Título: Petrobras antevê mercado de etanol ainda retraído em 2015
Autor: Batista , Fabiana
Fonte: Valor Econômico, 05/07/2012, Agronegócios, p. B14

O presidente da Petrobras Biocombustível (PBio), Miguel Rossetto, avalia que o tamanho do mercado de etanol não será em 2015 o que se imaginava há um ou dois anos. Por isso, neste momento, a estatal se restringiu a manter os investimentos em produção de etanol no período entre 2012 e 2016, em vez de aumentá-los, como esperava o mercado.

"Estamos cumprindo com os aportes na produção de etanol, mas não vamos investir mais recursos do que o anteriormente previsto porque vemos um encolhimento desse mercado até 2015. A orientação clara do conselho de administração da companhia é que todos nossos investimentos devem ser feitos quando há um retorno financeiro", esclarece Rossetto.

Ele diz ser preocupante o fato de o etanol ter tido em 2009 um market share no Brasil de 54% entre os veículos do chamado ciclo otto (que abastecem com etanol, gasolina e gás natural) e estar alcançando agora em 2012 uma participação de apenas 35%. "Esse recuo fez acender a luz laranja", diz o executivo sobre a baixa rentabilidade do setor.

Rossetto explica que dentro da categoria "biocombustíveis" há três áreas de negócios dentro da Pbio: produção, pesquisa e infraestrutura, cuja somatória de investimentos para o período entre 2012 e 2016 é de US$ 3,8 bilhões, recuo de US$ 300 milhões em relação ao previsto entre 2011 e 2015.

Essa retração refletiu o menor aporte na área de logística para etanol, cujos aportes para os próximos quatro anos recuaram de US$ 1,3 bilhão para US$ 1 bilhão. "A maior parte dos investimentos da Pbio na Logum [empresa de logística multimodal para etanol na qual a estatal tem 20%] já foram feitos no ano passado. A parcela para este ano é menor", diz Miguel Rossetto.

As outras duas áreas de negócios mantiveram a mesma previsão de recursos para o período entre 2012 e 2016, segundo o executivo. A de produção de biocombustíveis seguirá com US$ 2,5 bilhões e o Cenpes (Centro de Pesquisa e Desenvolvimento), com US$ 300 milhões.

Até agora, o braço de biocombustíveis da Petrobras investiu em torno de R$ 2 bilhões, para atingir até 2015 o processamento de 32 milhões de toneladas de cana-de-açúcar e a produção de 2 bilhões de litros de etanol. Para isso, se associou a três empresas do setor: a São Martinho, na criação da Nova Fronteira Bioenergia, para projetos em Goiás, a Guarani (Tereos Internacional), com foco em São Paulo, e a mineira Total.

No entanto, a meta de produzir 1,2 bilhão de litros com as três parceiras foi frustrada este ano, devido à falta das essenciais chuvas de janeiro a março, e rebaixada para 1 bilhão de litros. Entre maio e junho, os canaviais do Centro-Sul do Brasil tiveram outro revés com a ocorrência de chuvas atípicas, mas Rossetto garante que as últimas previsões estão mantidas. "Seguimos investindo em canaviais e em melhorias tecnológicas", afirma.

Fora dessas atuais parceiras, a PBio tinha ainda em mente realizar outros investimentos para atingir até 2015 a produção de 5,6 bilhões de litros de etanol. Para isso, a estatal tem na manga outros US$ 1,9 bilhão. Mas, diante da baixa viabilidade econômica de se investir na implantação de usinas novas de etanol ou de adquirir plantas já existentes, Rossetto já não nega que pode haver postergação das metas antes previstas para 2015. "Estamos acompanhando o desenrolar desse cenário", disse ele. Ele se refere também ao terceiro ano consecutivo de quebra na lavoura de cana, que tem trazido grandes barreiras à rentabilidade do setor, por elevar em demasia os custos de produção.