Título: BNDES aposta em TJLP menor para reverter fraco desempenho
Autor: Durão, Vera Saavedra
Fonte: Valor Econômico, 20/06/2006, Brasil, p. A3

O BNDES completa hoje 54 anos de apoio ao investimento no país. Mas, sua direção está preocupada em reverter a pouca demanda por recursos da instituição, concretizada no ritmo fraco dos seus desembolsos, que há quatro anos não conseguem acompanhar e fazer cumprir o orçamento disponível para tocar projetos. Este ano, o banco dispõe de R$ 60 bilhões, mas já trabalha com uma expectativa de liberar R$ 50 a R$ 52 bilhões. Nos cinco primeiros meses do ano, desembolsou R$ 13,6 bilhões, valor 10% abaixo do liberado no mesmo período de 2005.

Deste total, mais da metade, ou R$ 7,4 bilhões, foram destinados ao financiamento de ferrovias, aeronaves da Embraer, ônibus e caminhões. A indústria levou R$ 6 bilhões e a infra-estrutura, R$ 3 bilhões. No seu portfólio estão na fila projetos aprovados e enquadrados que somam R$ 47 bilhões. A expectativa do banco é reverter esta tendência no segundo semestre, ancorado em um custo do dinheiro de longo prazo mais competitivo e atraente para os investidores, a partir de uma política oficial de redução forte da TJLP.

Na semana que vem, o Conselho Monetário Nacional (CMN), presidido pelo ministro da Fazenda, Guido Mantega (que como presidente do banco sempre defendeu a redução da taxa de juro do BNDES), vota uma nova taxa para vigorar no terceiro trimestre do ano. Hoje, a taxa está em 8,15%. As expectativas de líderes empresariais e de fontes do banco é que ela caia para o patamar de 7%.

Paulo Godoy, presidente da Associação Brasileira da Indústria de Base (Abdib) e Robson Andrade, presidente da Federação das Indústrias de Minas Gerais (Fiemg), baseados em cálculos do comportamento da inflação e do risco Brasil até agora (IPCA de 4,5% a 4,2% e risco Brasil entre 274 e 260 pontos), consideram viável uma taxa já agora na casa dos 7,4% a 7%. O BNDES, conservador, aposta numa queda de 0,50 ponto percentual, igual a da Selic. Se isto acontecer, a TJLP seria a mais baixa desde que foi criada em janeiro de 1995 (quando era de 26%).

A nova TJLP, somada ao spread básico do banco de 2%, baixaria o custo do dinheiro para financiamentos diretos a grandes empresas para 9,65%, no máximo - hoje estão em 10,15% (TJLP de 8,15%). E os indiretos, cairiam para 11% a 12% ao ano, contra atuais 13% a 14%.

Com este juro baixo, o banco acha viável recomeçar a atrair mais tomadores, já que a forte liquidez internacional tem levado as grandes empresas a trocarem o financiamento do BNDES por captações externas, com juro muito mais baixo, de até 4% ao ano em muitos casos (libor mais 0,3%). Com a recente turbulência externa e ameaças de depreciação cambial por conta do cenário de alta dos juros americanos, o BNDES pode ser mais procurado por empresários locais, especialmente empresas médias, já que seu financiamento não tem, na maioria dos casos, risco cambial, avalia Andrade, da Fiemg.

O empresário atribui o fraco desembolso do banco a uma "esfriada" nos investimentos por conta do câmbio. "A taxa cambial é hoje um desincentivo às empresas que têm no mercado internacional a base de sua estratégia", disse ele. O presidente da Fiemg trabalha com uma TJLP de 6,5% até o final do ano, confiante no ministro Mantega, que "sempre defendeu, na presidência do banco, a redução da TJLP".

Godoy, da Abdib, vê na política de redução permanente da TJLP um estímulo à adesão e à concretização de muitos projetos e consultas que estão sendo feitas ao BNDES. "O banco está trabalhando para isto. Já reduziu spreads, que conjugados com a redução do juro de longo prazo viabiliza o caminho para termos uma indústria nacional mais competitiva e adotou o project finance para infra-estrutura. Tudo isso é bom, mas um dos fatores de desequilíbrio nos investimentos é o custo do capital".

Ele destaca que o crédito tem sido um fator permanente de desequilíbrio da competitividade do que é produzido no país. "O BNDES responde por 6% a 6,3% de todo o crédito que circula no mercado doméstico", disse Godoy.