Título: Tesouro e BC ampliam compra de dívida externa e podem afetar dólar
Autor: Ribeiro, Alex
Fonte: Valor Econômico, 05/09/2006, Finanças, p. C2

O Tesouro Nacional e o Banco Central anunciaram que vão ampliar em dois anos o período alvo para a recompra de dívida externa. Na prática, a medida permitirá que sejam feitas intervenções mais pesadas de compra no mercado de câmbio, o que teoricamente pode ajudar a suavizar no curto prazo a tendência de apreciação do real.

Segundo o anúncio conjunto do BC e do Tesouro, a recompra de dívida poderá incluir papéis que vencem até 2012, dois anos acima do período anteriormente anunciado, que ia até 2010. Nesse período, vencem US$ 4,8 bilhões em papéis. Anteriormente, o Tesouro já havia anunciado que poderia comprar até US$ 20 bilhões em títulos com vencimentos até 2010 e em bônus brady.

A contrapartida da ampliação do alvo do programa de recompra de títulos é que, a partir de agora, o BC amplia em US$ 4,8 bilhões seu poder de fogo para intervir no mercado de câmbio. O dinheiro usado para a recompra de dívida externa sai das reservas internacionais. O BC nega a intenção de determinar a cotação do dólar, mas analistas econômicos acham que a autoridade monetária age para pelo menos atenuar a tendência de valorização da moeda no curto prazo.

Pelo balanço mais recente do programa de recompra da dívida externa, que contempla valores acumulados neste ano até o dia 16 de agosto, o Tesouro e o BC adquiriam um total de US$ 13 bilhões. Nesse valor, estão incluídos a recompra de US$ 5,2 bilhões no mercado; o "call" de bradies, no valor de US$ 6,5 bilhões; e a "tender offer", que somou US$ 1,3 bilhão. Nesses números, não estão incluídos a recompra de C-Bond, realizada em 2005, nem o resgate antecipado de dívida contratual, como o débito com o Clube de Paris.

Oficialmente, o programa de recompra de dívida externa tem o objetivo de melhorar o perfil da dívida externa, retirando de circulação os papéis que vencem em prazos mais curtos e também os bônus antigos - que carregam estigma porque foram lançados na renegociação da dívida externa de 1994.

Mas um efeito colateral é gastar um pouco das reservas, que, por conta das intervenções do BC, vem registrando crescimento acelerado desde os fins de 2003 - fato que é alvo de crítica por alguns analistas econômicos.

Pelo dado mais recente, referente a 1º de setembro, as reservas internacionais estavam em US$ 71,576 bilhões. Cresceram quase US$ 5 bilhões desde 1º de agosto, quando se encontrava em US$ 66,819 bilhões.

A principal crítica feita por alguns analistas é que os custos para manter alto volume de reservas são enormes. O governo é obrigado a emitir títulos da dívida interna, que pagam juros mais altos, para esterilizar o excesso de dinheiro em circulação provocado pela compra de dólares; as reservas, que são aplicadas no mercado internacional, são remuneradas com juro mais baixo.

Ao recomprar dívida externa, o governo continua a incorrer num custo, mas ele é menor do que o acúmulo puro e simples de reservas. O governo é obrigado, de qualquer forma, a emitir títulos internamente para enxugar o excesso de dinheiro. Nesse caso, porém, o Tesouro está resgatando dívida externa que paga juros mais altos do que os recebidos pelo BC na aplicação de reservas.