Título: Cid Gomes leva PSB ao governo do Ceará
Autor: Ulhôa, Raquel
Fonte: Valor Econômico, 02/10/2006, Política, p. A16

A vitória no primeiro turno do candidato do PSB ao governo do Ceará, Cid Gomes, por uma coligação de forças que apóiam o presidente Luiz Inácio Lula da Silva - PT, PCdoB, PMDB governista e legendas menores -, interrompe um ciclo de cinco sucessivos governos tucanos, mas não significa ruptura com as forças que deram início ao projeto de modernização do Estado em 1986, sob a liderança do hoje senador Tasso Jereissati, presidente nacional do PSDB.

Assim como o ex-ministro Ciro Gomes (PSB), 48, seu irmão mais velho, Cid, 43, começou a carreira política no PSDB, partido pelo qual foi eleito para a primeira de suas duas gestões como prefeito de Sobral, município a 240 quilômetros de Fortaleza e 155 mil habitantes. No segundo mandato, já era do PPS e hoje está no PSB, seguindo os movimentos políticos do irmão. "Tudo nasceu no partido", disse Tasso, lembrando a origem tucana do futuro governador.

Na vaga para o Senado, porém, o cenário não é tão positivo para Tasso, com a derrota de Moroni Torgan, do PFL, para Inácio Arruda, do PC do B. Moroni tinha a eleição garantida para deputado federal, mas, a pedido de Tasso, saiu para o Senado. O apoio a Lúcio Alcântara e o conflito entre o governador e Tasso, porém, acabaram por prejudicar Moroni. Segundo pefelistas, o presidente nacional do PFL, Jorge Bornhausen, responsabilizou a briga entre Tasso e Lúcio pela má performance de Moroni.

No governo, Cid quer mostrar autonomia em relação ao irmão, com quem diz manter relação de independência e solidariedade. "Quem vai governar sou eu, com os partidos da aliança, os melhores quadros do Ceará, fazer um governo participativo, que estimule a criatividade dos cearenses", afirmou. Promete medidas "ousadas", principalmente nas áreas de educação, saúde e segurança e políticas "inovadoras" na economia.

Tasso não se considera derrotado pelo revés do governador Lúcio Alcântara (PSDB), que disputou a reeleição à sua revelia, coligado com o PFL. Lúcio diz que enfrentou "grupos poderosos" e foi "candidato sozinho". Deve deixar o PSDB. Oficialmente afastado da disputa pelo governo estadual, Tasso fez campanha na capital e no interior apenas para o candidato tucano a presidente, Geraldo Alckmin.

"Nunca pretendi ser o dono político do Ceará", disse ele, considerando a eleição de Cid uma "evolução tranqüila" do projeto de mudanças iniciado em 86, já que um dos pilares era a modernização da gestão. "A alternância de poder é perfeitamente natural após 20 anos", disse. De tradicional família de políticos sobralense, Cid era pouco conhecido, apesar dos 14 anos de vida pública (seis como deputado estadual e oito como prefeito de Sobral). Aos 32 anos, foi o presidente da Assembléia mais novo de sua história.

Tasso não mantém com o futuro governador a mesma relação pessoal que o liga a Ciro e sobrevive às divergências políticas. Mas Tasso e Cid tentaram costurar uma aliança para lançar o ex-prefeito candidato comum. As conversas foram interrompidas porque Lúcio não aceitou disputar o Senado. A derrota de Lúcio não deverá levar o PSDB a uma oposição aguerrida ao governo estadual. Tasso defenderá que o partido apóie medidas importantes para o Estado, mesmo não participando do governo. A Comissão Executiva Nacional do PSDB estudará ações contra o Diretório Estadual do partido por infidelidade partidária, pelo fato de Lúcio ter usado imagens de Lula em seu programa eleitoral.

O que pode atrapalhar a aproximação é o PT da prefeita de Fortaleza, Luizianne Lins, que apoiou Cid: "Não conheço o perfil do PT em termos de administração, no Brasil conheço uma série de escândalos e isso não tem nada a ver com o Cid", diz. "Em termos de modernização, nada, em termos de economia não conheço projeto próprio do PT." E acrescenta: "Aqui no Ceará até agora não vi modelo de administração, até agora o que caracteriza a Prefeitura é a falta de modelo".

Com um vice do PT, o professor Francisco José Pinheiro, Cid diz ter apenas dois compromissos para a formação de governo: com sindicatos dos trabalhadores na agricultura e com a CUT, na escolha das pastas da Agricultura e do Trabalho, respectivamente.