Título: Eletrobrás "acha" seis novas usinas
Autor: Rittner, Daniel
Fonte: Valor Econômico, 04/09/2006, Brasil, p. A3

Com o fantasma de mais um apagão após 2010 assombrando o país, uma boa notícia acaba de chegar ao setor elétrico: a Eletrobrás obteve a confirmação de que seis aproveitamentos hidrelétricos identificados em Mato Grosso são técnica e economicamente viáveis. Com isso, tornam-se futuras usinas em potencial e podem ser acrescentados à carteira de projetos de infra-estrutura estudados pelo governo.

O que mais impressiona nesse caso é a estimativa de energia a ser gerada - juntos, os seis aproveitamentos localizados no Rio Teles Pires, incluindo um trecho do Rio Apiacás, somam 3.697 megawatts (MW) potenciais. A estimativa consta do inventário hidrelétrico dos rios, recém-aprovado pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel). Trata-se da maior homologação feita pelo órgão regulador desde que foram validados os estudos do Rio Madeira (Rondônia), em dezembro de 2002, identificando um potencial de 7.840 MW - superior à metade da energia produzida pela binacional de Itaipu.

Trocando em miúdos, a homologação do potencial hidrelétrico das quedas d'água no Rio Teles Pires equivale à confirmação da descoberta de uma reserva de petróleo ou uma jazida de gás natural pela Petrobras - são apenas fontes diferentes de energia. Ou seja, o que a Eletrobrás recebeu foi a comprovação de que existem 3,7 mil MW disponíveis para exploração. A estatal, que atuou em conjunto com as suas subsidiárias Furnas e Eletronorte, identificou ainda um sétimo aproveitamento no rio. Ganhou o nome de Alta Floresta e tem um potencial de gerar 127 MW, mas foi considerado "técnica e economicamente inviável" pela Aneel.

O estudo de inventário analisa aspectos como a vazão do rio, o ciclo de chuvas e a força das quedas d'água. A fase seguinte é a elaboração de um estudo de viabilidade da obra, em que se medem os efeitos econômicos e sociais do projeto. Nele se baseiam os relatórios com o impacto ambiental das futuras hidrelétricas.

A Empresa de Energia Energética (EPE), estatal criada pelo governo Lula para planejar o desenvolvimento e a expansão do sistema elétrico, já assinou convênio com o Ministério de Minas e Energia para fazer os estudos, que devem custar R$ 70 milhões.

Os técnicos do governo mais otimistas acreditam que pelo menos quatro das seis usinas do Rio Teles Pires estarão prontas para ir a leilão no fim do segundo semestre de 2007. Trata-se de um prognóstico cor-de-rosa, sobretudo quando se leva em conta a dificuldade que o governo tem tido para obter as licenças ambientais do complexo do Rio Madeira e da usina de Belo Monte.

No entanto, o que os técnicos sublinham é a existência de menos obstáculos ambientais e operacionais nos aproveitamentos homologados agora. Primeiro ponto: o estudo de inventário não avançou sobre o trecho do Rio Teles Pires que se aproxima da divisa com o Amazonas, área onde existem reservas indígenas e maiores riquezas em termos de biodiversidade. Segundo: os aproveitamentos estão em regiões em que já ocorreu uma intensa devastação ambiental devido às plantações de soja, intensificadas no início dos anos 90. Terceiro: os novos projetos estão mais próximos dos centros consumidores e assim enfrentam menos gargalos impostos pela insuficiência de linhas de transmissão.

Em tese, essas são vantagens sobre o complexo do Madeira, que explora uma região ainda relativamente virgem. Um ponto a favor dos aproveitamentos no Rio Teles Pires, já apontado no estudo de inventário, é o baixo custo de produção da energia. As estimativas indicam que cada megawatt-hora (MWh) nesses aproveitamentos deverá custar entre US$ 24,63 e US$ 46,84. "Tudo que está abaixo de US$ 50 vale a pena, em princípio", diz um técnico.

Alta Floresta foi descartada por ter um custo superior a US$ 90/MWh, o que inviabiliza o projeto. A Eletrobrás sinalizou que atribuirá prioridade a quatro aproveitamentos: Sinop, Colíder, Teles Pires e Foz do Apiacás. O menor custo foi encontrado na futura usina Teles Pires - US$ 17/MWh. Trata-se do maior projeto: são 1.820 MW de potencial identificado - mais energia do que qualquer hidrelétrica licitada pelo governo desde 1998.