Título: UE busca competitividade e crescimento
Autor: Moreira , Assis
Fonte: Valor Econômico, 28/06/2012, Internacional, p. A15

O presidente da Comissão Europeia, José Durão Barroso, delineou ontem o que acredita ser o pacote mínimo de curto e longo prazos que os líderes europeus poderão aprovar para salvaguardar o euro na cúpula de hoje e amanhã em Bruxelas.

Primeiro, compromissos específicos de países para fazer reformas estruturais, a fim de reforçar a competitividade global europeia. Segundo, pacote para o crescimento estimado em € 130 bilhões (1% da zona do euro); e terceiro, dramáticos passos em direção da união bancária, união fiscal e união política - portanto, nada de eurobônus, por exemplo.

Barroso e o presidente do Parlamento Europeu, o socialista alemão Martin Schulz, deram entrevista juntos prometendo um acordo para adoção em regime de urgência de medidas legislativas para assegurar no curto prazo a estabilidade financeira e estímulos ao crescimento e emprego. "A hora é grave, a situação é excepcional e abrimos mão inclusive de nosso direito de veto", prometeu Schultz.

Além de medidas para estimular crédito a pequenas e médias empresas e investimentos em infraestrutura, Barroso diz que o foco será a união bancária, que espera estar preparada em 2013. O objetivo é tentar romper o vínculo entre bancos em dificuldades e o endividamento dos Estados.

União bancária significa jogar para a esfera europeia o que existe hoje em cada país. Ou seja, um único xerife para o setor bancário, que será o Banco Central Europeu; um único sistema de garantia de depósitos, alimentados pelos próprios bancos e, em última etapa, pelos Estados; e um único sistema de gestão de crises e falências, para reduzir o custo aos contribuintes.

No entanto, o plano de sete páginas por uma União Europeia mais integrada, apresentado pela Comissão Europeia, Conselho Europeu e BCE na terça-feira, foi recebido como um balde de água fria. O documento propõe mais poder para a Comissão Europeia e pede mais dinheiro da Alemanha, na visão dos alemães. Para os italianos, a união bancária parece a tarefa mais fácil a ser alcançada no curto prazo, enquanto a união fiscal parece a mais complicada porque a França e outros países se opõem a abrir mão da soberania.

Para vários analistas, o documento que os líderes vão discutir tem sobretudo "muita platitude" sobre necessidades de medidas para reforçar a integração europeia. A agência de classificação de riscos Fitch alertou que se as autoridades não articularem um "roteiro" de dez anos realmente crível para mais integração fiscal e política, a pressão dificilmente baixará sobre os ratings soberanos - o que significa custo maior ainda para países endividados se financiarem.

A cúpula ocorre quando agora o Chipre aparece para pedir socorro entre 8 e 10 bilhões de euros, o que significa 50% de aumento na sua dívida pública. A Grécia chega dizimada à cúpula, com os líderes adoentados.

Ao mesmo tempo, o presidente do Banco Central do Reino Unido, Sir Mervyn King, prevê "miséria econômica" por mais cinco anos globalmente. "O que me inquietou mais nos últimos meses foi a piora que eu vi na posição da Ásia e de outros emergentes. E meus colegas dos EUA estão mais preocupados do que estavam no começo do ano sobre o que acontecerá na economia americana", disse ele ao jornal "The Guardian".

Durão Barroso, que não perde uma ocasião para lembrar que a crise veio dos EUA, contou ontem que a mensagem que ouviu no G-20 por parte de países como Estados Unidos, China, Japão e Brasil foi "a de que avancemos na integração, mostremos que somos capazes de garantir a moeda comum europeia".