Título: Candidatos preveem gastar o dobro de 2008
Autor: Exman , Fernando
Fonte: Valor Econômico, 13/07/2012, Política, p. A8

A previsão de gastos dos 180 candidatos a prefeito nas 26 capitais do país dobrou em relação a 2008. As estimativas apresentadas ao TSE somam 1,1 bilhão. Em 2008 a previsão de gastos foi de R$ 611 milhões.

A cifra, obtida por meio de um levantamento feito pelo Valor na base de dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), é bastante superior aos R$ 262,1 milhões registrados em despesas pelos candidatos que disputaram as eleições nas capitais em 2008. Os candidatos costumam estimar mais do que efetivamente gastam porque podem sofrer penalidades se a previsão ficar aquém do efetivamente gasto.

A pesquisa não considerou os gastos previstos pelos comitês financeiros únicos dos partidos e as despesas dos seis candidatos à Prefeitura de Florianópolis, única capital que não alimentou o TSE.

Em um momento em que o governo federal se esforça para destravar investimentos e aumentar o volume de dinheiro em circulação para combater os efeitos da crise financeira global, as eleições municipais de outubro poderão injetar recursos significativos na economia. Segundo dirigentes partidários, o impacto da movimentação desses recursos não deve ser grande no Produto Interno Bruto. Por outro lado, deverá garantir maior dinamismo a segmentos específicos da economia, como a indústria gráfica, o setor de comunicações e o jurídico.

Para dirigentes partidários, a diferença demonstra não só que as campanhas políticas estão mais caras. Indica também que as legendas estariam cada vez mais rigorosas com a contabilidade feita pelos tesoureiros de seus candidatos a fim de combater o chamado caixa 2. "As pessoas estão aproximando as campanhas das campanhas", ironizou o presidente do PSDB, deputado federal Sergio Guerra (PE).

O deputado José de Filippi Júnior (PT-SP), que foi tesoureiro da candidatura de Dilma Rousseff à Presidência da República, lembra que os limites de gastos previstos pelos candidatos são estimativas que podem ser atualizadas durante a campanha e variam se as disputas têm segundo turno. "As campanhas estão ficando mais caras, mas também os partidos estão exigindo uma conduta de contabilizar tudo."

Para Filippi, as disputas municipais devem dinamizar os setores de pesquisas de opinião, indústria gráfica, comunicações e serviços de transportes. "O impacto é questionável no todo da economia, é mais pontual", ponderou. "Mas vai dinamizar muito esses setores."

O presidente do PSDB lembrou ainda que as prioridades do seu partido são as capitais, as grandes cidades e os municípios com "capacidade de formação de opinião pública". "Temos investido muito na parte de internet e no esforço de atualização e unificação de imagem", destacou.

O reforço dos orçamentos dos partidos na área digital, porém, ainda não provoca grandes sustos na indústria gráfica. Vice-presidente da Associação Brasileira da Indústria Gráfica (Abigraf), Levi Ceregato afirma que os efeitos positivos da campanha sobre o setor já são perceptíveis. A expectativa da entidade é que as eleições gerem aumento de 15% da demanda no "segmento promocional" do setor gráfico. Tal área responde por cerca de 10% da indústria, que em 2011 faturou R$ 29 bilhões.

Devido ao aumento da produtividade e à adoção de novas tecnologias, o impacto na indústria gráfica também deverá ser pequeno. Atualmente, o setor emprega 222 mil pessoas. A expectativa da Abigraf é de que ocorra um crescimento de 5% no número de vagas durante o período eleitoral. Todas temporárias. "Nas grandes cidades, existe um impacto da mídia eletrônica. Não chega a ser significante, mas tem. Nas médias e pequenas, o papel ainda tem uma credibilidade muito grande. É nisso que apostamos. O santinho, que é o carro chefe, é ainda imbatível empreço", afirmou Ceregato.

Com 12 candidatos, a disputa pela Prefeitura de São Paulo poderá movimentar R$ 326,5 milhões, a maior cifra registrada. Na sequência, vêm Curitiba, Salvador e Belo Horizonte. A capital que registrou o maior aumento proporcional na previsão de gastos foi João Pessoa. Pelo menos por essas estimativas iniciais, a campanha de José Serra (PSDB) à Prefeitura de São Paulo pode ser a mais cara do país, com gastos de até R$ 98 milhões. A segunda mais perdulária pode ser a do principal adversário do tucano, o petista Fernando Haddad (R$ 90 milhões).

O levantamento mostra ainda que as campanhas dos candidatos que concorrem à reeleição ou são dos mesmos partidos dos atuais prefeitos e governadores de seus Estados tendem a ter as campanhas com as maiores previsões de gastos. Além do caso do próprio Serra, o mesmo ocorre em outras capitais.

Em Porto Alegre, por exemplo, as campanhas do prefeito José Fortunati (PDT) e Adão Villa (PT) devem ser as mais caras. Os prefeitos de Curitiba, Luciano Ducci, do Rio, Eduardo Paes, e de Belo Horizonte, Márcio Lacerda, também têm limites de gastos maiores do que seus adversários. (Colaboraram Vandson Lima, de São Paulo, e Lucas Palma, de Brasília)