Título: Lafarge adquire a mineira Davi
Autor: Basile, Juliano e Ribeiro, Ivo
Fonte: Valor Econômico, 20/09/2006, Empresas, p. B1

A multinacional francesa Lafarge, líder mundial no mercado de cimento, fechou a compra da Cimento Davi S.A., de Minas Gerais. Segundo fontes do setor, o negócio é avaliado em R$ 100 milhões e está dentro da estratégia de expansão da companhia no mercado do Sudeste do país. A Lafarge tem planos para ampliar a capacidade produtiva da Davi.

A aquisição já foi notificada ao Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) e à Secretaria de Direito Econômico (SDE) do Ministério da Justiça - órgãos responsáveis pela análise de fusões e aquisições no Brasil. E a expectativa é que a compra da Cimento Davi não encontre grandes obstáculos para ser aprovada.

Primeiro, porque a Davi possui apenas 0,67% do mercado de cimentos no Sudeste. A Lafarge tem 10,61% na região. Logo, a concentração é pequena. A Davi é uma pequena cimenteira que atua principalmente no Sudeste, concentrada em Minas, segundo informação da Lafarge aos órgãos antitruste. No Sudeste, a Davi detém menos de 1% do mercado e uma participação muito residual no Sul. Já a Lafarge, segundo informa, não atua no Sul.

A subsidiária do grupo, a Lafarge Brasil, com sede no Rio e seis fábricas no país - quatro em Minas, uma no Rio e uma em São Paulo - fabricou 2,5 milhões de toneladas em 2005. No país, é o sexto maior produtor, com 6,6% de participação no mercado.

Criada em 2001, a Davi tem capacidade para produzir cerca de 500 mil toneladas ao ano de cimento tipo CP-III. O produto é resultado da mistura de clínquer e escória, matérias-primas que têm sido importadas pela empresa, inclusive da Ásia, e que agora serão suprida pela nova dona.

Os donos da Davi eram um grupo investidor de Brasília, oriundo da cimenteira Ciplan, um investidor mineiro e o grupo Equipav/Concrepav, sediado em Campinas (SP), que tem 13 empresas e atua nos setores da construção, concreto, concessões de rodovias e até em usinas de açúcar e álcool.

Procurada pelo Valor, a Lafarge Brasil informou: "A empresa confirma que enviou o pedido de análise da operação ao Cade, informa que aguardará o parecer do Conselho e que, neste momento, não se pronunciará sobre o assunto."

Para o grupo francês, qual a vantagem do negócio em agregar menos de 1% à sua participação de negócio? Segundo seu argumento ao Cade, do ponto de vista estratégico a operação se justifica: a Davi tem elevada capacidade ociosa. Ao adquirir a empresa, a multinacional pretende fazer investimentos de melhoria na sua fábrica. O objetivo é atender a previsão de aumento da demanda por cimento nos próximos anos no país e, assim, dispor de maior poder de competição.

Esse seria o segundo motivo pelo qual o negócio não deve encontrar dificuldades junto aos órgãos antitruste do governo: a Lafarge adquiriu uma empresa e pretende ampliar a sua capacidade produtiva. Assim, haverá um incremento na produção, o que é positivo do ponto de vista antitruste.

O negócio foi notificado ao Cade no último dia 12. O relator é o conselheiro Ricardo Cueva. A SDE deverá fazer um parecer sobre o caso, antes de remetê-lo ao Cade para julgamento.

O negócio também tem motivos geográficos para ser aprovado. A Cimento Davi está localizada numa região de Minas que é um espécie de complemento do ponto de vista logístico à Lafarge. A empresa tem sede em Santa Luzia, na região metropolitana de Belo Horizonte. A proximidade da capital mineira será útil em termos logísticos para melhorar as condições de atendimento para a distribuição de cimento.

Por fim, a compra da Davi acontece num momento em que o mercado corre para atender à possibilidade de aumento na demanda. As grandes cimenteiras que competem com a Lafarge também têm adquirido empresas.

Segundo uma fonte do setor, a demanda por cimento cresceu até agora, neste ano, 14% na região Sudeste. A expectativa é que o país consuma 40 milhões de toneladas em 2006 - 3 milhões a mais que no ano passado. E que cresça mais em 2007 com os programas de incentivo ao financiamento de imóveis residenciais.

Ao mesmo tempo em que adquire a Davi, a Lafarge trava uma disputa na Corte Internacional de Arbitragem de Zurique com a C P Cimento, controlada pela família Koranyi Ribeiro, por conta de sua participação de 20% na Cimento Tupi. A C P tem 75% da Tupi. A Lafarge exigiu na ação seu direito de revenda, à C P, de sua participação, que em valor corrigido somaria US$ 90 milhões. Em 1996, pagou US$ 60 milhões pelas ações.