Título: Ong capixaba abre caminho para exportação
Autor: Camargo, Timóteo
Fonte: Valor Econômico, 27/02/2007, Especial, p. F7

A artesã Regina Célia Schimitt está procurando 20 profissionais para trabalhar em seu ateliê em Vitória (ES) e ajudá-la a aumentar em 200 unidades a capacidade atual de produção de 100 bolsas por mês. "As bolsas são customizadas, feitas sob medida para o cliente e vendidas boca-a-boca, principalmente", conta a microempresária. Regina agora se prepara para atender a uma demanda "quase industrial" para uma empresa de Nova York que descobriu o trabalho da artista pela internet. Atualmente ela conta apenas com os serviços de dois profissionais contratados e com parcerias eventuais com outros artesãos.

Regina não fala inglês e se refere à complexa documentação necessária para a exportação apenas como "a papelada". "Só entrei nessa de exportar porque estou sendo incentivada", afirma. Mas não nega a satisfação pelo negócio que, pelo menos, vai dobrar seu faturamento. Uma ong, que usa a internet para viabilizar a relação de pequenos e médios empresários com o mercado exterior, está oferecendo assessoria completa à artista, que tem que se preocupar apenas com a confecção das peças e com os custos do produto. "Para um marinheiro de primeira viagem sem conhecimento de comércio exterior, exportar seria inviável", explica Michelle Giovannotti, técnica de importação e exportação do portal ExportES .

Mais de 1100 empresas já estão cadastradas como compradoras nesse portal, das quais cerca de 80% delas tradings estrangeiras. São mais de 2600 vendedores ativos. E cerca de 550 empresas de fora do Espírito Santo também expõem produtos no site. A maioria delas é da região Sudeste, principalmente de São Paulo, mas há cadastros de produtos de todos os Estados. Estão expostos mais de 3.250 produtos com foto.

O site recebe em média dois mil acessos diários e 150 pedidos de informações mensais - 70% deles de fora do Brasil. Há registros de empresas compradoras de todos os continentes, mas o principal destino dos produtos é a Europa.

Um efeito positivo que não pode ser medido com precisão são compradores de dentro do Brasil que, sem os entraves burocráticos, compram direto produtos de outras regiões do país expostos no site.

Uma equipe do ExportES traduziu para Regina os primeiros contatos dos americanos solicitando amostras dos produtos, enviou as peças e está conduzindo todo o processo de negociação e venda. "Não há como transformar o micro e pequeno empresário em um expert em comércio exterior de uma hora pra outra. O que podemos fazer é simplificar o processo para oferecer a ele novos mercados", afirma Ennio Modenesi, presidente e um dos idealizadores do portal. Em casos como o de Regina, a alternativa mais adequada, segundo Ennio, são parcerias com empresas de comércio exterior, que compram a produção e repassam a mercadoria ganhando uma comissão embutida no preço pago pelo importador. "O Espírito Santo concentra empresas de comércio exterior e muitas delas têm se interessado em participar deste tipo de negociação. Nosso papel é garantir que sejam empresas sérias que não lesem o pequeno e médio vendedor".

Um temor comum entre os exportadores de primeira viagem é o de não serem pagos após o envio do produto. O sistema adotado pelo portal evita o calote.

O ExportES foi criado há três anos por um grupo de empresários de comércio exterior. Modenesi organizava showrooms de produtos nacionais na Europa. "O portal foi uma maneira de desenvolvermos no meio eletrônico um relacionamento com o mercado baseado no know-how que adquirimos representando produtos nacionais a eventos fora do país", afirma Modenesi.

O grande diferencial do site é, segundo ele, a simplicidade. "O foco da divulgação dos produtos está nas fotos que estão ali para informar e seduzir o comprador antes de se falar em preço. O cadastro de produtos é gratuito e simples. O vendedor não precisa dar informações pessoais detalhadas ou dados completos de empresa, apenas as características básicas do que quer vender. Quem se interessar solicita mais informações".

"Essa simplicidade faz do portal uma vitrine global: temos alemães solicitando informações sobre sucos e polpa de frutas; canadenses interessados em cotar mármore e granito, uma empresa peruana querendo expandir seus negócios em moda praia; americanos dispostos a investir na importação de cachaça, bolsas artesanais, café, gengibre, e açaí, uma companhia de Singapura pedindo minério de ferro e colombianos querendo redes de dormir brasileiras", conta.

Para ele o crescimento do portal para fora das divisas do Espírito Santo já era esperado por se tratar de uma ferramenta da web. Ele destaca, no entanto, que a propagação do serviço é planejada para que não haja um excesso de demanda ou de oferta que a estrutura pessoal da ONG não possa acompanhar.

As primeiras ações de divulgação do portal aconteceram no Espírito Santo. Setores fundamentais da economia do Estado como o de pedras e minério de ferro já têm praticamente todos seus produtos cadastrados. Nestes casos, as grandes empresas negociam direto com os compradores. Fora do Estado, a equipe do portal participa de eventos e foca em setores pontuais. Os pólos calçadistas do RS e de SP são hoje as regiões que mais crescem em oferta de produtos no site.

A criação do portal coincidiu com o Programa de Regionalização das Exportações do Governo Federal. O ExportES acabou se destacando como modelo de fomento regional e o pioneirismo do serviço rendeu bons relacionamentos com o Ministério das Relações Exteriores. Por meio do Setor Comercial das Embaixadas do Itamaraty, o portal conquistou incentivadores e representantes em embaixadas importantes do Brasil na Europa, EUA, China e Índia. "Em 2007 queremos alcançar 300 mil visitas por mês, expondo 10 mil produtos.", prevê Modenesi.