Título: Países vão construir linha de transmissão de energia no Sul
Autor: Landim, Raquel
Fonte: Valor Econômico, 06/07/2006, Brasil, p. A7

Brasil e Uruguai anunciaram a construção, a partir de 2007, de uma linha de transmissão de energia elétrica com capacidade de transportar mil megawatts (MW) entre os dois países, em projeto orçado em US$ 150 milhões. O investimento será feito pelo governo uruguaio, que buscará parcerias com o setor privado para estender a linha entre San Carlos, no Uruguai, e Candiota, no Rio Grande do Sul, em trajeto de 400 quilômetros.

Construída em 500 quilovolts de tensão, a linha permitirá que o Brasil exporte ou importe energia do Uruguai. Técnicos dos dois países vão concluir os estudos sobre o projeto, de acordo com determinação de memorando de entendimento assinado, ontem, no Rio, pelos ministros de Minas e Energia do Brasil, Silas Rondeau, e de Indústria, Energia e Mineração do Uruguai, Jorge Lepra. O documento tem o objetivo de desenvolver a integração energética entre os dois países.

"Estamos materializando compromissos assumidos no Mercosul", disse Rondeau. Ele informou que na quarta-feira um grupo de trabalho se reunirá em Montevidéu para dar andamento ao projeto do linhão. Em 60 dias, o grupo apresentará uma conclusão e será definido um cronograma para os trabalhos.

Lepra acrescentou que o governo uruguaio pensa lançar licitação internacional para realizar o projeto, mas adiantou que a estatal de energia elétrica uruguaia, a UTE, deverá construir sozinha as conversoras, necessárias para converter a freqüência da energia elétrica na passagem pela fronteira. No Brasil, a freqüência é de 60 hertz e no Uruguai, de 50 hertz. O ministro uruguaio previu que a linha de transmissão poderá entrar em operação 24 meses após o início das obras.

O trecho brasileiro do linhão, com cerca de 60 quilômetros, poderá ser construído pela gaúcha CEEE, disse Rondeau. Ele afirmou que a linha se estenderá até Candiota porque ali opera um pólo de geração térmica (à base de carvão). Brasil e Uruguai já têm em operação sistema de interligação energética, via Santana do Livramento, no Brasil, e Rivera, no Uruguai, com capacidade de transportar 70 MW.

No encontro de ontem entre autoridades dos dois países também ficou acertado que a Petrobras trabalhará com a Ancap, estatal uruguaia do petróleo, para avaliar ações na área de exploração e produção off shore de gás e óleo no Uruguai.

A Petrobras também poderá vir a participar da ampliação e conversão da refinaria de La Teja, da Ancap, para processamento de óleo pesado. No Uruguai, a Petrobras participa da distribuição de gás natural e adquiriu, recentemente, rede de 89 postos de distribuição de combustíveis que pertencia à Shell.

"Discutimos projetos para ampliar a presença da Petrobras no Uruguai como também a parceria com a Ancap no desenvolvimento do mercado integrado de energia naquele país, incluindo exploração e produção, distribuição, refino e gás natural", disse José Sérgio Gabrielli, presidente da Petrobras.

Segundo ele, a Petrobras tem interesse de levar óleo Marlim (pesado) para ser processado na refinaria da Ancap com os derivados sendo vendidos nos mercados do Uruguai e Argentina. Daniel Martinez, presidente da Ancap, disse que a ampliação da refinaria de La Teja vem sendo discutida com a PDVSA, a estatal venezuelana do petróleo, e que a Petrobras poderá incorporar-se ao projeto.

Martinez estimou que os investimentos na refinaria, que tem capacidade para processar 50 mil barris de petróleo por dia, podem situar-se entre US$ 400 milhões e US$ 500 milhões. Ele disse que foram encontrados indícios de gás livre (metano) na costa uruguaia em estudos feitos para solicitar às Nações Unidas a extensão do mar territorial uruguaio. São informações preliminares que não dão certeza sobre a possibilidade de achar reservas economicamente viáveis.

O Uruguai importa 100% do petróleo que consome e, em 2005, gastou US$ 900 milhões com compras da commodity. Cerca de 60% do petróleo é importado da Venezuela. Martinez disse que a Ancap não pode oferecer participação em seu capital à Petrobras por uma restrição legal, mas tem condições de fazer parcerias com a estatal brasileira em áreas de negócios.