Título: ThyssenKrupp lança usina de US$ 3,6 bi
Autor: Durão, Vera Saavedra
Fonte: Valor Econômico, 28/09/2006, Empresas, p. B7

A Companhia Siderúrgica do Atlântica (CSA), primeira grande usina de aço a ser construída no Brasil desde a década de 80, promete sair do papel amanhã, com a presença do principal executivo do grupo alemão ThyssenKrupp AG, Ekkehard D. Schulz, controlador do projeto, que vai custar US$ 3,6 bilhões, incluindo um terminal portuário, uma coqueria e uma térmica, em Santa Cruz, município do Rio.

A siderúrgica integrada da CSA vai produzir 5 milhões de toneladas de placas de aço ao ano, 100% voltada para exportação. Do total, 2,2 milhões de toneladas serão enviadas ao mercado europeu para usinas da ThyssenKrupp e 2,3 milhões serão colocadas no mercado norte-americano. A usina entra em operação em março de 2009.

De olho no mercado americano, a grande expectativa da ThyssenKrupp é fechar negócio com a Arcelor Mittal para comprar a canadense Dofasco, que em 2005 produziu 4,2 milhões de toneladas e faturou US$ 3,8 bilhões, visando abastecê-la com placas da CSA.

O grupo alemão chegou até a sondar a japonesa JFE para ser sua sócia minoritária na fábrica brasileira, pois já tem com a Thyssen um acordo tecnológico na Europa e mantém acerto semelhante com a Dofasco em aço galvanizado para a indústria automotiva. A JFE, segundo fontes do setor siderúrgico, não mostrou interesse no negócio.

De acordo com relatórios de analistas estrangeiros, a transação entre a Arcelor Mittal e a ThyssenKrupp já está sendo objeto de conversa entre as partes. A venda da usina canadense para os alemães pode ser fechada num prazo de seis meses. O valor da Dofasco é estimado por fontes de bancos em US$ 4,6 bilhões a US$ 5 bilhões.

Relatório do Credit Suisse destaca que Lakshmi Mittal, presidente do grupo Mittal, confirma que o grupo continua comprometido em vender o ativo para a ThyssenKrupp. Uma fonte do setor disse ao Valor que a aquisição da Dofasco viabiliza a estratégia do investimento do grupo alemão na CSA.

A usina do Rio contará com participação minoritária de 10% da Vale do Rio Doce, que vai fornecer o minério de ferro para fabricação do aço. A ThyssenKrupp vai deter 90% da siderúrgica, que vai exigir investimentos de US$ 2,4 bilhões. Cada um dos sócios aportará capital equivalente às suas participações. Esse valor incluirá a construção do terminal portuário.

Mais US$ 1,2 bilhão serão gastos nos projetos da coqueria, térmica e fábrica de gases industriais. Cada projeto será feito por uma empresa, que venderá seus serviços para a CSA. Na avaliação de analistas de mercado, a usina da ThyssenKrupp é um projeto interessante por ter uma logística integrada.

As negociações entre ThyssenKrupp, o governo fluminense e a Vale para construir a CSA tiveram início no final de 2004. O projeto se viabilizou em agosto deste ano, quando o conselho do grupo alemão deu o "sinal verde" para tocar as obras e fazer as licitações de máquinas e equipamentos, dentre os quais, dois alto-fornos.

Com a valorização do real, o investimento encareceu em pelo menos US$ 1 bilhão, o que levou o representante da Thyssen no Brasil, Aristides Corbellini, agora indicado presidente da empresa, a negociar com a indústria de bens de capital local uma maneira de baratear os equipamentos e ainda obter isenção de impostos nas áreas federal, estadual e municipal.

A ThyssenKrupp, depois de conseguir a isenção dos impostos federais (PIS-Cofins e IPI) e do ICMS (estadual) e do ISS (municipal) para o porto, está tentando com o governo federal e com a Abimaq (entidade dos fabricantes de equipamentos) obter ex-tarifário para os alto-fornos e equipamentos de aciaria e lingotamento contínuo. O ex-tarifário é concedido somente para máquinas com similar nacional, mas os alemães querem uma exceção, pois se o obtiverem para esses bens de capital, o imposto de importação cai de 14% para 2%.

Esses bens de capital são os mais caros e vão ser em sua maioria importados da China pelas empresas que ganharam a concorrência para a CSA. O primeiro pacote de alto fornos foi ganho pela Paul Wurth, controlada da Arcelor. Serão importados 85% dos equipamentos dos altos-fornos, em valor de US$ 360 milhões. A Siemens Vai (Vöest Alpine) ganhou o pacote de aciaria e lingotamento contínuo e vai importar 88% da China, a um custo de US$ 430 milhões. Também virão no pacote para o Brasil para montar e operar estes equipamentos cerca de 600 a 1 mil chineses.

O governo federal através da Camex, um órgão do Ministério do Desenvolvimento, vem pressionando a Abimaq para abrir mão do ex-tarifário para a CSA. A questão está gerando polêmica na indústria de bens de capital nacional. A Abimaq ainda não deu sua resposta à CSA, pois teme criar precedente que abra de vez o mercado brasileiro de máquinas e equipamentos para os chineses.

O executivo da Thyssen queria anunciar isso amanhã. A Abimaq ainda resiste, mesmo sob o argumento de que se não aprovar a medida a CSA poderá desistir de comprar 40% das máquinas no Brasil.