Título: Candidato do PSL ao Planalto tem trajetória marcada por polêmicas
Autor: Emílio, Paulo
Fonte: Valor Econômico, 24/07/2006, Política, p. A6

Candidato pelo PSL à Presidência, o empresário e dirigente de futebol Luciano Bivar deverá ter uma das campanhas mais caras da eleição e também uma das mais polêmicas. Com a bandeira do imposto único e outras idéias controvertidas, como a construção de quartéis em favelas e a pena de morte, Bivar defende seu programa como "algo que é discutido rotineiramente pela população, que não tem poder para mudar o atual estado de coisas, mas que agora passa a ter uma chance de fazer isso".

Com propostas consideradas simples por ele - populistas e retrógradas por seus adversários -, Bivar orçou a campanha em R$ 60 milhões. Os recursos, segundo o candidato, virão da própria população, "cansada da mão pesada dos tributos federais", quando suas idéias forem se tornando conhecidas. Para isso, ele aposta nos debates de televisão e no horário gratuito. O PSL, que elegeu apenas um deputado federal e nove estaduais na eleição passada, terá mais tempo na TV do que o P-SOL, da senadora Heloísa Helena.

Candidato por um partido pequeno e praticamente desconhecido, políticos de Pernambuco - base de Bivar - apressaram-se em dizer que o PSL será usado como "laranja" para atacar o governo federal. O cientista político da Universidade Federal de Pernambuco Michel Zaidan acredita na hipótese. "Isso é comum entre os pequenos partidos, as legendas de aluguel. O PSL já fez isso na eleição de Jaboatão dos Guararapes, quando Bivar era candidato a vice-prefeito em 2000". Na ocasião, as baterias foram direcionadas contra o candidato do PT, Paulo Santiago.

A chapa de Bivar venceu, mas envolveu o então deputado federal em uma série de polêmicas. A queda-de-braço começou meses antes do pleito, quando o prefeito Newton Carneiro (PSDC) foi afastado e Fernando Rodovalho assumiu. O governador Jarbas Vasconcelos (PMDB) apoiava um candidato da aliança PMDB/PSDB/PFL, sutentáculo de suas duas gestões consecutivas à frente do Estado. Com o resultado, a relação entre ambos ficou estremecida. Além de brigar com o governador, desentendeu-se também com Rodovalho. Bivar, então, abriu mão da vice-prefeitura e voltou à Câmara, e o prefeito exonerou todos os funcionários que ocupavam cargos de confiança ligados ao deputado.

Em setembro de 2002, a Polícia Federal deflagrou a Operação Vassourinha. As investigações apontaram para um esquema de fraudes em licitações, escutas telefônicas clandestinas e venda ilegal de cigarros, entre outros crimes. Dezesseis pessoas foram indiciadas, entre elas Bivar e Armando Feitosa Lima, ex-tesoureiro de sua campanha e presidente da Empresa de Trânsito e Transportes de Jaboatão. "Foi perseguição política. Tive meu nome indevidamente incluído no processo em função do vazamento de informações por parte dos delegados que participavam da investigação. Tanto que a Justiça já reconheceu que não tive nada a ver com o caso. O fato de eu ser amigo do Feitosa não diz nada", defende-se o candidato.

Estes não foram os únicos problemas que envolveram o candidato. Ainda como deputado, em 2002, um caso investigado pela Procuradoria da República em Pernambuco resultou em um calhamaço de 5 mil páginas produzidas pela fiscalização do Banco Central, com suspeitas de lavagem de dinheiro em operações fraudulentas que envolviam diversas seguradoras e operadoras de turismo, no total de R$ 200 milhões.

Nas contas investigadas apareciam cheques da Sasse, seguradora da Caixa Econômica Federal, o que levantou a suspeita de desvio de verbas destinados ao pagamento de indenizações em sinistros de imóveis. Uma das seguradoras de Bivar era responsável pela vistoria, avaliação de danos e reparos em imóveis segurados pela Sasse. A Brasitur, também de Bivar, aparecia como beneficiária de recursos movimentados pelo esquema. Até nas contas do Sport Clube do Recife - maior clube do Estado, presidido por Bivar - apareceram cheques totalizando R$ 1 milhão. "Nada foi comprovado. Tanto que fui excluído do processo movido pela Polícia Federal", diz.

Apesar dos escândalos, Bivar afirma que sua candidatura foi um pedido do PSL. "Com o término de meu mandato, não pensava mais em disputar eleições. Isso porque fiz projetos que foram arquivados, discursos que não foram ouvidos. Desisti do Legislativo. Agora, correligionários me convenceram a voltar". Sua maior bandeira é o imposto único, com alíquota de 3,4% sobre movimentações financeiras. "A Incofidência Mineira aconteceu porque a coroa portuguesa recolhia um quinto da riqueza produzida aqui. Hoje, a coroa palaciana recolhe dois quintos e ninguém vai para a forca".

O professor Zaidan observa que a previsão de gastos na campanha do PSL é absurda. "Não há um programa partidário consistente que justifique isso. É um candidao independente que não pode ser levado a sério. Uma hipótese é que ele represente um lobby específico, no caso as seguradoras, inclusive as de saúde, ramo no qual é um grande empresário. A candidatura não possui uma fisionomia clara, podendo estar ligada à 'bancada da bola', já que Bivar também é 'cartola' de futebol, ou com interesses ligados ao jogo. Com certeza, são interesses corporativos".

A mesma opinião é compartilhada pelos adversários de Bivar, que questionam como um candidato que não tem bases políticas fortes nem mesmo em seu Estado possa ter uma expectativa de gastos tão alta. Bivar alega que seu nome ficou vinculado à "bancada da bola" por ele presidir do Sport e defender o direito dos clubes ao passe dos jogadores - outra de suas propostas de governo. Enquanto deputado, era visto freqüentemente em companhia de Eurico Miranda, presidente do Vasco e também ex-parlamentar. Outra companhia era o deputado Pedro Corrêa (PP-PE), cassado por envolvimento no escândalo do mensalão.

Sobre a sua declaração de bens, a mais alta entre os candidatos a presidente (R$ 8,7 milhões), ele é taxativo: "Construí meu patrimônio com muito trabalho. Sou empresário". Advogado, Bivar exerceu a profissão por apenas um ano. Depois, ingressou na Delphos, onde trabalhou por 20 anos. Com a experiência adquirida no ramo de seguros, comprou ações da Excelsior, da qual hoje é presidente. Em sua declaração de bens também constam vários imóveis e cotas em fundos de investimentos estrangeiros.