Título: Adoção de políticas de estímulo domina reunião do G-20
Autor: Lamucci , Sergio
Fonte: Valor Econômico, 18/06/2012, Internacional, p. A16

Com a crise da zona do euro no centro das preocupações, a cúpula dos líderes do G-20 começa hoje em Los Cabos, no México, devendo colocar políticas de estímulo ao crescimento no topo da agenda de recomendações, além de cobrar dos países europeus uma ação decidida para preservar a moeda única e afastar os riscos de problemas mais graves nos bancos. O encontro do grupo se inicia num clima ainda tenso, embora as incertezas tenham diminuído um pouco com a vitória nas eleições gregas do partido Nova Democracia, favorável à manutenção do acordo de ajuda da Europa e do Fundo Monetário Internacional (FMI) ao país. A situação da Grécia será discutida na reunião dos governantes dos Brics (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul), marcada para a manhã de hoje.

A Europa deve dominar as discussões no G-20, mesmo que o risco de a Grécia deixar a zona do euro tenha se reduzido. A situação europeia segue delicada. A Espanha, por exemplo, continuou a apanhar dos mercados na semana passada, apesar do anúncio de um pacote de socorro de até € 100 bilhões para capitalizar seus bancos.

A combinação da defesa de medidas de incentivo à atividade econômica e da crítica à ênfase exagerada na austeridade fiscal tornou-se dominante dentro do G-20, o grupo que reúne 19 países mais a União Europeia. Nas reuniões preparatórias para o encontro, a Alemanha, como era de se esperar, mostrou maior resistência a recomendações pró-crescimento, segundo uma fonte do governo brasileiro.

Uma das principais novidades desta cúpula é que a alemã Angela Merkel perdeu a companhia do francês Nicolas Sarkozy em sua pregação pró-austeridade. O socialista François Hollande, que derrotou Sarkozy, enfatiza sempre a importância de medidas de estímulo ao crescimento. Na semana passada, mesmo a encrencada Itália anunciou medidas para promover o crescimento, injetando € 80 bilhões na economia.

Outro ponto importante dentro do G-20 é a expectativa de que os EUA assumam o compromisso de tentar impedir que se concretize o chamado "abismo fiscal" em 2013. O impasse entre democratas e republicanos criou o risco de que, no começo do ano que vem, haja simultaneamente fortes reduções de gastos e o fim de isenções de impostos. Sem um acordo, haverá uma contração fiscal violenta. Ainda que a situação das contas públicas americanas não esteja uma maravilha, a avaliação generalizada é de que o país ainda tem espaço no front fiscal, não sendo necessário promover drásticas reduções de gastos ou exagerados aumentos de impostos.

A presidente Dilma Rousseff terá uma posição firme a favor de políticas de estímulo ao crescimento, destacando que a estratégia atual, de privilegiar o aperto nas contas públicas, está longe de ser bem sucedida. A austeridade exagerada tem contribuído para enfraquecer a atividade econômica, elevando o desemprego e piorando os próprios indicadores fiscais, avalia o governo brasileiro.

Dilma chegou ontem a Los Cabos, mas não falou com a imprensa. Apenas um ministro acompanha Dilma em sua viagem ao México - Guido Mantega, da Fazenda.

Hoje pela manhã, antes da abertura oficial do encontro do G-20, Dilma participará de um encontro com os outros líderes dos Brics. No caso da Grécia, a tendência é de que os Brics defendam a linha de que austeridade é importante, mas com crescimento, disse outra fonte do governo brasileiro.

Além disso, os países do grupo devem afinar o discurso e adotar uma posição conjunta em relação ao FMI. Deverão deixar claro que estão dispostos a colaborar com mais recursos para enfrentar a crise, mas querem em contrapartida a aceleração do andamento das reformas das instituições multilaterais, que darão mais poder de voto aos emergentes.

Depois do evento com os Brics, Dilma terá uma reunião bilateral com o primeiro-ministro italiano, Mario Monti, também antes do começo do encontro do G-20. No início da noite, após as reuniões de trabalho do grupo do G-20, a presidente terá outro encontro bilateral, desta vez com o presidente da Rússia, Vladimir Putin.