Título: Atividade estagnada tira fôlego do emprego formal
Autor: Machado , Tainara
Fonte: Valor Econômico, 22/06/2012, Brasil, p. A3

O mercado de trabalho formal deu sinais de acomodação mais forte ao baixo dinamismo da atividade econômica doméstica. Em maio foram abertos 139,7 mil postos, cerca de metade da geração formal de empregos observada no mesmo mês do ano passado. As contratações foram mais fracas em todos os setores pesquisados, na mesma base de comparação, de acordo com o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), divulgado ontem pelo Ministério do Trabalho e Emprego.

O resultado foi inferior ao projetado pelas sete instituições consultadas pelo Valor Data. De acordo com a média das estimativas, a expectativa era de criação de 201,3 mil postos de trabalho no último mês. Na série dessazonalizada pela LCA Consultores, o saldo líquido passou de 91,9 mil vagas em abril para 56,6 mil em maio, o menor valor desde junho de 2009, quando foram gerados 55,5 mil novos postos de trabalho. A média móvel trimestral também recuou, segundo a LCA, e passou de 91 mil em abril para 82,8 mil no último mês.

Para economistas, houve uma desaceleração já esperada nas contratações da indústria de transformação e do setor agropecuário, mas a criação menor de vagas também em serviços e no comércio mostrou que esses setores estão respondendo, ainda que em magnitude menor, à atividade doméstica praticamente estagnada nos últimos três trimestres.

No caso dos serviços, de uma média de criação de 86 mil vagas nos quatro primeiros meses do ano, o setor registrou em maio 47,2 mil contratações líquidas. Em relação ao mesmo mês do ano passado, o saldo recuou 35%. Na construção civil e no comércio, também as contratações ocorreram em ritmo menor do que o observado no mesmo mês do ano passado.

Para José Francisco de Lima Gonçalves, economista-chefe do Banco Fator, são indícios de moderação do mercado de trabalho de setores que mostravam maior resistência ao desaquecimento econômico do país. Outros indicadores também apontam na mesma direção, como a confiança em queda do setor de serviços, de acordo com pequisa da Fundação Getulio Vargas (FGV), e maior dificuldade de repasse de preços, avalia Gonçalves, e por isso é possível que, nos próximos meses, essa piora se confirme e apareça nos salários de admissão e até mesmo na população ocupada, que ainda em maio avançou principalmente por causa de serviços, de acordo com a Pesquisa Mensal do Emprego (PME).

"Existe uma defasagem entre a piora do ritmo de atividade e o impacto no mercado de trabalho, que em geral é de cerca de três meses. Parece que estamos no meio desse período crítico nesses setores e essa mudança pode ser confirmada nas próximas leituras", afirma Gonçalves.

Para o economista do Banco Fator, a desaceleração de contratações pelo setor industrial não surpreendeu, mas apenas confirmou a fraqueza da atividade no setor. De acordo com os dados do Caged, foram criados 21,5 mil postos de trabalho na indústria, sendo 20,3 mil deles na indústria de transformação, metade das contratações ocorridas no mesmo mês do ano anterior, quando foram adicionados ao mercado formal 45,3 mil e 42,3 mil trabalhadores, respectivamente, a esses setores.

Rafael Bacciotti, economista da Tendências, nota que também o mau momento do setor agropecuário, que influenciou na redução das contratações em maio. De acordo com a média móvel de três meses a partir da série com ajuste sazonal elaborada pela consultoria, a agricultura foi responsável por 20 mil postos a menos de trabalho até maio, enquanto em abril essa redução era de 15 mil vagas. No caso da indústria, no mesmo período, a geração formal de vagas passou de abertura de 1,9 mil postos para 701 dispensas.

No mercado de trabalho como um todo, a média móvel trimestral elaborada pela Tendências recuou de 90 mil postos em abril para 73 mil vagas criadas em maio.

Para Bacciotti, o desempenho desses dois setores pode estar influenciando o contraste observado entre os dados do Caged e da PME, divulgada ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Ele nota que nos seis centros metropolitanos onde é conduzida a pesquisa do IBGE, há um peso maior de setores que, embora tenham mostrado certa moderação, ainda têm mercado de trabalho com dinâmica mais favorável, como é o caso dos serviços e da construção civil. No caso do Caged, são computados todos os registros formais de emprego e, por isso, a indústria e a agricultura ganham relevância e contribuem para um resultado mais fraco.

Além disso, observa, Gonçalves, do Banco Fator, os dois levantamentos seguem metodologias e objetivos diversos. Enquanto o Caged leva em conta apesar os registros formais de contração, a PME considera a posição do participante do mercado de trabalho.