Título: Lula dá prioridade à agenda presidencial
Autor: Lyra, Paulo de Tarso
Fonte: Valor Econômico, 12/09/2006, Política, p. A8

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva admitiu ontem, durante reunião da coordenação de campanha no Palácio da Alvorada, a vitória no primeiro turno nas eleições de outubro. Confiante na folgada dianteira nas pesquisas, Lula pediu aos seus assessores que dêem prioridade à agenda de presidente, diminuindo o ritmo dos compromissos como candidato. A avaliação de Lula é que está perdendo muito tempo entre gravações de programas eleitorais e viagens de candidato.

Por coincidência, já será possível cumprir a nova orientação esta semana, quando já estavam agendados muitos compromissos de governo. Estão previstas duas solenidades no Planalto: as sanções da Timemania e de um projeto que trata de segurança alimentar. Hoje, Lula encontra-se com o primeiro-ministro da Índia, Manmohan Singh, e amanhã, participa do Fórum de Diálogo África do Sul, Brasil e Índia (IBAS). Na próxima semana, Lula vai a Nova Iorque, participar da Assembléia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU).

Durante a reunião da coordenação de campanha, ontem, foi discutida a decisão do pleito no dia 1º turno. "Os números que estão chegando a nós dos Estados, seja por meio dos aliados, seja por meio das pesquisas eleitorais, mostram não ser imprudente afirmar a possibilidade de vitória no primeiro turno", declarou o ministro da coordenação política, Tarso Genro.

A estratégia nesta reta final da campanha será priorizar viagens para estados que tenham "significado simbólico". Na prática, os principais colégios eleitorais do país - São Paulo, Minas, Rio, Rio Grande do Sul e Bahia e cidades com grande aglomeração populacional. "Sem descuidar, evidentemente, do Nordeste, onde temos uma votação consolidada de praticamente 80%", calcula o ministro.

A reunião de coordenação analisou também a situação da disputa pelo Senado em vários Estados, e decidiu recomendar à militância de todos os partidos aliados que se empenhe para eleger o candidato a senador do partido do governo que estiver em situação de empate com um adversário. O governo pretende, com esta iniciativa, melhorar a correlação de forças no Senado, hoje amplamente desfavorável aos partidos da aliança lulista.

A referência citada para definir os empates foi uma pesquisa Isto É/Databrain, publicada este fim de semana pela revista Isto É, com dados apurados entre 2 e 4 de setembro, que mostra candidatos governistas ainda em condições de virar o jogo em estados como o Maranhão, por exemplo, e outras enquetes que apontam clima favorável ao candidato da aliança governista no Rio, em Minas e em Santa Catarina.

Outra orientação é não aceitar provocações para não haver erro em declarações de resposta aos adversários. O que não significa deixar sem resposta as críticas feitas pela oposição. Genro defendeu a estratégia da campanha petista no sábado passado de antecipar-se à propaganda eleitoral de Alckmin, que mostraria os buracos na BR 316. O horário eleitoral de Lula classificou os ataques do PSDB de demagogia - antes que a propaganda tucana fosse ao ar. "Foi uma capacidade de antecipação política. Nós temos condições de responder administrativamente as acusações que possam vir a aparecer", explicou o ministro.