Título: Agricultura continua a afetar PIB gaúcho no 2º tri
Autor: Bueno , Sérgio Ruck
Fonte: Valor Econômico, 12/06/2012, Brasil, p. A4

Com a colheita encerrada e os números praticamente fechados, o Rio Grande do Sul começa a calcular com mais precisão o impacto que a estiagem e a quebra da safra de verão 2011/12 terão sobre a economia do Estado. Os primeiros números concretos serão conhecidos no fim do mês, quando a Fundação de Economia e Estatística (FEE) do governo gaúcho divulgar o Índice Trimestral de Atividade Produtiva (ITAP) - indicador que serve de base para o levantamento do Produto Interno Bruto (PIB) local - referente ao período de janeiro a março. Os efeitos, contudo, ainda estão sendo sentidos ao longo do segundo trimestre,

"A agricultura vai puxar (o índice) para baixo", adianta o economista Sérgio Fischer, da FEE. Ele não arrisca um percentual de queda, mas lembra que o setor agroindustrial responde por cerca de 30% da economia gaúcha e que não haverá como recuperar as perdas com a quebra da safra de verão no resto do ano porque 80% do valor da produção agrícola local, correspondente às culturas de soja, arroz, milho e fumo, se concentra no primeiro semestre, quando as plantações foram duramente afetadas pela estiagem.

Em fevereiro, 340 dos 496 municípios do Rio Grande do Sul decretaram situação de emergência por conta da escassez de chuva, que começou em novembro e continua fazendo estragos. O número caiu para 108, mas 645,7 mil pessoas ainda sofrem efeitos negativos da escassez de chuva, incluindo falta de água para a agricultura, para os animais e até para o consumo humano, informa a Defesa Civil do governo estadual. Na semana passada, conforme a Emater-RS, o trigo, a principal lavoura de inverno, estava com apenas 12% da área plantada devido à baixa umidade do solo, ante 25% no mesmo período de 2011.

Para o economista Martinho Lazzari, também da FEE, o quadro deve fazer o PIB gaúcho crescer menos do que o brasileiro em 2012. Segundo ele, em dez dos últimos onze anos a economia do Estado avançou mais do que a média brasileira toda vez que a agropecuária gaúcha teve melhor desempenho do que o PIB local. Quando ocorreu o contrário, o Rio Grande do Sul cresceu menos do que o país como um todo. "Se a tendência se mantiver, tudo leva a crer que o PIB estadual será menor do que o brasileiro", reforça Fischer.

Segundo o último Levantamento Sistemático da Produção Agrícola (LSPA) do IBGE, a produção de soja no Rio Grande do Sul deve despencar 48,4% ante 2010/11, para 6 milhões de toneladas, enquanto a colheita de milho deve cair 44,3%, para 3,2 milhões de toneladas. Se confirmado, será o pior desempenho desde o ciclo 2004/05, quando uma estiagem ainda mais devastadora reduziu a safra de soja para 2,4 milhões de toneladas e a de milho, para 1,5 milhão de toneladas.

O arroz, por ser uma cultura irrigada, terá uma perda menor, de 13,5%, para 7,7 milhões de toneladas, enquanto a produção de fumo cairá de 500 mil para 390 mil toneladas, explica Fischer. O alento, lembra, é que os preços vão mitigar a situação. De acordo com a Emater, os valores médios pagos aos produtores gaúchos cresceram 38,2% no caso do arroz nos últimos 12 meses, para R$ 555,80 a tonelada, e 21,5% na soja, para R$ 899,83. O milho teve queda de 10,6% no período, para R$ 400 a tonelada.

Com a variação dos preços, enquanto a produção acumulada das três culturas caiu 35,6% ante o ano passado, para quase 17 milhões de toneladas, a receita dos produtores com arroz, milho e soja recuou 24,3%, para R$ 11 bilhões, calcula a economista Patrícia Palermo, da Federação do Comércio de Bens e Serviços do Estado (Fecomércio). Ou seja, parte da perda de produção será compensada pela alta das cotações, mas mesmo assim serão R$ 3,5 bilhões a menos circulando no campo.

Para a Federação das Indústrias do Estado (Fiergs), a combinação da subida dos preços com a redução da safra afeta duplamente o setor, com o aumento dos custos de produção de um lado e a queda dos investimentos dos agricultores em itens como máquinas e implementos agrícolas, de outro. Segundo a entidade, a perda potencial para o PIB gaúcho, devido aos impactos diretos e indiretos da quebra da safra sobre a economia, chega a R$ 16,1 bilhões, o equivalente a 5,9% do valor do produto gaúcho em 2011, sendo R$ 11,2 bilhões somente na indústria.

A Fecomércio é um pouco mais otimista. A Pesquisa Mensal do Comércio (PMC) do IBGE, está mais concentrada nas regiões metropolitanas e o crescimento acumulado no varejo do Estado foi de 12,78% no primeiro trimestre deste ano em relação a igual período de 2011. Patrícia avalia que repetir o crescimento de 6,1% registrado em 2011 é difícil, mas acredita que o indicador poderá até ser melhor do que os 5% projetados no início deste ano.

A quebra da safra também preocupa o governo do Estado. Embora o impacto direto sobre as finanças públicas não seja acentuado porque a maior parte da produção agrícola é desonerada, o problema maior é o efeito indireto sobre o desempenho industrial, avalia a Secretaria da Fazenda. Conforme o secretário Odir Tonollier, e redução estimada na receita bruta com ICMS (incluindo os 25% destinados aos municípios) chega a R$ 200 milhões, um valor pequeno diante da arrecadação de R$ 21,2 bilhões prevista originalmente para o acumulado de 2012.

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