Título: Pesquisas garantem 2º turno apenas em PE e RS
Autor:
Fonte: Valor Econômico, 15/09/2006, Política, p. A10

A falta de competição é a marca das eleições para governador este ano. Segundo as pesquisas mais recentes divulgadas nos 27 Estados, só está assegurada a realização de um segundo turno para a sucessão estadual em dois deles: Pernambuco e Rio Grande do Sul. Em outros sete Estados, a pesquisa indica a vitória do líder no primeiro turno, dentro da margem de erro. O de maior eleitorado é o Rio de Janeiro.

Nos 18 Estados restantes, a vantagem do primeiro colocado nas pesquisas é muito expressiva, mesmo em locais onde há mais de dois candidatos com estrutura política e tradição para disputar a eleição de modo efetivo. Em São Paulo, a única eleição em toda a história eleitoral paulista em que um candidato teve mais de 50% dos votos sem a realização de um segundo turno ocorreu em 1958, quando venceu Carvalho Pinto (PDC).

Desta vez, o fenômeno pode se repetir, com José Serra (PSDB), mesmo o tucano tendo como adversário um dos principais quadros do PT, o senador Aloizio Mercadante, e um ex-governador, Orestes Quércia (PMDB). Na pesquisa do Ibope divulgada ontem, o petista subiu cinco pontos percentuais nos últimos dez dias, indo de 18% para 23%, e Quércia oscilou positivamente de 8% para 9%. Como Serra se manteve estável, indo de 46% para 47%, ainda mantém onze pontos percentuais sobre a soma de todos os seus adversários.

São Paulo, com seus 16 candidatos a governador, é uma exceção no conjunto do país. A estratégia dos partidos médios em apostar todas as suas fichas nas eleições proporcionais é um dos fatores para a redução da competitividade. Em dez Estados, o terceiro colocado nas pesquisas não passa de 3%, dentro da margem de erro para ser apenas um traço nas sondagens. Tratam-se dos casos em que o primeiro turno, na verdade, é o segundo turno antecipado.

O continuísmo é outro traço que se sobressai no panorama regional. Os grupos políticos locais devem manter-se no poder em nada menos que vinte dos 27 Estados, em dezesseis deles com governadores candidatos à reeleição. No Acre, Pará, Rio de Janeiro e São Paulo, o governador atual apóia e trabalha pela eleição do favorito nas pesquisas.

E entre as sete exceções, a troca de mando não chega a representar uma renovação: no Maranhão, por exemplo, a senadora Roseana Sarney (PFL) deve retomar o cargo de governadora, derrotando o seu ex-aliado e atual desafeto, o governador José Reinaldo Tavares (PSB), que apóia seus dois principais adversários. No Ceará, o ex-prefeito de Sobral Cid Gomes (PSB) é um ex-integrante do mesmo grupo político do governador Lúcio Alcântara (PSDB), que está atrás nas pesquisas.

Além de Lúcio, outros três governadores estão em segundo lugar nas pesquisas: João Alves (PFL), em Sergipe; Alcides Rodrigues (PP), em Goiás; e Maria de Lourdes Abadia (PSDB), no Distrito Federal. Os dois últimos são vices que assumiram o mandato este ano, com a desincompatibilização do titular para disputar o Senado.

Diante da falta de novidades, pouco muda no equilíbrio partidário dentro da Federação. O PMDB, que já conta com o maior número de governadores hoje, deverá manter a condição. Atualmente no comando de oito Estados, lidera pesquisas em nove e disputa com chances reais em outros dois. O PSDB, com seis governadores, está à frente em cinco Estados, entre eles São Paulo e Minas Gerais. O PFL manda hoje em quatro Estados e lidera a disputa em três. O PT governa Acre, Piauí e Mato Grosso do Sul, deve manter os dois primeiros, perder o último e acrescentar Sergipe.

Em Pernambuco e Rio Grande do Sul, o processo eleitoral foge completamente a este quadro. No estado nordestino, não só deve haver segundo turno como o segundo lugar na eleição é disputado entre dois candidatos, Humberto Costa (PT) e Eduardo Campos (PSB). No Rio Grande do Sul, a diferença entre o segundo colocado, Olívio Dutra (PT) e a terceira, Yeda Crusius (PSDB), já está dentro da margem de erro. (CF)