Título: Cúpula deve aumentar pressão sobre Alemanha
Autor: Spiegel , Peter
Fonte: Valor Econômico, 21/05/2012, Internacional, p. A11

Líderes europeus estão esquematizando uma série de propostas de combate à crise que no passado foram rejeitadas pela Alemanha. Elas serão apresentadas nesta semana numa reunião de cúpula informal da União Europeia (UE), o que colocará mais pressão sobre a premiê Angela Merkel.

As propostas, que poderiam incluir a autorização para o fundo de resgate de € 500 bilhões recapitalizar diretamente bancos europeus em dificuldade e a emissão conjunta de títulos da zona do euro, já receberam no passado o apoio de alguns líderes, mas acabaram fora da agenda devido às objeções da primeira-ministra alemã.

As discussões ganharam urgência em meio a sinais de estresse em partes do sistema bancário, os quais alguns analistas compararam a uma corrida aos bancos em câmara lenta.

Essa ressurreição é o mais recente indicador de que a eleição de François Hollande na França alterou os termos do debate da crise da zona do euro, dando a defensores de tais medidas - entre os quais José Manuel Barroso, presidente da Comissão Europeia, e Mario Monti, primeiro-ministro italiano - um poderoso novo aliado.

Também reflete a crescente crença entre alguns líderes de que a instabilidade na Grécia obriga a uma revisão dos procedimentos de crise para assegurar que são suficientes para lidar com uma saída grega da zona do euro.

"Se deixarmos a Grécia afundar, a delimitação ["ringfence"] para o resto da zona do euro terá que ser muito mais sólida", disse um político de alto escalão envolvido nas deliberações. Autoridades europeias advertiram que a cúpula de quarta-feira se concentrará em propostas de incentivo ao crescimento, e não em medidas de reação à crise. Mas uma alta autoridade europeia afirmou que a crise grega havia dado origem a discussões "paralelas", particularmente sobre maneiras de fortalecer o setor bancário da Europa.

Autoridades de alto escalão disseram que essas negociações giraram em torno da utilização dos € 500 bilhões do Mecanismo Europeu de Estabilidade diretamente para injetar capital nos bancos, discussões estas que se intensificaram à medida que se aproxima a cúpula. Hollande também disse depois do encontro do G-8 no fim de semana que tinha o apoio de outros líderes para levantar a questão dos títulos da zona do euro.

Outra medida controversa que voltou à agenda pública é a compra ilimitada de títulos soberanos italianos e espanhóis pelo Banco Central Europeu (BCE), uma ideia que tem a oposição da Alemanha, mas que é defendida pelo ministro das Finanças da Polônia em artigo publicado no "Financial Times" de hoje.

"A Europa deve escapar da alternativa diabólica de não ser capaz de manter a Grécia no euro e de não ser capaz de correr o risco de sua saída", escreve Jacek Rostowski. "Precisamos da prontidão do BCE para intervir maciçamente nos mercados de títulos soberanos somente no caso de um país realmente deixar o euro."

Autoridades disseram que, enquanto os títulos da zona do euro continuam controversos, o esquema de resgate dos bancos parecia estar ganhando tração.