Título: Os sem-euro crescem forte, mas não são modelo para a Grécia
Autor: Batista , Henrique Gomes
Fonte: Valor Econômico, 21/06/2012, Economia, p. 38

Viver sem o outrora valorizado euro pode ter sido, no fim das contas, uma vantagem na atual crise. Polônia, Turquia e República Tcheca exibem uma situação econômica de dar inveja aos vizinhos. O crescimento está forte, apesar de certa eurodependência, e deve aumentar a competição dessas economias com o Brasil no fornecimento de produtos e serviços à Europa.

São exemplos bons, mas que, segundo especialistas, não podem servir de espelho para a Grécia caso esta abandone o euro.

Na última década essas nações registraram crescimento superior aos dos países da zona do euro. Na Europa, somente a Polônia não entrou em recessão quando o mundo ruía na esteira da quebra do Lehman Brothers.

Em 2009, o país cresceu 1,6%, enquanto a Alemanha, motor da Europa, encolheu 5,1%. A República Tcheca tem crescido mais que França, Itália e Reino Unido. A Hungria entrou em recessão em 2009, mas se recuperou. Já a Turquia — candidata a entrar na União Europeia (UE) desde 1999 — exibe números chineses, como a expansão de 9,2% em 2010.

Polônia e Turquia, aliás, foram classificados pelo site financeiro MarketWatch como os "novos tigres" da Europa, por terem conseguido se manter distantes da crise da dívida na zona do euro.

Agora, a população desses países reavalia a adoção do euro.

No início deste mês, pesquisa da TNS Polska mostrou que um terço dos poloneses prefere continuar com o zloty.

— As apostas estão altas, e a entrada na UE, não necessariamente no euro, parece hoje, mais do que nunca, um passivo — afirma Osman Cevdet Akçay, economista- chefe do banco turco Yapi Kredi. — A Turquia já tem um acordo alfandegário com a UE, que se mostrou muito vantajoso.

Manter essa flexibilidade me parece a estratégia correta.

Bons fundamentos são essenciais, diz Langoni

O diretor do Centro de Economia Mundial da Fundação Getulio Vargas (FGV), Carlos Langoni, ressalta que, precisamente por estarem fora do euro, esses países podem alterar livremente taxas de juros e desvalorizar suas moedas. Eles também contam com uma indústria diversificada e mercado interno, o que não ocorre na Grécia. E diz que, de certa maneira, a crise os favoreceu, apesar de eles exportarem majoritariamente para a UE: — Grande parte do investimento de alguns países da zona do euro migrou para economias mais dinâmicas.

Langoni lembra, contudo, que não basta estar fora do euro para crescer. É o caso da Hungria, que enfrenta problemas e já discute recorrer ao Fundo Monetário Internacional (FMI).

— A lição é: bons fundamentos macroeconômicos são fundamentais para que os países tenham crescimento sustentável — afirma Langoni, que não vê esses países como exemplo para a Grécia. — A situação macroeconômica da Grécia é muito ruim. Se o país abandonar o euro haverá um queda abrupta da atividade, fuga de capitais e uma desvalorização da moeda que levará a uma forte inflação.

José Augusto de Castro, presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), lembra que a UE é o maior comprador de manufaturados do Brasil, e essa posição pode estar ameaçada: — Vejo a União Europeia planejando, no futuro, substituir o Brasil e outros como fornecedores em prol dos países do Leste, com custo menor de logística.

Segundo Castro, o setor industrial vem perdendo peso na pauta externa brasileira, já que 70% das exportações são de produtos básicos. E lembra que o consumidor de commodities troca de fornecedor facilmente.