Título: IIF adverte para riscos da falta de coordenação entre os países ricos
Autor: Balthazar, Ricardo
Fonte: Valor Econômico, 11/09/2006, Finanças, p. C2

Os maiores bancos do mundo manifestaram ontem preocupação com a falta de coordenação entre os governos dos países mais avançados para corrigir os desequilíbrios que ameaçam interromper o longo ciclo de crescimento que o mundo atravessa, numa mensagem carregada de tons sombrios sobre as perspectivas para a economia mundial.

A advertência foi apresentada pelo Instituto de Finanças Internacionais (IIF, na sigla em inglês), uma associação formada por grandes bancos globais, numa carta endereçada aos ministros e presidentes de bancos centrais que se encontrarão no fim de semana em Cingapura, para a reunião anual do Fundo Monetário Internacional (FMI).

Assinada pelo diretor-gerente do IIF, Charles Dallara, a carta diz que a desaceleração dos Estados Unidos aumentou as incertezas sobre a economia mundial e tornou mais urgente a necessidade de cooperação entre os governos dos países ricos, ao mesmo tempo em que expressa frustração com os esforços que o FMI vem fazendo nessa direção.

Na avaliação do IIF, fatores como a pressão inflacionária alimentada pelos elevados preços do petróleo e de outras matérias-primas, o desarranjo nas contas externas dos Estados Unidos e a fragilidade da sua situação fiscal "diminuem o espaço de manobra" dos governos, mas ao mesmo tempo "salientam a necessidade de ação decisiva".

Em junho, numa tentativa de alcançar exatamente o tipo de cooperação que os banqueiros desejam, o FMI lançou um processo de "consultas multilaterais" que envolve Estados Unidos, União Européia, Japão, China e Arábia Saudita. Funcionários do FMI conversaram com representantes desses países e agora preparam reuniões com todos os participantes na mesa.

As discussões ainda estão bem no começo e nada de muito prático saiu desses encontros. "Um processo conseqüente e convincente será necessário para demonstrar que essa nova abordagem tem apoio político para implementação e para estabelecer credibilidade nos mercados financeiros", diz a carta do IIF, que defende o envolvimento da Rússia, do Brasil e da Índia nas consultas organizadas pelo FMI.

Os banqueiros acham que um passo importante seria o reconhecimento pelos vários países dos problemas que cada um deveria atacar. Eles sugerem ao Fundo que aponte políticas específicas para corrigir os desequilíbrios. "O processo tomará um tempo considerável, mas uma estratégia convincente poderia ajudar a acertar o caminho tanto para os governos como para os mercados", afirma a carta.

O IIF aponta no documento algumas das medidas que julga necessárias. Os banqueiros defendem cortes em programas sociais do governo americano para arrumar seu orçamento. Sugerem reformas estruturais na Europa e no Japão. E querem que a China administre sua taxa de câmbio com mais flexibilidade, deixando o yuan se valorizar e eliminando incentivos que hoje estimulam suas exportações.

Numa entrevista em que discutiu a carta, Dallara argumentou que a cooperação entre os vários países poderá evitar que uma correção desordenada dos desequilíbrios existentes mergulhe o mundo numa recessão. "Ajustes ocorrerão de qualquer jeito, como efeito da ação dos governos ou por pressão das forças de mercado", disse Dallara.

O IIF elogiou a decisão do FMI de aumentar a influência da China, da Coréia do Sul, do México e da Turquia nas suas decisões, medida que deve ser confirmada em Cingapura e é o passo inicial de uma reforma mais ampla no Fundo. Mas eles sugerem que o FMI só dê outros passos nessa direção se os países beneficiados estiverem "preparados para assumir maior responsabilidade".

Os banqueiros também manifestaram apoio à criação de uma nova linha de crédito do Fundo que poderia ser usada por países emergentes como um seguro contra crises. A discussão dessa idéia, que tem a simpatia do Brasil, ainda está num estágio muito preliminar e dificilmente haverá avanços significativos em Cingapura. "A nova linha poderia injetar confiança e liquidez nos mercados", disse Dallara.