadora de cartões CSU Cardsystem e a American BankNote, que confecciona cartões e documentos, lançaram os seus. E outras estariam por vir. Em comum, essas empresas têm o fato de serem novatas na bolsa.

Muitas vezes, as companhias aproveitam a sobra de caixa para investir no seu próprio negócio, comprando as ações que consideram estar baratas. Mas há outra utilidade para esse tipo de operação. "Os programas de recompra atuais têm sido usados mais para sinalizar ao mercado confiança na empresa", diz José Olympio Pereira, chefe de banco de investimento do Credit Suisse.

O Submarino aprovou uma recompra de até 10% de suas ações, que pode ser executado ao longo dos próximos 365 dias. A preços atuais, o programa é de cerca de R$ 180 milhões. Os executivos da empresa não estavam disponíveis para detalhar os planos. Em relatório da área de análise, o Credit Suisse, que foi o responsável pela oferta de ações do site, elogia o programa e diz que o Submarino tem R$ 380 milhões em caixa.

Com o anúncio da medida, as ações do site recuperaram-se levemente. Saíram de R$ 35,30 na terça-feira (data do comunicado) para R$ 38,90 na quarta-feira.

Nem sempre a empresa atinge o objetivo ao aprovar um programa desses. No caso da CSU, o anúncio não conteve o movimento de baixa do preço das ações, que estavam em R$ 11,55 na véspera (12 de junho) e fecharam em R$ 10,42 na quarta-feira. A operação pode chegar a até 5,2% das ações em circulação. A empresa desembarcou na bolsa em 28 de abril custando R$ 18 por ação. De acordo com Ricardo Leite, diretor de relações com investidores, a medida é simbólica. "É um sinal da companhia para o mercado de que a ação está sendo negociada a um preço abaixo do seu valor real, devido à atual conjuntura mundial do mercado de capitais."

Outro caso em que a notícia da recompra não surtiu o efeito esperado foi o da construtora Rossi. A empresa lançou o seu programa em 1º de junho, quando os papéis estavam a R$ 21. No fechamento da quarta-feira, eles haviam caído para R$ 15,5, com desvalorização de 26%. Por conta disso, a companhia optou por não comprar efetivamente os papéis até o momento. "As forças contrárias são maiores, não vou queimar o caixa da empresa", diz Sérgio Rossi, diretor financeiro da construtora.

Quem tem mais tradição no mercado acionário sabe bem que em momentos como esse não adianta querer contrariar a tendência. O Bradesco, maior banco privado do país, tem como prática manter abertos programas de recompra de ações. O último foi anunciado em maio. "Nosso objetivo é, em dados momentos, poder mostrar aos investidores que acreditamos no papel e que achamos que as cotações não estão refletindo seu real valor", diz Milton Vargas, vice-presidente executivo do banco.

Nos últimos 45 dias, as ações preferenciais da instituição saíram de um patamar ao redor de R$ 80 para cerca de R$ 60. Apesar da queda, o Bradesco não tem efetivamente recomprado os papéis. "Entendemos que o movimento atual é estrutural e não está relacionado apenas ao banco, portanto, o mercado tem que se ajustar", diz Vargas.