Título: Dilma estabeleceu padrão contra a corrupção, diz Hillary Clinton
Autor: Souza ,Yvna
Fonte: Valor Econômico, 18/04/2012, Brasil, p. A3

A ação do governo de Dilma Rousseff contra a corrupção e pela transparência criam "um padrão global", a ser seguido, disse a secretária de Estado dos Estados Unidos, Hillary Clinton, que terminou ontem sua visita de dois dias ao Brasil. Hillary não chegou a ter uma audiência reservada com Dilma, a quem encontrou recentemente em Washington e Cartagena das Índias, durante encontro da presidente com o presidente dos EUA, Barack Obama. Mas nem por isso deixou de marcar sua visita por elogios ao Brasil e ao governo.

"O compromisso da presidente Dilma com abertura e transparência e sua luta contra a corrupção estão estabelecendo um padrão global", repetiu, à noite, o "twitter" do Departamento de Estado dos EUA, em reforço à mensagem da principal condutora da política externa de Obama. Com Hillary e outras autoridades estrangeiras, Dilma abriu ontem a 1ª Conferência Anual de Alto Nível da Parceria para um Governo Aberto (Open Government Partnership, OGP, em inglês), e elogiou Obama pela iniciativa, lançada em associação com o Brasil.

Para Hillary, no século XXI, a principal divisão entre as sociedades não será entre Norte e Sul, Ocidente e Oriente ou outra categoria, mas entre sociedades "abertas e fechadas". Os países com sociedades abertas vão florescer cada vez mais, previu, criticando os governos que "se escondem do público e desdenham a ideia de abertura e a aspiração de seu povo por maior abertura". "Os países que tentam monopolizar a atividade econômica ou tornam tão difícil aos indivíduos abrir seus próprios negócios terão crescente dificuldade em prosperar", disse a secretária. Ela citou exemplos de boas práticas em países que aderiam às iniciativas da OGP, de divulgação de informações públicas e participação de cidadãos - alguns, no entanto, como Ucrânia e Geórgia, uma das estrelas do evento, ontem, costumam ser criticados por ações antidemocráticas, como a perseguição a oposicionistas e pressão sobre a imprensa.

Ao discursar, Dilma lembrou a independência do Judiciário e do Ministério Publico e citou a Lei de Acesso às Informações Públicas, que exigirá abertura de informação em todos os níveis de governo, a partir de 16 de maio. Para Dilma, transparência é obrigação também dos agentes privados, "cujas condutas afetam diretamente a vida dos cidadãos".

"Permitam-me mencionar o setor financeiro e destacar que, quando não há regulação e monitoramento adequados, os fluxos financeiros internacionais, por exemplo, são passíveis de manipulação, com prejuízo para toda a economia mundial e para as conquistas sociais dos países", afirmou a presidente.

Dilma e Hillary conversaram rapidamente, pouco antes da cerimônia e entre os encontros da presidente com chefes de governo, em visita ao Brasil para o evento. Segundo relato obtidos pelo Valor, as duas trocaram cumprimentos e amabilidades. Hillary teria manifestado satisfação pelo jantar oferecido a ela na véspera pelo ministro de relações Exteriores, Antônio Patriota.

Segundo a embaixada dos EUA, não houve pedido para encontro a sós com Dilma, porque Hillary já teria falado com a presidente nos últimos dias, durante a visita dela a Washington e na Cúpula das Américas, na Colômbia. Fontes do governo haviam informado ao Valor, porém, sobre sondagens do Itamaraty para o possível encontro das duas. Hillary é vista, no Planalto, como a face "dura", mais intervencionista, da política externa do governo Obama, e, politicamente, próxima ao oposicionista PSDB.

Mesmo sem a deferência de uma audiência com a presidente, Hillary esforçou-se para transmitir o interesse americano na crescente importância econômica do Brasil e na aproximação diplomática com o país. Na véspera, além de afirmar que é difícil imaginar que o Brasil não esteja presente no Conselho de Segurança das Nações Unidas em uma futura reforma da organização, ela fez questão de elogiar o "sucesso do Brasil" em garantir "governo responsável, setor privado forte e sociedade civil robusta".