Título: Cessão de terreno a Lula leva PSDB a obstruir pauta
Autor: Cunto,Raphael Di
Fonte: Valor Econômico, 04/04/2012, Política, p. A11

Apesar de fazer parte da base aliada do prefeito, o líder do PSDB na Câmara de São Paulo, o vereador Floriano Pesaro, ameaçou ontem obstruir as votações caso fosse votado o projeto de lei que autoriza a concessão de dois terrenos municipais para o instituto do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

"Não sei porque a pressa para votar o projeto do Instituto Lula em congresso de comissões. A urgência desse projeto é zero", reclamou o tucano, na reunião para definir a pauta de votações. "Quando questionamos o Poder Executivo na CCJ sobre aspectos do projeto que não estão claros, ficou o compromisso de quais as informações seriam dadas nas comissões de mérito", afirmou.

O PSDB votou contra a proposta na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) e queria que o projeto passasse pelas comissões temáticas. Os vereadores da base do governo, porém, queriam que o texto fosse direto para o chamado congresso de comissões, quando os representantes dos partidos se reúnem para dar todos os pareceres de uma vez. "Isso pode atrapalhar o andamento dos demais projetos", ameaçou Pesaro.

O presidente da Câmara, José Police Neto (PSD), rebateu as críticas do aliado: "O projeto foi apresentado em 1º de fevereiro. Já tivemos outros aprovados em nove dias nesta Casa. Não cabe aqui falar em aprovar a toque de caixa."

Para não ter dificuldades em votar outras matérias às vésperas do feriado de Páscoa - a Câmara precisava aprovar rápido o reajuste para seus funcionários e do Tribunal de Contas do Município (TCM), ou poderia ficar impedida de dar o aumento devido à legislação eleitoral -, os vereadores concordaram em votar o projeto do instituto apenas no congresso de comissões, mas sem ir ao plenário. A base do prefeito aceitou ainda realizar audiência pública sobre o tema na próxima semana.

A proposta polêmica cede duas áreas de 4,4 mil metros quadrados para o ex-presidente construir um museu sobre as lutas democráticas na Cracolândia, região do centro da capital paulista conhecida pela concentração de usuários de crack. A prefeitura não forneceu o valor dos terrenos, que são avaliados por corretores em cerca de R$ 20 milhões.

Embora a ideia de construir o museu fosse discutida desde 2011, o projeto foi entregue à Câmara em plena articulação do prefeito Gilberto Kassab (PSD) para apoiar o candidato do PT à prefeitura, o ex-ministro da Educação Fernando Haddad. A aliança só não ocorreu devido à candidatura do ex-governador José Serra (PSDB), de quem Kassab foi vice-prefeito e a quem tinha o compromisso de apoiar.