Título: Brasil fica atrás do Azerbaijão em ranking de competitividade global
Autor: Lamucci, Sergio
Fonte: Valor Econômico, 27/09/2006, Brasil, p. A2

O Brasil despencou mais uma vez no ranking de competitividade do Fórum Econômico Mundial. Neste ano, o país caiu nove posições, passando do 57º para o 66º lugar. Juros e spreads bancários elevadíssimos, gastos públicos crescentes, déficit fiscal alto, carga tributária astronômica, má qualidade de instituições públicas e corrupção preocupante são alguns dos principais fatores que explicam o tombo do Brasil no ranking liderado pela Suíça. Em 2004, o país ficou em 49 º.

O índice de competitividade global contempla nove aspectos: instituições; infra-estrutura; macroeconomia; saúde e educação primária; educação superior e treinamento; eficiência de mercado; prontidão tecnológica; sofisticação de negócios; e inovação. Coordenador da pesquisa do Fórum no Brasil, o professor Carlos Arruda, da Fundação Dom Cabral, explica que o tombo do país se deveu em grande parte ao mau desempenho de dois pilares, o institucional (queda do 79º para o 91º lugar) e o macroeconômico, (recuo do 91º para o 114º). O ranking analisou 125 países, 9 a mais que em 2005.

Arruda chama a atenção para o péssimo desempenho do país no quesito "extensão e efeito da carga tributária", que faz parte do pilar eficiência de mercado, no qual o país aparece na última posição. "O peso da carga tributária é assustador, afetando a competitividade das empresas que atuam no Brasil", diz ele.

As 197 empresas ouvidas também se queixaram do número de normas e procedimentos administrativos relacionados aos governos, o que levou o país a ficar em penúltimo nesse quesito. Isso afetou o resultado no pilar institucional, prejudicado pela baixa confiança nos políticos e o desperdício de gastos públicos.

No campo macroeconômico, a inflação baixa e os robustos superávits comerciais não foram suficientes para compensar problemas como os spreads elevados, o déficit fiscal alto (de 3,6% do PIB no ano passado, no resultado que inclui os gastos com juros) e uma dívida pública ainda grande.

O curioso, segundo Arruda, é que o Brasil vai razoavelmente bem nos indicadores "mais avançados" - como os de sofisticação empresarial e inovação, em que o país aparece no 38º lugar - e vai mal nos básicos, como os macroeconômicos e os institucionais.

O ministro da Fazenda, Guido Mantega, recebeu o resultado com estranheza. "Há uma discrepância entre o aval do Fórum e o que o mercado está entendendo sobre o Brasil" , disse ele, para quem a política econômica brasileira favorece os investimentos externos. Mantega lembrou que as agências internacionais de classificação de risco elevaram a nota do Brasil em 2006.

O professor Carlos Eduardo Gonçalves, da Faculdade de Economia e Administração (FEA) da USP, avalia que o ranking pode ter algumas distorções, como o Brasil aparecer atrás do Azerbaijão (64º ou de Barbados (31º), mas lembra que outras pesquisas também apontam muitos problemas na competitividade do país, como o relatório do Banco Mundial sobre a facilidade de fazer negócios.

Também surpreende o tombo da China, que caiu do 48º para o 54º posto, mesmo crescendo mais de 9% ao ano. O Fórum nota que o país vai muito bem no ambiente macroeconômico (o 6º melhor), combinando crescimento elevado, inflação baixa e situação fiscal sob controle, mas vai mal em outras frentes, como o ambiente institucional. Problemas com a independência do Judiciário, o respeito aos direitos de propriedade e até o baixo número de celulares e de acessos à internet atrapalharam o país.

A Suíça aparece na liderança do ranking pela primeira vez, o que reflete, segundo o relatório, o ambiente institucional saudável, a excelente infra-estrutura, mercados eficientes e altos níveis de inovação tecnológica. O curioso é que isso ocorre alguns meses depois de a Organização para a Cooperação do Desenvolvimento Econômico (OCDE) chamar a atenção para o fato de que o país cresceu menos que os países industrializados nos últimos anos. A OCDE também sugeriu mudanças para promover a concorrência interna.

Outros destaques do relatório são os países nórdicos. Finlândia, Suécia e Dinamarca aparecem logo depois da Suíça, contando, entre outros fatores, com uma situação fiscal robusta, que permite investimentos públicos elevados em educação e infra-estrutura e instituições fortes e transparentes.

Entre os latino-americanos, o Chile é o que está mais bem colocado, mantendo a 27ª posição do ano passado. Segundo o Fórum, isso se deve às instituições sólidas, transparentes e abertas e também à presença de mercados eficientes, relativamente livres de distorções. Na lanterninha, aparece Angola.

O Fórum também publica o índice de competitividade de negócios, no qual o Brasil caiu da 49ª para a 55ª posição. (Colaboraram Assis Moreira, de Genebra, e Murilo Camarotto, do Valor Online)