Título: CNI reduz projeção para o PIB deste ano de 3,6% para 2,9%
Autor:
Fonte: Valor Econômico, 22/09/2006, Brasil, p. A4

A Confederação Nacional da Indústria (CNI) rebaixou suas estimativas de crescimento da produção do setor neste ano e também do Produto Interno Bruto (PIB) que tinham sido anunciadas no fim de abril. A revisão mais pessimista é a da própria indústria, que a CNI espera crescer 3,5%, ante os 5% calculados no início do ano. O PIB deve elevar-se apenas 2,9%, frustrando a expectativa de variação de 3,7% para 2006.

O presidente licenciado da CNI, deputado federal Armando Monteiro Neto (PTB-PE), admitiu que as revisões feitas obedeceram ao medíocre crescimento do PIB no segundo trimestre, estimado pelo IBGE em 0,5% em relação ao período anterior. Mas o pior é que alguns dados deste terceiro trimestre também foram considerados. "Essa revisão foi marcada por aquele tombo do segundo trimestre. Não é provável algo que possa nos levar a pensar em recuperação no segundo semestre, porque o tombo foi grande e a contribuição do setor externo está começando a perder força", comentou.

Na opinião de Monteiro Neto, o sentimento é de frustração porque o Brasil terá novamente um ano de crescimento muito abaixo da média dos países emergentes. "Nos últimos quatro anos, a média indica que o crescimento foi medíocre. Essa tem sido a marca do Brasil nos últimos 20 anos. Para 2007, o que se projeta é algo pouco acima de 2006", lamentou.

Segundo o documento Informe Conjuntural, divulgado ontem pela CNI, carga tributária excessiva, gastos públicos elevados, juros altos e real valorizado sufocam a atividade econômica no país. Nessa interpretação, o maior obstáculo para um crescimento sustentável é o aumento contínuo dos gastos públicos que, para serem suportados, exigem carga tributária alta e isso absorve, cada vez mais, recursos dos setores produtivos, impedindo mais investimentos. Segundo a Receita Federal, a carga tributária nacional, em 2005, foi de 37,37% do PIB.

Mas os analistas da CNI acreditam que os juros reais devem cair nos últimos meses do ano, porque a inflação está sob controle. Dessa maneira, o investimento pode ser retomado. A projeção da CNI é de aumento de 6,5% na formação bruta de capital fixo no segundo semestre, na comparação com o mesmo período do ano passado.

Na perspectiva do setor externo, a CNI prevê que as importações deverão crescer 15,5% em relação a 2005. A valorização do real também limita o crescimento das exportações. Na previsão da CNI, a quantidade das vendas externas de bens e serviços vai aumentar apenas 2,5% na comparação com o volume registrado em 2005. Essas são as razões pelas quais o setor externo vai dar contribuição negativa de 1,5 ponto percentual na formação do PIB em 2006.

O diagnóstico do crescimento com base em quatro análises diferentes também será discutido na reunião de 24 de outubro do Conselho Nacional de Desenvolvimento Industrial (CNDI). A informação foi dada ontem pelo presidente da Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial (ABDI), Alessandro Teixeira. O governo vai consolidar o que há de consenso nos trabalhos preparados pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Instituto de Estudo do Desenvolvimento Industrial (Iedi) e pela consultoria Mc Kinsey.

Para o presidente licenciado da CNI, essas análises trazem a forte aposta na inovação e alertam para os impactos da mudança da anatomia do desenvolvimento. "Cada vez mais, um número menor de setores puxa o crescimento e isso é preocupante. É preciso definir uma estratégia que permita um desenvolvimento de maior amplitude", alertou Monteiro Neto. (AG)