Título: Obras puxam empregos da construção civil
Autor: Maia, Samantha
Fonte: Valor Econômico, 12/01/2007, Brasil, p. A3

O segmento de obras, que representa 80% da construção civil, deu um salto em 2006, com crescimento de 7,38% dos empregos em 12 meses (dados até novembro), após crescer apenas 2,86% em 2005, um ano forte no segmento de serviços. Dessa forma, no ano passado, obras superou serviços na influência sobre o aumento total dos empregos (7,31%) na construção civil e seu maior peso pode explicar porque o PIB do setor cresceu mais em 2006 (5%) que em 2005 (1,3%).

Os dados são do Sindicato da Indústria da Construção Civil (Sinduscon). Mesmo que dezembro - mês em que sempre há mais demissões - puxe esse resultado para baixo, ele ainda deve permanecer maior que o de 2005.

A economista Ana Maria Castelo, da FVG Projetos, explica que dentro da categoria obras é importante ter havido a maior alta dos empregos em preparação de terrenos (16,44% de janeiro a novembro de 2006 em relação ao mesmo período de 2005), pois isso indica que novos investimentos em edificações serão realizados este ano. "Assim, a perspectiva de continuidade do aumento da atividade em 2007 se fortalece", diz.

Engenharia e arquitetura tiveram o crescimento mais alto no setor de serviços (12,15%), o que, segundo a economista, junto com o anúncio do governo federal de mais recursos para infra-estrutura, o aumento do crédito e a aprovação do marco regulatório de saneamento, completam o quadro positivo para o mercado construção em 2007. "Apesar dos investimentos em obras públicas tenderem a desacelerar, devido aos governadores estarem assumindo e desejando colocar primeiro a casa em ordem, os recursos federais e privados deverão elevar o investimento no setor", diz.

Ana Maria diz que é esperado de infra-estrutura uma participação mais forte no crescimento do setor este ano. Em 2006, os empregos nesse segmento aumentaram 6,52% (janeiro a novembro de 2006 comparado ao mesmo período de 2005), atrás de preparação de terreno (16,44%) e edificações (6,54%).

Serviços cresceu 7% em 12 meses (dados até novembro), valor inferior à 2005, quando foi registrada alta de 37%. Segundo a economista, o resultado é significativo por ter crescido sobre uma base forte. "O número menor em 2006 não é ruim, mostra que serviços entrou na normalidade e continua crescendo", diz.

Para o diretor de economia do Sinduscon-SP, Eduardo Zaidan, no entanto, o ideal seria serviços ter mantido o ritmo do ano anterior, para que planejamento e edificação crescessem juntos. "O que foi planejado em 2005, representado pela alta de serviços, foi construído em 2006, explicando assim o crescimento de obras", diz.

O Sudeste continua sendo a região de maior incremento da ocupação (10,7% de janeiro a novembro de 2006 em relação ao mesmo período de 2005), o que é significativo, já que concentra 56% dos empregados em construção no país. Todos os Estados da região cresceram, e São Paulo, mesmo tendo contratado cerca de 31 mil trabalhadores, perdeu 0,42% da participação no total da região para os demais, como Minas Gerais, que elevou a participação em 0,48%, empregando 26 mil pessoas .

"A produtividade do setor em São Paulo influi para que maior atividade não implique mais contratações, mas isso ainda é insuficiente para explicar a diferença de crescimento relativo com Minas Gerais, por exemplo", diz a economista. Minas cresceu 15,3% de janeiro a novembro de 2006 em relação ao ano anterior.

Segundo Walter Bernardes de Castro, presidente do Sinduscon-MG o desempenho mineiro é puxado pelas obras públicas e instalações industriais resultantes de uma "política agressiva" do governo mineiro de atração de investimentos. "Houve construção de plantas industriais para siderúrgicas e investimento em peso em recuperação e ampliação de rodovias", conta.

Na Região Norte o crescimento foi de 9,4% e poderia ter sido melhor se Tocantins, o segundo Estado em participação no total de empregos da região, não tivesse apresentado queda de 4,9% de janeiro a novembro de 2006, comparados os mesmo período do ano passado, atrás somente do Amapá, com baixa de 14,5%. Pará tem 2,37% dos empregados no Norte e cresceu 12,13%, o equivalente a 4 mil novas vagas. A maior alta percentual na região e no país foi do Acre, de 20,5%. No entanto, como a base é pequena, o aumento não representa um grande número de empregos (cerca de mil postos).

O Nordeste teve alta de 9,5%, com participação importante dos Estados do Rio Grande do Norte, com 19,96%, e Maranhão, com 11,68%. O Sul e o Centro-Oeste cresceram 5,6% e 3,8% respectivamente, abaixo, portanto, da média nacional, de 9,1%.