Título: Governistas e oposição trocam acusações no Congresso
Autor: Cunto , Raphael Di
Fonte: Valor Econômico, 03/08/2012, Política, p. A8

O julgamento do mensalão foi motivo de debates ásperos na Câmara dos Deputados, com troca de acusações entre parlamentares por causa do tratamento dado à ação penal no jornal oficial da Casa. Enquanto a oposição acusou o presidente, deputado Marco Maia (PT-RS), de ter censurado o veículo interno de comunicação, o petista rebateu as críticas e apontou que a minoria "não tinha mais o que fazer" ao acompanhar o STF.

O PPS foi o primeiro a denunciar que o "Jornal da Câmara" não trazia em suas oito páginas nenhuma reportagem sobre o julgamento do esquema de compra de parlamentares em troca de apoio político no governo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. "O PT começou a testar o controle social da mídia no Jornal da Câmara. Isso é um verdadeiro absurdo", disse o líder na Câmara, deputado Rubens Bueno (PR). O presidente do PPS, deputado Roberto Freire (SP), apontou também que o jornal da Casa "ignorou", sob ordens da Presidência, os discursos de 11 parlamentares da base governista e da oposição sobre o assunto na véspera do julgamento.

Maia negou as acusações de censura ao veículo de comunicação oficial. "Nunca fiz isso, não farei e não tenho poder de censurar nenhum parlamentar e ninguém de dar declarações sobre o mensalão", disse. "Não influencio, de forma alguma, para colocar ou tirar matérias dos veículos de comunicação da Câmara dos Deputados". O presidente, que não costuma elevar ao tom ao reagir às críticas da oposição na Casa, partiu para ofensiva e fez declarações duras contra o presidente do PPS. "O deputado Roberto Freire, que tem feito algumas acusações, conhece muito bem os sistemas autoritários pela sua história e pelos partidos dos quais ele já fez parte. E de traição ele conhece muito bem", atacou.

Os cerca de 12 membros do DEM, PPS e PSDB que acompanharam a sessão classificaram como "chicana" a tese de desmembramento do processo do mensalão apresentada por Márcio Thomaz Bastos, advogado de José Roberto Salgado, ex-diretor do Banco Rural. "No fundo, isso é chicana porque se a tese dele fosse aceita, teria que começar todo o processo, de baixo", afirmou Freire. A mesma posição foi defendida pelo vice-líder do DEM, deputado Ronaldo Caiado (GO), que avaliou que o objetivo da questão apresentada pelo advogado era atrasar a análise dos crimes.

"Os que não tinham foro privilegiado agiram sob ordens de quem tinha [prerrogativa de] foro", declarou. Thomaz Bastos queria que os réus sem foro privilegiado fossem julgados na Justiça de 1ª instância, mas a tese foi comprada apenas por dois ministros.

O Senado ficou esvaziado. Em uma sessão do "recesso branco", apenas dois parlamentares citaram o caso do mensalão em discursos na tribuna do Senado. O líder do PSDB, Álvaro Dias (PSDB-PR), foi o mais incisivo. "O julgamento pode significar o início do fim desta cultura de impunidade que lastimavelmente provoca indignação, sobretudo da parte decente desse país", declarou.

Já o senador Sérgio Souza (PMDB-PR) citou o mensalão para exemplificar a necessidade de ser adotado o financiamento público e exclusivo para as campanhas eleitorais, como forma de extinguir o chamado caixa dois. "Caixa dois ou não, o fato concreto é que recursos foram arrecadados e distribuídos sob o manto do financiamento ou da quitação de dívidas de campanhas eleitorais", defendeu.