Título: Planalto teme radicalização de ataques
Autor: Costa, Raymundo e Lyra, Paulo de Tarso
Fonte: Valor Econômico, 09/08/2006, Política, p. A7

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva acredita que a oposição vai radicalizar o discurso de campanha, diante da queda do candidato tucano em duas pesquisas divulgadas ontem. O Planalto já esperava pela ampliação da vantagem de Lula sobre o candidato do PSDB, mas não esperava por uma queda tão acentuada de Alckmin. A expectativa do governo volta-se agora para o início do horário eleitoral gratuito, na terça-feira. Teme que os esperados ataques da coligação PSDB-PFL resvalem para o que o próprio Lula chamou de "baixaria", em conversa com integrantes do conselho de campanha.

Os resultados das pesquisas, de qualquer forma, apontam para o acerto de uma estratégia desenvolvida pelo conselho político: reforçar a campanha de Lula na região Sudeste, não só com visitas do candidato, mas também por ações de aliados. Em Minas Gerais, por exemplo, a campanha de Lula considerou um erro o afastamento de Itamar Franco, o que deixou o governador Aécio Neves "solto" para ser pressionado a se empenhar pela campanha de Alckmin.

Imediatamente, os "ministros mineiros", como são chamados na campanha, passaram a atuar, na mobilização de cabos eleitorais e prefeitos: Luiz Dulci (Secretaria Geral), Patrus Ananias (Desenvolvimento Social), Walfrido Mares Guia (Turismo), Saraiva Felipe (ex-da Saúde), além de Fernando Pimentel, que não é ministro, mas prefeito da capital, e o vice José Alencar. O fato é que Alckmin caiu também na região Sudeste, onde a campanha de Lula atuava preventivamente para o caso de diminuir a grande vantagem que detém no Nordeste.

O esforço de campanha na região Sudeste será mantido. Na sexta-feira, Lula seguirá para o Rio de Janeiro, onde fará comícios em Nova Iguaçu e na Cinelândia. No sábado, o presidente estará no Nordeste, onde fará campanha em Salvador e Fortaleza. No domingo, Lula estará em São Bernardo do Campo, onde passará o Dia dos Pais junto aos familiares. Está sendo também programado um encontro com prefeitos em Minas Gerais, articulado pelo ministro Walfrido Mares Guia.

Lula dedica o dia de amanhã para preparar-se para a entrevista do "Jornal Nacional", prevista para acontecer na noite desta quinta-feira. Lula será o último dos presidenciáveis a ser entrevistado pelo casal de apresentadores William Bonner e Fátima Bernardes. O governo ficou assustado com a pressão exercida pelos apresentadores ao candidato tucano Geraldo Alckmin, na noite de segunda. "Eles foram implacáveis", reconheceu um assessor próximo de Lula. "Conosco, a expectativa é de que a entrevista seja um tom acima", completou um petista.

Assessores palacianos acreditam que a tendência é que Lula seja pressionado ainda mais do que o candidato tucano. A preparação técnica será dividida em duas fases: as assessoras especiais Miriam Belchior e Clara Ant vão debater com Lula os números do governo, especialmente na área econômica e social. Na visão dos aliados, essa parte não será problema, já que Lula tem demonstrado diversas vezes estar "afiado" nas ações de governo.

O temor é nos questionamentos sobre o lado ético, envolvendo o governo e o PT, começando pelo mensalão, passando pela CPI dos Bingos, quedas de Antonio Palocci e José Dirceu, quebra de sigilo de Francenildo Santos e o mais recente problema - a CPI das Sanguessugas. O coordenador de marketing da campanha, João Santana, vai simular perguntas sobre corrupção e ambos vão estudar as melhores respostas.

Lula ainda assistirá videotapes com as entrevistas de Alckmin, Heloísa Helena (P-SOL, veiculada ontem) e Cristovam Buarque (PDT), que vai ao ar hoje. Lula não viu a entrevista com o tucano mas foi informado do desempenho do candidato do PSDB. Os assessores querem que Lula familiarize-se com o formato do programa e esteja preparado para escapar de eventuais armadilhas. O presidente nacional do PT, Ricardo Berzoini, acredita que o presidente estará preparado: "O papel da imprensa é esse mesmo, pressionar em busca de respostas"