Título: Militantes fazem festa
Autor: Menezes, Leilane; Branco, Mariana; Meireles,Olívio
Fonte: Correio Braziliense, 01/11/2010, Cidades, p. 28

Cerca de 7 mil pessoas coloriram de vermelho o gramado da Esplanada. Agnelo subiu ao palco por volta das 23h, mas Dilma não compareceu

A chuva do fim da tarde não chegou a atrapalhar a comemoração pela vitória petista: "A esperança venceu a violência, a mentira, a desonestidade e a corrupção", disse o novo governador do Distrito Federal A festa da vitória petista teve como cenário a Esplanada dos Ministérios, centro do poder nacional. Segundo cálculos da Polícia Militar, cerca de 7 mil pessoas, quase todas vestidas de vermelho, a cor do Partido dos Trabalhadores (PT), reuniram-se no trecho do gramado central mais próximo à Rodoviária do Plano Piloto. Dançaram e cantaram até a meia-noite e meia. Com a chegada de Agnelo Queiroz, às 23h, foram ao delírio. O governador eleito do Distrito Federal ficou no palco, acompanhado por dezenas de políticos, durante uma hora.

Agnelo chegou à Esplanada acompanhado da mulher, dos filhos e do vice na chapa, Tadeu Filippelli (PMDB). O público ovacionou o petista assim que o locutor anunciou a sua presença, mas vaiou Filippelli. Também ao lado de Agnelo estavam os petistas Paulo Tadeu, Arlete Sampaio, Érika Kokay e Chico Vigilante, além dos senadores brasilienses eleitos em 3 de outubro, Cristovam Buarque (PDT) e Rodrigo Rollemberg (PSB).

Antes de Agnelo, discursaram Rollemberg e Filippelli, que novamente foi vaiado. Ele ignorou a manifestação do público. Muitos dos nossos adversários não entenderam a nossa coligação, fizemos uma luta correta e vamos vencer o preconceito e a intolerância, afirmou. Os organizadores chegaram a aumentar o volume da música no fim do discurso para abafar as novas vaias.

Agnelo começou agradecendo à militância petista e toda a população do povo do DF. Esse grito estava na nossa garganta. Não tenho nenhuma dúvida que foi o desejo de mudança que nos colocou no caminho da ética, da transparência e da recuperação dos serviços públicos. O público o interrompeu com gritos de Roriz, nunca mais. Agnelo se juntou ao coro e continuou. Esse brado significa o rompimento de 14 anos rumo a um novo caminho no DF. A esperança venceu a violência, a mentira, a desonestidade e a corrupção, finalizou.

Logo após o discurso de Agnelo, o locutor anunciou que a presidente eleita, Dilma Rousseff, não participaria da festa. Houve vaia. Ela estava em Brasília, onde fez o pronunciamento após o resultado da eleição, em um hotel cinco estrelas.

Em família Militantes com bandeiras do PT e do PMDB começaram a chegar à Esplanada pouco após as 17h, início da apuração dos votos no DF. Uma hora e meia depois, ao som da Banda Brasil Capital Samba Show, vibravam com o anúncio da vitória de Agnelo. Muitas não economizaram na bebida alcoólica liberada vendida por ambulantes. Até a meia-noite, a PM e o Corpo de Bombeiros não haviam registrado nenhuma ocorrência.

A maranhense Zilda Soares, 83 anos, foi uma das primeiras a chegar à festa. Estava no gramado às 17h. Moradora da Asa Norte, fez questão de sair de casa no começo da manhã para votar em Agnelo e Dilma, mesmo isenta da obrigatoriedade, por causa da idade. Durante a campanha, rezava toda noite e acendia uma vela para Agnelo e Dilma. Eles serão bons para o povo, afirmou, ao lado da filha e da neta.

Já o engenheiro César Fonseca, 61 anos, também morador da Asa Norte, levou toda a família para o coração de Brasília. Mesmo não sendo filiado ao partido (o PT), fiz campanha, como cidadão. Essa vitória representa tudo para Brasília. Daqui pra frente, vamos conhecer a Brasília de verdade. E quero que os meus filhos vejam essa mudança de perto, por isso estão aqui, ressaltou, acompanhado da mulher e dos quatro filhos.

Vestida na cor do PT, Larissa Segatto, 5 anos, participou da celebração sentada nos ombros do pai, o engenheiro Geraldo Segatto, 39. Ela já está politicamente iniciada, brincou o engenheiro, que considerou o 31 de outubro um dia histórico. Estamos vendo a primeira mulher presidente do Brasil e também o fim do coronelismo no DF, afirmou.

Samba na chuva O tempo fechado e a chuva poucas horas antes do término da apuração não impediram os Simões de correr para a Esplanada. Pai, mãe e filho sambavam, vestidos de verde e amarelo e segurando bandeiras do PT. O resultado no DF é um sinal de que as pessoas querem mudança e deram um voto de confiança à coligação do Agnelo, destacou a ambientalista Jilvana Simões, 39 anos, acompanhada do filho João Marcus, 14, estudante, e do marido Rogério Dias, 53, agronômo.

Petista histórico, o bancário Luiz Humberto Pereira de Almeida, 49 anos, era o retrato da felicidade. Militante desde 1979, nessas eleições, como em todas as outras, ele panfletou e pediu voto por onde passou, no primeiro e no segundo turno. O resultado das eleições no DF representa o expurgo do antigo grupo político e um novo começo. Em âmbito nacional, é a continuidade do governo Lula com a Dilma.

Maria Naves da Silva, 57 anos, saiu do Setor P Sul, em Ceilândia, com a filha e nora. Os três eram uns dos mais animados na Esplanada. Sempre votamos em Lula e no PT. Fizemos campanha, conversamos com os vizinhos e os colegas de trabalho para mostrar que Dilma e Agnelo eram o melhor para o Brasil e para Brasília, contou Maria.

Já a assistente social Floracy Leda, 71 anos, festejou sozinha. Minha família toda vota no PSDB e em Roriz, explicou. Ela, por outro lado, vota em Lula e em candidatos do PT desde a redemocratização do país. Fiquei muito emocionada em votar numa mulher para presidente. Também estou satisfeita com a vitória do Agnelo. Melhor é saber que o Roriz não governará mais Brasília, disse.

Por recomendação dos brigadistas, a festa teve de ser interrompida por volta das 21h30. Eles avaliaram que havia risco por conta da superlotação do palco. Pelo menos 200 pessoas, entre militantes, imprensa e banda dividiam o espaço. O show recomeçou após a saída de alguns. Grupos brasilienses de diferentes ritmos animaram a celebração. Apresentaram-se Sambashow, Mambembe Brincantes, Brasília Blues Band, Caco de Cuia, Gook, Ellen Oléria, MarafaBoi e AdoraRoda. Entre uma banda e outra, som mecânico com música pop internacional. Mais de 500 policiais militares garantiram a segurança do evento.

Colaboraram Luiz Calcagno e Mariana Laboissière

REDUTOS FECHADOS Tradicionais redutos petistas do Plano Piloto, como os bares Beirute (Asa Sul e Norte), o Bar Brasília e o Restaurante Feitiço Mineiro, passaram o domingo fechados. O Libanus, na 206 Sul, foi uma das exceções. No entanto, a movimentação de pessoas e comemoração eram discretas. O motivo do fechamento de muitos botecos era a lei seca, que proibia a venda de bebidas alcoólicas até as 18h.