Título: Com ações em queda, Gol cancela oferta pública
Autor: Campassi, Roberta
Fonte: Valor Econômico, 11/09/2006, Empresas, p. B3

A Gol Linhas Aéreas desistiu de realizar a oferta pública que havia sido anunciada em meados de maio e que poderia levantar perto de R$ 900 milhões, com venda de papéis no Brasil e Estados Unidos. Em comunicado enviado à Comissão de Valores Mobiliários (CVM) e à Bovespa na quarta-feira à noite, a empresa não explicou os motivos do cancelamento.

Desde junho, empresas como a Telemar, TIM, Multiplan e Brasil & Movimento também desistiram de realizar ofertas públicas. Todas alegaram que a decisão foi tomada devido à maior volatilidade do mercado. A Gol foi procurada na sexta-feira, mas a assessoria de imprensa da companhia informou que não havia porta-vozes disponíveis para comentar o cancelamento.

A Gol anunciou o registro da oferta pública - que seria a terceira desde 2004 - em 17 de maio, uma semana após as ações da companhia terem atingido preço recorde de R$ 82,8. Seriam colocadas à venda 2,5 milhões de ações primárias e 10 milhões de ações do Fundo de Investimento em Participações (FIP) Asas, pertencente à família Constantino de Oliveira, controladora da Gol. Além disso, a empresa anunciou emissão de debêntures conversíveis em ações no valor de US$ 100 milhões, com vencimento em 2026.

Com base no preço de fechamento das ações da Gol na sexta-feira (R$ 73,03), a oferta global poderia alcançar R$ 913 milhões.

Em maio, as perspectivas quanto ao desempenho das companhias aéreas Gol e TAM eram bastante positivas. Alguns analistas elevaram o preço-alvo dos papéis e as estimativas de resultado ao prever o crescimento da participação de mercado das duas empresas frente ao acirramento da crise da Varig.

Com o anúncio da oferta, o mercado interpretou que a família controladora da Gol estava considerando o preço dos papéis satisfatório, já que mostrava-se disposta a vender quase um terço de sua participação na companhia.

Porém, desde quando alcançaram preço máximo, até a sexta-feira, as ações da aérea caíram 11,2%. Já a Bovespa registrou queda de 12,9% no período, como conseqüência da insegurança dos mercados em relação à inflação e ao juros nos Estados Unidos. Investidores estrangeiros retiraram R$ 5,6 bilhões da bolsa.

"Houve mudanças no cenário desde maio", disse Daniella Marques, da Mercatto Gestão de Recursos. "A preocupação com o futuro da economia americana fez os mercados ficarem muito voláteis."

Há também empresas não-listadas em bolsa que receberam autorização da CVM para abrir o capital há mais de um mês, mas que ainda não ofertaram suas ações, como Odontoprev e Klabin Segall.