Título: Eike precisa retomar maior ativo: confiança
Autor: Valenti , Graziella
Fonte: Valor Econômico, 10/07/2012, Empresas, p. B5

Eike Batista é famoso no Brasil e fora também. Essa fama é produto da riqueza gerada, principalmente para ele próprio, em torno de seus projetos grandiosos. Tal sucesso foi o alicerce de sua credibilidade no mercado. Foi assim que ele levantou R$ 41 bilhões em capital e dívida, segundo cálculos do Valor, junto a investidores para explorar as oportunidades que vislumbrou.

Os números fornecidos pela holding EBX, que reúne todo os negócios do empresário, são ainda maiores. O grupo afirma ter obtido US$ 26 bilhões, desde 2005, só com a venda de ações na bolsa e de ativos, com destaque para o negócio entre a MMX, a primeira das companhias a ser listada na BM&FBovespa, e a Anglo American. Contudo, a companhia não fornece detalhes desse cálculo.

Nos últimos cinco anos, por onde andava, Eike era recebido com um tapete vermelho. Agora, o empresário terá de usar sua fama de uma forma diferente - para mostrar que sabe gerenciar projetos e extrair resultado deles.

Das dezenas de bilhões levantados por Eike desde 2006, que incluem as vendas de participações minoritárias da holding EBX, R$ 25,2 bilhões foram investidos em obras, máquinas e equipamentos e R$ 725 milhões contabilizados como despesas operacionais até março. (veja no site do Valor um quadro detalhado sobre o estágio de cada empresa)

Sobram no caixa das empresas listadas cerca de R$ 10,5 bilhões, sendo que há mais R$ 1 bilhão aportados recentemente pela alemã de energia E.ON que ainda deve aparecer no balanço de junho da MPX e mais US$ 2 bilhões foram para a holding EBX com a aplicação pelo fundo Mubadala.

Apesar de ter o discurso considerado agressivo, Eike tem uma política conservadora para o caixa de suas empresas. Algumas delas já devam gerar resultado operacional positivo neste ou no próximo ano. Mas o empresário não conta com esse dinheiro para o curto prazo e deixa a liquidez de quase todas reforçada.

Justamente pelo conforto desse caixa, os investidores não vislumbram, neste momento, risco de "quebra" no grupo.

"As companhias estão capitalizadas, com recursos suficientes para garantir a execução dos projetos. Nos últimos anos, já foram implantadas oito minas de ouro e uma de prata, no Brasil, Canadá e Chile. Investimentos nas áreas de infraestrutura e recursos naturais desenvolvem-se num tempo natural de maturação de médio a longo prazos", disse a EBX em comunicado ao Valor.

Contudo, a continuidade da execução dos projeto de Eike depende sim da manutenção da capacidade do empresário de levantar dinheiro para financiar os investimentos. As companhias ainda estão em fase inicial e demandarão um grande volume de recursos.

A MMX e a LLX, por exemplo, possuem projetos de R$ 4 bilhões e R$ 1,8 bilhão, respectivamente, que a atual estrutura de capital não suporta. Segundo a própria EBX, o plano de investimentos do grupo é de US$ 15,7 bilhões.

Por isso, a credibilidade continua sendo um ativo essencial para o empresário. A preocupação com as finanças das companhias está concentrada na capacidade de Eike de reverter a desconfiança para quando chegar a hora de levantar mais recursos.

Quem conhece o empresário não duvida que ela conseguirá. Mas a receita inclui admitir sua preocupação e focar na reconstrução da imagem

No mercado, circula um consenso de que há caixa suficiente pelos próximos dois anos, em média. Esse é o prazo para o empresário mudar o humor com seus projetos.

Os investidores querem uma só notícia: resultados. Não estão mais dispostos a se contentar com o discurso otimista de Eike sobre o futuro, nem a acreditar na sua simplificação dos desafios naturais das áreas em que atua.

Além disso, investidores ouvidos pelo

Valor

apontam que gostariam de ver o próprio Eike colocar mais dinheiro nos projetos que necessitam e a continuidade da atração de sócios estratégicos que possam servir de aval aos negócios - como a E. ON na MPX, a chinesa Wuhan e a sul-coreana SK na MMX e a Hyundai na OSX.

Entre as recomendações e desejos do mercado também está o enxugamento da EBX, para que Eike possa se concentrar nos projetos de fôlego. A holding tem 14 companhias, incluindo não só os projetos de mineração e infraestrutura, mas também atividades no setor imobiliário e entretenimento.

As críticas que repercutiram no mercado no fim de junho não continham nenhum novo elemento, além dos dados de OGX que iniciaram a frustração.

Todas são características antigas dos negócios, mas que, de repente, se viraram contra o grupo neste momento. Os riscos já existentes cresceram aos olhos do investidor.

Sintoma disso foram as revisões de projeções de analistas sobre resultados da OGX. As estimativas passaram a embutir descontos de 40% a 50% em relação ao que é prometido.

A primeira queixa que se ouviu após o evento da OGX foi sobre o otimismo de Eike, que poderia ter criado uma falsa expectativa. A visão positiva do empresário se mantém, mas o investidor da crise está muito mais cético e crítico.

A gorda remuneração com planos de opções também passou a ser um peso negativo na percepção geral. A avaliação é que, no lugar de alinhado com o risco do investidor, o administrador das empresas "X" é incentivado a sustentar e até potencializar o otimismo de Eike.

Em 2010, cinco empresas do grupo (OGX, MMX, MPX, LLX e OSX) pagaram R$ 243,8 milhões aos executivos, dos quais R$ 222,5 milhões eram em opções de ações, ou 91%. Em 2011, com a primeira queda no valor dos papéis, o total diminui, mas a agressividade não. Dos R$ 164,6 milhões pagos aos administradores, R$ 131,7 milhões, ou 80%, eram dos planos baseados em ações.

O pagamento elevado com ações era uma forma do grupo atrair e reter talentos para os projetos. Mas agora muitos investidores veem nesse modelo um caminho para os executivos superdimensionarem os prognósticos, pegando carona na credibilidade de Eike. Por isso, há quem de fato acredite que o empresário não sabia que alguns resultados seriam mais fracos do que o esperado.

Outra queixa é o discurso coletivo de Eike, que fala sempre como grupo. Como as companhias são abertas individualmente, o investidor não quer correr riscos que não sejam do negócio no qual escolheu investir.

Não por outro motivo, as ações de todas as empresas "X" sofreram enquanto a OGX perdia mais de R$ 9 bilhões de seu valor de mercado no fim de junho, por conta das fraturas naturais interligando dois poços no Campo de Tubarão Azul - que diminuem a produtividade na área para 5 mil barris por poço.

A recente recuperação dos papéis do grupo EBX nos primeiros dias da semana passada, após a demissão do presidente da OGX, Paulo Mendonça, pode indicar que a quebra de confiança ainda não virou uma fratura exposta.