Título: Enxugamento de quadros na Gol deve ser mantido
Autor: Komatsu , Alberto
Fonte: Valor Econômico, 20/06/2012, Empresas, p. B1

O maior processo de reestruturação da Gol em 11 anos de atividade, com a dispensa desde janeiro de 900 funcionários, deve estender-se até o início do segundo semestre. Foi isso o que indicou ao Valor o presidente-executivo da empresa, Constantino de Oliveira Júnior, que deixa o cargo no dia 2 de julho. Ele, que será substituído pelo atual presidente da Audi, no país, Paulo Kakinoff, deixou aberta a possibilidade de novos cortes na companhia, em linha com a readequação de tamanho da Gol, que reduziu sua malha de voos em 10%.

Para analistas do setor aéreo, além da cobrança natural por resultados, a saída de Constantino da presidência-executiva sinaliza que sua família estaria disposta a negociar o controle da Gol, abrindo caminho a uma negociação nos moldes da Latam, que unirá a chilena LAN e a TAM Linhas Aéreas. Procurada, a Gol não comentou essa possibilidade.

Por meio do fundo Volluto, Constantino e três irmãos (Henrique, Joaquim e Ricardo) têm 61,6% do capital total da Gol.

"Estamos fazendo uma adequação da empresa a essa realidade de oferta e demanda. Não estamos divulgando números. Temos o cuidado de preservar a integridade da empresa e o clima. Estamos finalizando essa adequação dos custos fixos e, naturalmente, da força de trabalho", disse Constantino, que assumirá a presidência do conselho de administração da Gol, onde sentam também seus três irmãos.

Segundo fontes do setor, a soma de dispensas na Gol pode alcançar 1,2 mil pessoas, até o começo de julho. Somente no início de junho, foram demitidos 190 tripulantes. "Não temos planos de demissão significativa, além daquelas que estão em execução", afirmou Constantino. Ele sinalizou que a intensidade dos novos cortes está condicionada aos próximos resultados de demanda de voos domésticos e de taxa de ocupação dos aviões.

"A nossa expectativa é a que os indicadores de demanda da Gol mostrem o reflexo dessa nossa decisão. O objetivo é que a demanda cresça mais do que a oferta, alcançando um nível de ocupação mais satisfatório. Mas o mercado continua muito desafiador", disse. Para ele, a melhora nesses indicadores poderá ocorrer ainda no terceiro trimestre.

O analista de companhias aéreas do banco UBS, Victor Mizusaki, chama a atenção para a alta de 3,26% das ações da Gol no pregão de ontem, a décima maior valorização da Bovespa, um dia após o mercado tomar conhecimento da troca de presidente. "Na minha opinião, a saída do Constantino da presidência-executiva sinalizou ao mercado uma flexibilização. A família Constantino mostra que poderia aceitar ficar com uma participação menor na companhia e rumar para uma negociação nos moldes da Latam", diz Mizusaki.

Um especialista do setor aéreo, que pediu anonimato, tem avaliação parecida com o analista do UBS. "Eu acredito que eles (família Constantino) estão se preparando para vender a companhia ", afirmou a fonte. Ela lembra que a americana Delta Airlines injetou US$ 100 milhões na Gol para comprar 3% da companhia. As duas empresas negam que haja planos de aumentar essa participação.

Constantino, por sua vez, diz que a renúncia ao cargo foi um movimento para agregar valor à companhia. Ele é o maior acionista individual da Gol, com 18% do capital total e 25% dos papéis com direito a voto. "Não estou abrindo mão de uma função executiva. Estou fazendo um movimento que eu entendo que agrega valor à companhia. Entendo que encontrei a pessoa que atende o nosso desejo para ser o líder da empresa", disse o executivo.

Ele nega pressão de outros acionistas para a sua saída. "Não me sinto pressionado. Talvez o acionista que mais cobra resultado e que coloca mais pressão sobre a minha gestão sou eu mesmo", diz Constantino.

"Eu não estava com essa questão [sair do comando] na minha cabeça. A possibilidade de ter o Kakinoff como CEO é que me abriu o horizonte no sentido de pensar a respeito dessa mudança", diz Constantino. "Não é que a gente estava buscando um CEO. Entendíamos que a profissionalização deveria acontecer mais cedo ou mais tarde. Não tínhamos prazo para isso", continuou. "Me sentia confortável na posição de CEO da empresa, não era esse o problema. Por que agora? Porque entendo que achamos o executivo correto para a posição".

Para ele, a troca de comando na Gol não vai mudar o foco da companhia. "Apesar de 60% dos passageiros do transporte aéreo serem de viagens a negócios, a Gol vai continuar perseguindo o modelo de baixo custo", afirmou ele, que garantiu não estar se aposentando. "Vou permanecer na presidência do conselho de administração, dividindo minha experiência de 12 anos na administração da Gol com o Kakinoff".