Título: Estímulo ao crédito reduz compulsórios em R$ 65 bi
Autor: Bittencourt , Angela
Fonte: Valor Econômico, 18/07/2012, Finanças, p. C3

O crédito aumenta sem estardalhaço e especialistas consideram que até um pouco aquém do que gostaria o governo. Mas não é por falta de dinheiro. Em meio a discussões sobre inadimplência e sobreendividamento das famílias - tema sobre o qual não há consenso entre analistas do mercado -, os bancos estão mais cautelosos e atentos ao risco. Mas convivendo com mais recursos. Em pouco mais de seis meses, o sistema bancário "acolheu" cerca de R$ 65 bilhões de ex-depósitos compulsórios.

Após a liberação de R$ 100 bilhões de recolhimentos sobre depósitos bancários para prover liquidez em reais à economia durante a crise de 2008/2009, o Banco Central (BC) reverteu algumas decisões de política monetária no fim de 2010. E uma delas foi a recomposição dos depósitos compulsórios, o que resultou em retirada de R$ 61 bilhões de circulação no ano passado. O dinheiro migrou dos bancos para o BC, reforçando os depósitos compulsórios.

Em dezembro do ano passado, os compulsórios totais do sistema colaram em R$ 450 bilhões, inclusive porque os recolhimentos crescem como efeito da sazonalidade dos depósitos à vista - normalmente mais elevados em dezembro e janeiro por causa do 13º salário. Mas vale lembrar que em 2011, embora a atividade econômica não estivesse bombando, a inflação acumulada em 12 meses chegou a 7,31% no terceiro trimestre. Portanto, algum aperto na liquidez orientado pelo BC fazia sentido.

Agora em 2012, além de a economia continuar fraquejando e o governo estar claramente disposto a incentivar o crescimento - num primeiro momento reforçando o discurso sobre o crédito e depois sobre investimentos -, a inflação vem declinando em 12 meses e passou a conspirar a favor do BC e de mais dinheiro na praça. Nesse contexto, os depósitos compulsórios dos bancos no BC recuaram a R$ 385 bilhões ao fim da primeira semana de julho.

A queda respeitável de R$ 65 bilhões no saldo dos depósitos compulsórios entre o fim de 2011 e a primeira semana de julho não refletiu redução de alíquotas de recolhimento sobre recursos a prazo ou à vista. O recolhimento encolheu porque ocorreram algumas alterações nas regras. Mas isso não muda o fato: os compulsórios bancários no Brasil se mantêm como destaque internacional e só deixaram de receber ácidas críticas quando, em 2008/2009, evitaram um colapso no crédito doméstico em função da crise financeira global.

Entre as mudanças recentes que afetaram esses depósitos estão a criação de operações dedutíveis no recolhimento compulsório sobre recursos à vista; estímulo à utilização de operações dedutíveis no recolhimento sobre recursos a prazo; e utilização de outras formas de captação - não sujeitas aos recolhimentos - por parte das instituições financeiras, reduzindo, como consequência, o valor sujeito a recolhimento.

Entre dezembro de 2011 e junho de 2012, o valor sujeito a recolhimento compulsório sobre recursos a prazo diminuiu R$ 97 bilhões, sendo aproximadamente R$ 20 bilhões em exigibilidade, e R$ 13 bilhões a mais contratados em operações dedutíveis no compulsório sobre recursos a prazo.

Quanto ao valor sujeito a recolhimento sobre os recursos à vista, a redução foi de R$ 15 bilhões, aproximadamente R$ 6 bilhões em exigibilidade. E R$ 2,5 bilhões foram utilizados em operações dedutíveis no compulsório sobre recursos à vista. Os dados são do BC.

Há quase dois meses, o BC passou a mobilizar parcelas desses compulsórios para fins bem específicos: para o financiamento à venda de automóveis e da safra agrícola 2012/2013. E essa destinação focada de, respectivamente, R$ 18 bilhões e R$ 10,28 bilhões vem produzindo efeito no saldo dos recolhimentos compulsórios, mas ainda assim se mantêm gigantescos.