Título: Miniprestação ajuda lojas de roupa a vender mais
Autor: Facchini, Claudia e Bueno, Sérgio
Fonte: Valor Econômico, 08/08/2006, Empresas, p. B1

O consumidor de baixa renda conta com um novo aliado: as miniprestações. Nas lojas, já é possível pagar parcelas de R$ 10 por mês ou até menos. Com o forte aumento na oferta de crédito, as varejistas passaram a dividir em várias vezes o pagamento de outros itens, como roupas e sapatos. Esses produtos têm um valor unitário inferior ao de uma geladeira ou de uma TV, bens que são adquiridos, em geral, em longas prestações.

As miniprestações deram um impulso principalmente às lojas de vestuário, que deflagraram a partir de 2005 uma guerra nos cartões de crédito "private label" (marca própria). Depois de começar a vender parcelamento em até oito vezes com juros - que chegam a custar até mais de 5% ao mês - as redes passaram a oferecer também uma carência de 60 dias.

As varejistas com ações em bolsa - Riachuelo, Renner e a gaúcha Grazziotin - não têm do que reclamar. As três venderam mais, muito embora o inverno mais quente e a Copa do Mundo, que afastou consumidores das lojas, tenham atrapalhado os resultados em junho.

Na semana passada, a Riachuelo informou que suas vendas cresceram 10% no segundo trimestre, para R$ 343,6 milhões. Em junho, em particular, o desempenho foi mais modesto - as vendas aumentaram 0,7% em relação a igual mês de 2005. O analista do Credit Suisse, Tufic Salem, prevê que a Riachuelo volte a crescer entre 8 e 10% em julho, quando se espera que o tráfego nas lojas volte ao normal.

Salem estima que a Renner também registre expansão de dois dígitos nas vendas em julho, entre 12% e 15%, graças ao crediário. A Renner vinha registrando taxas de crescimento ainda maiores, de 20%. A rede gaúcha teve de antecipar sua liquidação de inverno.

O crédito continua sendo a principal arma das grandes redes de vestuário. Além de ganhar com a cobrança de juros, elas também conseguem tirar clientes das pequenas lojas, que não têm fôlego financeiro para oferecer prazos mais longos de pagamento.

A Riachuelo atingiu a marca de 11,1 milhões de cartões emitidos, que já respondem por 75,3% da sua receita. As vendas parceladas com juros (em até oito vezes) representaram 38% da receita no segundo trimestre. Em 2005, essa fatia era de 31,4%.

A Grazziotin, rede popular comi 196 lojas espalhadas pelo três Estados do Sul, estendeu os prazos de pagamento de cinco para sete vezes. O vice-presidente Gilson Grazziotin diz que no início do ano a rede adotou a modalidade de primeiro pagamento até 60 dias após a compra e passou o oferecer um mix de produtos mais baratos. Com isso, aumentou em 16,9% a receita líquida consolidada no período de abril a junho em relação a igual intervalo de 2005, para R$ 38,6 milhões.

Nas lojas Grazziotin, que respondem por 30% das vendas da rede, o tíquete médio recuou de R$ 113, em 2005, para R$ 88. A bandeira trabalha com vestuário, calçados, perfumaria e produtos de cama, mesa e banho para as classes B e C. Na rede Por Menos, que gera 42% dos negócios do grupo e que está direcionada às classes C e D, o valor médio das vendas manteve-se estável em R$ 83.

O posicionamento mais agressivo, porém, custou alguns pontos a menos na margem bruta do segundo trimestre, que ficou em 47,4%, ante 50,4% no mesmo período de 2005. No primeiro semestre o grupo abriu sete novas lojas e para o segundo estão programadas outras 13 (sendo dez da Por Menos), todas na região Sul. Além das bandeiras Grazziotin e Por Menos, o grupo opera com as marcas Franco Giorgi (moda masculina), Arrazzo (bazar) e Tottal (materiais de construção e decoração).