Título: Partido já avalia futuro do dirigente
Autor: Romero, Cristiano
Fonte: Valor Econômico, 21/09/2006, Política, p. A11

A Executiva Nacional do PT só deverá se posicionar oficialmente sobre a situação do presidente da legenda, deputado Ricardo Berzoini (SP), depois das eleições. Os integrantes da direção nacional preferem aguardar o desenrolar dos acontecimentos para ver o que pode acontecer com o dirigente máximo do partido. A expectativa maior recai sobre as investigações da Polícia Federal, de onde sairá um parecer sobre seu envolvimento na montagem e pagamento de um dossiê com denúncias contra o candidato ao governo de são Paulo, José Serra.

O sentimento dentro da direção da sigla é de perplexidade com o equívoco cometido em momento tão próximo de uma eleição considerada ganha pelo candidato do partido à reeleição. o presidente Lula. Classificam como "deplorável" o estratagema de comprar um dossiê para tentar envolver o candidato tucano ao governo de São Paulo, José Serra, com a máfia das sanguessugas, no ápice da campanha. O termo foi usado pelo secretário-geral do partido, licenciado, deputado estadual Raul Pont (RS). "Negociar com criminoso nunca dá certo. Não funciona. Essa prática é deplorável. Quem fez isso deve ir preso", irrita-se o dirigente. "É um caso de polícia e assim deve ser tratado", completa.

O secretário-geral interino, Joaquim Soriano, tem a mesma opinião. "É uma estupidez essa compra de dossiê', afirma.

Dentro desse contexto, se o envolvimento de Berzoini for comprovado, sua posição na presidência do partido fica insustentável, como já ficou na presidência do comitê de campanha à reeleição. O debate sobre o partido, porém, fica para depois do dia 1º de outubro. "Agora, os membros da Executiva estão focados na campanha. Na reeleição do presidente Lula, dos deputados e dos governadores", diz Joaquim Soriano.

Segundo ele, os dirigentes têm conversado por telefone e analisado o escândalo. Para Raul Pont, com a dificuldade de reunir toda a Executiva no atual momento, pelo menos a comissão política poderia se encontrar em caráter emergencial. "Seria bom fazer uma análise do envolvimento do Berzoini e de outros integrantes", afirma.

Os dois dirigentes entraram, também, na execução da estratégia traçada pelo governo de destacar a necessidade de se falar do conteúdo do dossiê (uma entrevista dos Vedoim à revista "Isto É") e fazer as investigações. Em uníssono com o PT e com o Planalto, os dirigentes comentaram que a imprensa tem dado mais atenção à compra do dossiê do que ao conteúdo propriamente dito. "É preciso também investigar o Serra", diz Soriano. "É preciso apurar se o conteúdo é verdade ou mentira. As pessoas têm mudado o foco", diz Pont. "Tráfico de documento é crime e deve ser apurado. Mas precisamos apurar o que há nesse dossiê", completa.

Outro dirigente ouvido pelo Valor pediu para não ter o nome divulgado. Mas revelou bem o sentimento da Executiva: "Quando isso tudo acabar, precisamos falar com os responsáveis por tudo isso e dizer: Onde você estava no último ano e meio? Não aprendeu com a história recente? Com os erros recentes?"

A crise envolvendo Berzoini é a terceira a atingir presidentes petistas nos últimos meses. O primeiro a cair foi José Genoino, envolvido na crise do mensalão. Depois, Tarso Genro não conseguiu imprimir as mudanças que pretendia fazer na legenda, bateu de frente com o ex-ministro José Dirceu e com os principais líderes do partido em São Paulo e deixou a direção.