Título: Previsão de maioria na Câmara
Autor: Taffner, Ricardo
Fonte: Correio Braziliense, 01/11/2010, Cidades, p. 32

Novo governador precisará negociar com distritais de 17 partidos para ter os projetos do Executivo aprovados, mas começa com o apoio de 15 dos 24 eleitos. O PT pode ficar com a presidência da Casa

Agnelo Queiroz (PT) terá muito trabalho a partir de agora para montar o novo governo, principalmente para manter uma base forte entre os deputados distritais. Nos próximos quatro anos, ele precisará negociar com os 17 partidos que ocupam a Câmara Legislativa do Distrito Federal (CLDF). Uma negociação que começou antes da eleição e se configurou em cada apoio recebido na campanha ou mesmo na retirada de aliados da então adversária. De toda sorte, o novo governador começará o mandato com um grupo oficial formado por 15 dos 24 representantes eleitos. O Partido dos Trabalhadores será a maior bancada da Casa, com cinco cadeiras.

É entre os petistas que surgem os nomes mais cotados para assumir a Presidência da Câmara nos dois primeiros anos da próxima legislatura. Cabo Patrício (PT) tem a seu favor o fato de ser o atual vice-presidente e de ter assumido, interinamente, o comando em um período de grande atribulação política. Com a saída de Leonardo Prudente (sem partido) por conta da Operação Caixa de Pandora, que o flagrou com dinheiro nas meias, Patrício teve a difícil tarefa de conduzir os trabalhos em meio a um clima de instabilidade e dúvidas. Sobreviveu, saiu fortalecido do episódio e agora tem status de favorito.

Outro nome do próprio partido é de Arlete Sampaio (PT), ex-vice-governadora do DF e uma das principais colaboradoras para o lançamento da candidatura de Agnelo. A distrital teve uma passagem marcante pelo parlamento local de 2003 a 2006 e concorreu ao Buriti na penúltima eleição. Chico Leite seria outra opção da legenda, uma vez que foi o mais votado em 3 de outubro, mas está cotado para assumir uma secretaria no próximo governo.

Os parlamentares eleitos juram não ter tratado do assunto, mas as conversas começaram nos dias seguintes ao resultado do primeiro turno. Quem vai dar início às articulações é o governador. Primeiro, tivemos de esperar a eleição, agora vamos aguardar o início das negociações, diz Patrício. Segundo o deputado, Agnelo será o personagem principal na definição do próximo presidente, uma vez que as tratativas dependem da formação do próximo governo. Se o nome tiver de ser do Partido dos Trabalhadores, aí teremos de reunir a bancada para tomar essa decisão, diz.

Contra o PT pesa o argumento, entre deputados das demais legendas, de que será devidamente representado com o posto máximo do GDF e o presidente deveria ser de outra sigla. O problema é encontrar um distrital com experiência, trânsito entre os colegas e longe de acusações que contaminem a imagem da próxima legislatura. Os peemedebistas Rôney Nemer e Benício Tavares cumprem os dois primeiros requisitos, mas ambos figuram nas investigações do suposto esquema de corrupção no governo de José Roberto Arruda (sem partido).

Alírio Neto (PPS) também aparece como nome forte para chefiar a CLDF. Foi o presidente da Casa de 2007 a 2009 e trabalhou para mudar o regimento interno a fim de aprovar a reeleição e conseguir se manter no poder. O único meio para tirá-lo da disputa é com uma vaga no primeiro escalão do Executivo, hipótese em negociação. De resto, a bancada governista é formada por estreantes e por nomes menos expressivos, como Cristiano Araújo (PTB), que só nos últimos dias de campanha resolveu promover um ato de apoio a Agnelo.

Novatos O índice de renovação na Câmara Legislativa foi de 54,1%, ou seja, apenas 13 vagas serão ocupadas por novatos. Nove distritais conseguiram a reeleição, três suplentes foram eleitos titulares e outras três pessoas regressam à Casa. Dos cinco candidatos vitoriosos no primeiro turno que permaneceram fiéis a Joaquim Roriz (PSC), nenhum tem experiência como parlamentar (veja quadro na página 33). Eles deverão formar a base da bancada oposicionista. Todo governo precisa de alguém que o fiscalize. Muitas denúncias surgiram na campanha e precisam ser investigadas. Vou fazer uma oposição coerente, tranquila e ao lado do povo de Brasília. Os novos deputados precisam chegar com vontade de transformar a Câmara, disse Celina Leão (PMN).

Deputados que não se aliaram formalmente ao governo poderão ter papel decisivo para a governabilidade. Eliana Pedrosa (DEM) e Benedito Domingos (PP) são experientes e com grande poder de influência entre os colegas. Apesar de terem feito parte da coligação de Weslian Roriz (PSC) no primeiro turno, ambos evitaram declarar qualquer apoio na reta final. Nos bastidores, mesmo sob a negativa de ambos, eles foram contabilizados do lado petista. Eliana viajou após votar neste domingo e disse, por meio da assessoria de imprensa, que deseja boa sorte ao novo governador, mas que só pensará sobre a própria atuação depois de regressar a Brasília.

Mudança Segundo o resultado do primeiro turno 54,1% - É o índice de renovação na Câmara Legislativa

Do total eleito em 3 de outubro, 13 Distritais não figuram nesta legislatura