Título: Brasil negocia a venda de genética zebuína à Índia
Autor: Zanatta, Mauro
Fonte: Valor Econômico, 25/07/2006, Agronegócios, p. B11

"Vamos mostrar a competência brasileira e vender do embrião até o manejo do gado", afirma Quirós, da Apex-Brasil Cento e vinte anos depois de importar seis mil cabeças de gado zebu da Índia, o Brasil se prepara para trilhar o caminho inverso e negociar com os indianos a venda de material genético e de outros serviços para quatro das nove raças da espécie zebuína criadas por aqui.

Em associação com a Agência de Promoção de Exportações (Apex-Brasil), os principais criadores de gado zebu do país ampliarão as negociações para vender o pacote tecnológico do "boi verde" nos principais mercados mundiais, inclusive no berço da espécie zebuína. A Apex- Brasil assina hoje, em Uberaba (MG), um convênio de R$ 4,1 milhões para financiar ações de promoção e marketing de produtos e serviços para o gado zebu, como sêmen, embriões, animais vivos, produtos veterinários, suplementos animais, sementes de pastagens, equipamentos agrícolas e melhoramento genético.

O projeto Brazilian Cattle Genetics inclui as empresas ABS Pecplan, Agroexport, Alta Genetics, Cenatte, Coimma, além de criadores das raças zebuínas sindi, gir leiteiro, tabapuã e indubrasil filiadas à Associação Brasileira de Criadores de Zebu (ABCZ). Estima-se que podem ser vendidos US$ 28 milhões em produtos e serviços até 2008. No ano passado, foram exportados US$ 20 milhões.

As raças zebuínas são 80% do rebanho nacional, estimado em 180 milhões de cabeças e considerada a maior criação comercial do mundo - a Índia, dona do maior rebanho mundial, não consome carne bovina. "O mundo tropical está buscando cada vez mais o gado zebu. São países de clima quente e gado criado a pasto. O zebu é mais adaptado a esse sistema, mais econômico e viável do que as raças européias", diz Gerson Simão, gerente de Relações Internacionais da ABCZ.

O interesse é explicado pelo grande mercado interno da Índia. O país insemina 20 milhões de vacas por ano para uso leiteiro. Em 2005, o Brasil produziu oito milhões de doses. "Mas eles trabalham com raças holandesas e o zebu deles não tem melhoramento genético", afirma Simão. No fim de agosto, a ABCZ inicia a prospecção do mercado indiano durante a principal feira asiática do setor, que ocorrerá em Nova Délhi. "Vamos mostrar a competência brasileira e vender do embrião até o manejo do gado", afirma Juan Quirós, presidente da Apex-Brasil.

O projeto já vende para Colômbia, Bolívia, Paraguai, Equador, Venezuela, Angola, Costa do Marfim, Moçambique e Senegal. Mas quer avançar nos Estados Unidos, Austrália, África do Sul e países da América Central, além da Índia e Malásia. "Não queremos criar dependência tecnológica, mas dotar esses países de um mínimo de estrutura que tenham o Brasil como referência na hora da atualização", diz Simão. "A genética é só a ponta do iceberg para transferência de tecnologia, treinamento de mão-de-obra, entre outros".