Título: Israel abre as suas fronteiras para a TI
Autor: Borges, André
Fonte: Valor Econômico, 27/02/2007, Empresas, p. B2

Espremido contra a parede numa ruela da cidade antiga de Jerusalém, o vendedor de falafel mergulha a colher no tacho com óleo quente. Retira alguns bolinhos de grão-de-bico e lança tudo para dentro de um pão sírio, com tomate, batata, pepino, rabanete e molho taratur. Estende a mão e oferece um tipo de sanduíche árabe. "Por aqui muitas coisas mudam, mas a receita do falafel permanece a mesma", diz o guia judeu Ilan Bar, mordiscando aquela que se tornou uma das mais tradicionais comidas do Estado de Israel.

Mas se a fórmula do falafel segue inalterada, difícil dizer o mesmo a respeito da cidade que se expande para além das velhas muralhas que protegem o berço do judaísmo, do cristianismo e do islamismo.

Dos anos 70 para cá, o centro das três maiores religiões monoteístas do mundo também encontrou espaço para se transformar em um tipo de "vale do silício" de Israel, concentrando centenas de companhias de tecnologias da informação (TI), telecomunicações e eletroeletrônicos. "Era o caminho mais natural para o nosso país", diz Reuven Eliaz, gerente de relacionamento da RAD Data Communication, empresa que fabrica equipamentos de telecomunicações em Jerusalém, entre outras cidades do país. "Não tínhamos mais nada para exportar, a não ser o sal do Mar Morto ou diamantes. Tínhamos que exportar os nossos cérebros."

Um conjunto de fatores colaborou para fazer com que Israel se tornasse uma da maiores potências mundiais da alta tecnologia: limitada diversidade natural do país, constante necessidade de aprimorar métodos e sistemas de defesa, apoio militar a projetos de pesquisa e desenvolvimento (P&D), incentivo do governo à inovação e o surgimento do mercado de capital de risco, impulsionado pela entrada de multinacionais de tecnologia no país. Bom exemplo é a Intel, que há 30 anos montou sua base de P&D em Israel, com apenas 5 funcionários. Hoje são mais de 5 mil profissionais em operação na empresa.

Na década de 70, lembra Eliaz, um terço das exportações do país estava relacionado a frutas e demais produtos alimentícios, enquanto maquinarias e eletroeletrônicos respondiam por 2% do bolo exportado. Hoje a realidade é outra. "Quase 31% do que vendemos para outros países é tecnologia pura. Os alimentos passaram a ter uma participação de 2% na balança", comenta o executivo.

A importância que as novas tecnologias passaram a ter para Israel está retratada no volume de investimentos feito pelo país. Nos anos 90, segundo dados do Departamento Central de Estatísticas de Israel, os gastos com P&D atingiram uma média de 2,5% sobre seu Produto Interno Bruto (PIB). Em 2005, essa taxa subiu para 4,7%, mesma média mantida desde 2000, o que faz de Israel o maior investidor em inovação tecnológica do mundo, à frente de países como os EUA e Japão. "Israel transformou-se em um centro mundial de pesquisa, fazendo com que muitas multinacionais transferissem seus centros de P&D para lá", diz Rona Kotler Ben Aroya, chefe do Escritório Econômico da Embaixada de Israel no Brasil.

Outro fator determinante para a expansão tecnológica do país, lembra Rona, foi a intensa migração dos russos a partir de 1989, quando milhares de engenheiros deixaram a ex-União Soviética para se estabelecerem no único estado judeu do mundo. Hoje Israel conta com uma população de 7,1 milhões de habitantes. Entre cada dez mil pessoas, 135 são engenheiros. Nos EUA, essa média é de 85 profissionais. "Há cerca de 15 anos, Israel tinha 2 mil engenheiros. Hoje o país forma aproximadamente 8 mil engenheiros por ano", comenta Reuven Eliaz, da RAD.

Segundo a Associação das Indústrias de Software e Eletrônicos de Israel (IAESI, na sigla em inglês), em 2005 o setor de TI de Israel - incluindo o mercado interno - faturou US$ 16,7 bilhões, contra os US$ 15,8 bilhões do ano anterior. No ano passado, o setor movimentou US$ 18 bilhões. E a projeção é chegar a US$ 20 bilhões até 2008.

Desde o ano 2000, o mercado de alta tecnologia é o maior exportador do país, diz Rona Kotler, da Embaixada de Israel. No ano passado, o total da exportação de produtos industrializados atingiu US$ 29,302 bilhões, dos quais 49% (US$ 14,148 bilhões) estão relacionados à exportação de produtos de alta tecnologia, como computadores, componentes eletrônicos e equipamentos de comunicação. Sozinho, o setor de telecomunicações exportou US$ 5,5 bilhões em produtos em 2005, o equivalente a 24% do montante naquele ano.

Tão ou mais intensa que a área de telecom são as inovações na área de segurança, tema que se tornou prioridade nacional desde a criação do Estado israelense, em 1948. As especialidades passam por tecnologias de reconhecimento de voz e censores remotos, até criptografia de dados e alertas para práticas terroristas.

Hoje, o país que inventou o chamado firewall - sistema muito usado para filtrar os dados da internet -, tem mais de 600 empresas especializadas em produtos para segurança residencial. Destas, 300 exportam seus produtos para países como o Brasil, comenta Rona. Em 2005, o mercado de segurança da informação, excluindo produtos destinados ao uso militar, atingiu US$ 2 bilhões em exportação.

O repórter viajou para Israel a convite da RAD Communications