Título: Culpa é das auditorias, diz BC
Autor: Cristino, Vânia; Caprioli, Gabriel
Fonte: Correio Braziliense, 11/11/2010, Economia, p. 16

Falhas no balanço do Panamericano são atribuídas a empresas que atestaram números da instituição

O Banco Central jogou para cima das empresas de auditoria a culpa pela demora na identificação das irregularidades contábeis do Banco Panamericano, do empresário Silvio Santos. Na visão dos analistas do mercado financeiro, foi justamente com base nessas consultorias especializadas, que agora mostraram-se frágeis, que a Caixa Econômica Federal decidiu adquirir, em dezembro de 2009, o equivalente a 49% do capital votante e 36,6% do controle da instituição por R$ 739,2 milhões. Ontem, o BC apressou-se em livrar-se de críticas. Argumentou que sua função é analisar balanços e não conferir se eles foram adulterados.

Em reflexo da desconfiança dos investidores, as ações do Panamericano caíram quase 30% e foram negociadas abaixo do valor contábil no pregão de ontem, o que significa que o banco, com valor de mercado em torno de R$ 1,2 bilhão, rende menos do que seus custos de captação.

O mercado colocou-se do lado do BC ao avaliar que a Delloitte, auditora contratada pela Caixa para fiscalizar as contas e descobrir fraudes, falhou e arrastou com ela não só o BC, como também o Banco Fator e a consultoria KPMG. Os analistas passaram a questionar o papel das auditorias independentes. Armando Castelar, coordenador da área de economia aplicada da Fundação Getulio Vargas (FGV), lembra que fraudes são difíceis de detectar. Na sua visão, o problema é que tanto o BC quanto as empresas de avaliação de risco partem do princípio de que a contabilidade é fidedigna.

¿Os auditores são os responsáveis. É no mínimo estranho que não tenham identificado nada diferente. O problema com o Panamericano sugere que é hora de o BC verificar se não tem outros peixes passando por esse buraco da rede¿, disse Castelar. Por meio da assessoria de imprensa, o Banco Fator disse que apenas costurou a negociação ao ser procurado pela Caixa em junho de 2009. A instituição recebeu os dados já auditados pela Delloitte, relativos a março de 2009 e contratou a KPMG, para nova auditoria, além do escritório de advocacia Bocater e Silva para análise da parte legal. A ABDO, outra auditora, também participou do processo.

Prejuízo O Banco Fator garantiu que, até dezembro de 2009, quando foi entregue o resultado do trabalho, ¿tudo estava dentro dos padrões¿. Procurada pelo Correio, a Delloitte informou que ¿de acordo com o seu Código de Ética e Conduta Profissional e em respeito aos compromissos de confidencialidade assumidos, não emite comentários sobre situações relacionadas a clientes¿. Ontem, a Caixa garantiu que o aporte de recursos evitou qualquer tipo de prejuízo aos sócios e aos clientes do banco.

As informações desencontradas, no entanto, dominaram o cenário a ponto de a Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado convidar o presidente do BC, Henrique Meirelles, e a presidente da Caixa, Maria Fernanda Ramos Coelho, para dar explicações sobre o empréstimo de R$ 2,5 bilhões concedido ao Panamericano. Questionadas sobre a qualidade das avaliações conferidas às instituições financeiras, as principais agências de classificação de risco evitaram dar declarações. Duas das maiores, a Fitch Ratings e a Standard and Poor¿s, não se pronunciaram. A Moody¿s afirmou que estuda o rebaixamento da nota do banco e a Austin Ratings, diante das suspeitas de irregularidades, retirou as notas atribuídas ao Panamericano e suspendeu sua avaliação.