Título: PT e PMDB anunciam acordo de rodízio na Câmara
Autor: Junqueira , Caio
Fonte: Valor Econômico, 08/08/2012, Política, p. A8

Incentivada pelo Palácio do Planalto, a cúpula do PT vai hoje até a sede do PMDB para anunciar que cumprirá o acordo de rodízio na presidência da Câmara firmado em dezembro de 2010. Trata-se do primeiro passo concreto na sinalização que a presidente Dilma Rousseff vem dando para mostrar ao aliado que ele é o partido preferencial em sua coalizão.

O interesse da presidente é dissipar a tensão entre as duas bancadas em razão das articulações de setores do PT que queriam descumprir o trato e incentivar uma candidatura própria. O grupo do líder do governo, Arlindo Chinaglia (PT-SP), é apontado por correligionários como um dos entusiastas dessa tese.

Segundo interlocutores do Palácio do Planalto, haverá ainda outros passos ainda pró-PMDB após as eleições. Tudo com vistas às eleições de 2014 e a uma rearticulação de sua base aliada. Uma medida em avaliação é a concessão de um ministério de porte à legenda, como o dos Transportes, hoje na mão de um PR que não o reconhece e que mais atua no Congresso como oposição do que como governo. Outro é a troca de Chinaglia ainda neste ano, em razão de seu desgaste com a ministra das Relações Institucionais, Ideli Salvatti. O deputado Paulo Teixeira (PT-SP) é mais uma vez o mais cotado para substituí-lo. Mas outros nomes também já circulam, como Henrique Fontana (PT-RS) e Ricardo Berzoini (PT-SP).

No anúncio de hoje, estarão presentes os presidentes do PT, Rui Falcão, do PMDB, senador Valdir Raupp, e os líderes da bancada do PT, Jilmar Tatto (SP), e do PMDB, Henrique Eduardo Alves (RN), o maior beneficiário do ato. Será ele o candidato do partido, em uma indicação oficial que só deve ocorrer após as eleições municipais.

"É o primeiro passo de uma longa caminhada onde vamos conversar com todos os partidos e todos os deputados, individualmente", afirmou Alves. "Não queremos atropelar a agenda. Nada de oba-oba e clima de já ganhou", concluiu.

Com o anúncio do apoio do PT, Alves passa a ser o favorito na eleição, que ocorrerá em fevereiro de 2013. Até então, o que dava força às outras bancadas para enfrentá-lo era a dúvida se o PT o apoiaria ou incentivaria alternativas dentro e fora do partido. Somados, PT e PMDB têm 166 votos.

Ainda assim, há possibilidade de outros nomes desafiarem essa aliança. PSB e PSD, com 78 deputados, consideram essa hipótese. Mas ela foi enfraquecida com a entrada de Dilma no jogo. Hoje, ela só sairia mesmo com o aval de seus presidentes nacionais - respectivamente, o governador de Pernambuco, Eduardo Campos, e o prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab. Do "independente" PR, que lidera um bloco com 44 deputados, também pode sair um candidato.

A oposição, que não tem mais do que 90 deputados, costuma respeitar a regra da proporcionalidade, segundo a qual a maior bancada ou alguém por ela indicado deve assumir a presidência. Mas as articulações eleitorais deste ano afastaram o maior partido desse campo, o PSDB, do PMDB. Os tucanos ontem falavam que o jogo está zerado e que é possível apoiar algum candidato do PSB, se houver. Justificam o movimento numa reaproximação dos partidos nas alianças eleitorais.