Título: Roots planeja usar bagaço de cana para embalagens
Autor: Gómez, Natalia e Scaramuzzo, Mônica
Fonte: Valor Econômico, 13/04/2006, Empresas, p. B9

A empresa chinesa Roots Biopack, com sede Hong Kong, planeja investir cerca de US$ 4 milhões no Brasil em uma fábrica de embalagens de papelão feitos a partir do bagaço de cana-de-açúcar. Em entrevista exclusiva ao Valor, o presidente da empresa, Gerald Lau, disse que representantes da companhia chegam em julho ao Brasil em busca de fornecedores e parceiros locais.

Além de ser uma matéria-prima até 50% mais barata, por conta da abundância de bagaço no Brasil, a empresa está aproveitando a crescente preocupação de alguns países em relação ao meio ambiente para expandir seus negócios, uma vez que esse tipo de embalagem é biodegradável. Segundo Lau, o material produzido pela Roots leva até seis meses para se decompor depois de utilizado. "Em dois anos, o mercado de embalagens vai passar por uma grande mudança no aspecto ambiental", afirmou.

Este será o primeiro investimento da companhia fora do seu país de origem, mas a empresa pretende construir unidades semelhantes no México, Malásia e Indonésia, segundo Lau. Toda a produção da companhia é voltada para exportação. Na China, a empresa tem uma fábrica com capacidade de produção de até 2 mil toneladas de embalagens por mês.

Mas a companhia já está investindo US$ 150 milhões em uma nova unidade naquele país para produzir 200 mil toneladas mensais. A nova fábrica deverá entrar em operação em 2009, em uma área de 1,5 milhão de metros quadrados e aproximadamente 5 mil funcionários.

A empresa começou a investir na tecnologia das embalagens a partir do bagaço, em 1995, ano de sua fundação. As exportações começaram dois anos depois, segundo o executivo. No Brasil, a produção de embalagens a partir do bagaço de cana começou a ser utilizada na década de 50, mas não em larga escala, lembrou Francides Gomes, professor da Escola Superior de Agricultura "Luiz de Queiroz" (Esalq), da Universidade de São Paulo (USP). "Com a cana-de-açúcar novamente em evidência, por conta do álcool, o bagaço volta a ser lembrado novamente como embalagem", disse.

"Temos indústrias que já utilizam este tipo de embalagem [a partir do bagaço] no Brasil", afirmou Carlos Eduardo Vaz Rossel, pesquisador do Núcleo de Planejamento Energético da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas). "O bagaço é mais apropriado para produzir papelão ondulado, capaz de absorver impactos", disse o pesquisador.

A produção de papelão ondulado no Brasil foi de 2,157 milhões de toneladas, segundo dados da Associação Brasileira de Celulose e Papel (Bracelpa).

No Brasil, a empresa PHB, com sede em Serrana (SP), também planeja investir US$ 50 milhões em uma fábrica para transformar açúcar em plástico e embalagens para alimentos. A nova fábrica entrará em operação a partir de 2008 e toda sua produção será voltada para o exterior.

O papelão a partir do bagaço pode ser utilizado para embalar frutas, carnes, produtos de fast food e suportes para calçados. A Roots Biopack tem a fabricante de tênis Mizuno como cliente e também é fornecedora do McDonald's na Ásia e da rede Carrefour na Europa.

Segundo Rossel, os baixos custos de produção a partir do bagaço são justificados pela abundância do matéria-prima no mercado. Boa parte das usinas de açúcar e álcool do país aproveita o bagaço para gerar energia.

Em outra frente, a empresa chinesa também está desenvolvendo um filme plástico biodegradável, à base de petróleo, para ser usado junto com a embalagem a partir do bagaço. O lançamento deste novo produto será feito até o final deste ano, após cinco anos de pesquisa e investimentos de alguns milhões de dólares, segundo ele.