Título: Pior fase para inadimplência já passou, diz diretor do BC
Autor:
Fonte: Valor Econômico, 16/08/2012, Finanças, p. C14

O mercado de crédito no Brasil crescerá moderadamente no segundo semestre, e um ritmo parecido deve prevalecer ao longo do ano que vem. Paralelamente, a inadimplência já passou por seu pior momento, e tende a recuar, segundo avaliação do diretor de política monetária do Banco Central (BC), Carlos Hamilton Vasconcelos Araújo.

Em uma pesquisa realizada pelo BC com os principais executivos de bancos brasileiros, que respondem por cerca de 90% do crédito no país, a autoridade constatou que há uma percepção de melhora do contexto de concessão já para o terceiro trimestre. O resultado mostra que os banqueiros consideram que o pior momento para o mercado de crédito "já ficou para trás", nas palavras do diretor.

"Na minha visão, isso aponta para uma continuidade da recuperação do mercado de crédito no semestre" disse Hamilton durante o seminário "Desafios e Perspectivas para a Economia Mundial", realizado na sede do Insper.

Paralelamente, ele deixou clara uma visão positiva em relação à trajetória da inadimplência. O discurso sucedeu a temporada de divulgação de balanços das instituições financeiras no segundo trimestre, revelando que as despesas com provisões para devedores duvidosos, nos cinco maiores bancos do país, cresceram 30%, para R$ 19,2 bilhões.

Segundo o diretor do BC, "as taxas de inadimplência no mercado de crédito já estão em patamares menores, e isso nos leva a acreditar em um recuo dos índices nos próximos trimestres."

O ano de 2010 foi considerado por ele de "excessos" no mercado de crédito, e de fato levou a um aumento da inadimplência, especialmente no segmento de veículos e em operações com mais de cinco anos de prazo, disse o diretor. A partir de 2011, segundo ele, os bancos mudaram de postura, já como reflexo da ação do BC, acrescentou, em alusão às medidas adotadas de limitação dos empréstimos às famílias.

"Observamos que houve um recuo até o fim do ano passado nos créditos baixados para prejuízo e provisões. Em termos de provisão, essencialmente, não percebemos uma grande mudança de comportamento." Hamilton disse também que, após uma taxa de crescimento médio na faixa de 20%, "é natural que haja uma certa moderação na expansão do crédito".

Outro ponto positivo, na visão do BC, é que o comprometimento da renda das famílias para pagar dívida já mostra recuo. Na análise da autoridade, o ponto máximo do comprometimento da renda das famílias ocorreu no segundo semestre de 2011, e o nível atual representa 21,9% da renda mensal. Excluindo-se a parcela vinculada a prestações de crédito imobiliário, o comprometimento com o serviço da dívida cai para 20,6% da renda mensal, "e se encontra em patamares confortáveis", disse Hamilton.

Do lado do consumo, explica, houve uma moderação da demanda, mas ainda continua a ser sustentado pela massa salarial real ainda elevada, "apesar da moderação da economia."

Hamilton disse que o déficit em conta corrente brasileiro está girando entre 2% e 2,5%, financiado basicamente por ingresso de Investimento Estrangeiro Direto (IED). Para este ano, o BC prevê entrada de US$ 50 bilhões por esta conta e calcula ingresso de US$ 60 bilhões em 2013.

O Brasil deve experimentar uma aceleração forte da atividade econômica no ano que vem em relação a 2012, segundo o diretor. "A atividade econômica está em expansão", disse. Do ponto de vista da inflação, a política fiscal atual é neutra, acrescentou.

Segundo ele, até a publicação do último relatório de inflação, a previsão do BC para o PIB em 2012 era de crescimento de 3,5%, número revisado para 2,5%. "Com isso, nós revimos o nível de superávit primário que mantém a política fiscal numa posição de neutralidade do ponto de vista da inflação."