Título: Petista cobra esclarecimento do dossiê
Autor: Lyra, Paulo de Tarso
Fonte: Valor Econômico, 09/10/2006, Política, p. A12

p campanha de rua de Luiz Inácio Lula à reeleição, que começa para valer a partir desta semana, tem como estratégia manter a ofensiva no Nordeste para segurar a votação ali obtida, mas, sobretudo, reverter - ou pelo menos amenizar - o péssimo resultado obtido em dois Estados considerados chave para a legenda: Rio Grande do Sul e São Paulo. No primeiro, Alckmin teve 56,76% dos votos válidos contra 33,07% de Lula. No segundo, em São Paulo, o placar foi de 54,20% contra 36,77% a favor do tucano.

Na sexta-feira, a máquina da campanha começou a andar, depois de ter passado os primeiros quatro dias da semana, a primeira do segundo turno, traçando estratégias, articulando apoios, e descomprometendo a coordenação da campanha e o governo com as denúncias de crime eleitoral, para enfrentar o debate com o adversário.

Pressionado pelo Planalto, o deputado Ricardo Berzoini (SP) deixou o comando do PT, sendo substituído pelo assessor especial da Presidência da República, em licença, Marco Aurélio Garcia. O ex-diretor do Besc, Jorge Lorenzetti, e o assessor Hamilton Lacerda, integrantes, respectivamente, das campanhas de Lula e Aloizio Mercadante, e envolvidos na compra do dossiê, pediram desligamento do PT. O ex-diretor do BB, Expedito Veloso, e o ex-chefe de gabinete do Ministério do Trabalho, Osvaldo Bargas, que integravam a campanha de Lula, recusaram o desligamento serão submetidos a julgamento pela comissão executiva do partido que deverá expulsá-los.

No fim do dia, o Banco Central entrou no circuito: divulgou nota informando que encaminhou à Polícia Federal as informações sobre os registros de operações de compra de dólares pelo Banco Sofisa S.A. no mês de agosto, bem como todas as informações sobre os registros de operações de venda de dólares do Banco Sofisa S.A. acima de US$ 10 mil para outras instituições ou pessoas físicas, no período de 17/08 a 14/09, e respectivos rastreamentos.

O BC oficiou também para que Bradesco, BankBoston, Safra e Banco do Brasil enviassem diretamente à Polícia Federal as informações referentes a saques em reais acima de R$ 10 mil e de R$ 2 mil que, de forma seriada, ultrapassem R$ 10 mil, realizados entre 28/08 e 14/09 nas cidades de Brasília, Rio de Janeiro e São Paulo. Isto abre caminho para que seja identificada a origem do dinheiro encontrado com petistas.

A ação conjunta combina com a cobrança feita por um dos coordenadores da campanha de Lula em São Paulo, o deputado José Eduardo Cardozo (PT-SP). Cardozo afirma que o escândalo do dossiê precisa ser decifrado se o PT quiser, de fato, reverter a desvantagem. "Precisamos deixar claro para a população nosso interesse que este caso seja desvendado", resumiu Cardozo.

O petista acha que ações positivas e incisivas serão fundamentais para que os militantes petistas saiam às ruas e inflamem a campanha de segundo turno. Ele lembrou que a militância petista sempre cresce nos momentos de polarização. "Os petistas estão sendo desafiados e convocados à ir para as ruas. E virão", prometeu Cardozo. O tom mais contundente também será ditado pelos novos coordenadores estaduais das campanhas, no Rio Grande do Sul (Miguel Rossetto e Henrique Fontana) e em São Paulo (Marta Suplicy).

No Sul, apesar do dossiê complicando a vida de Lula, o câmbio depreciado e as sucessivas secas, segundo governistas, são os maiores responsáveis pela vitória de Geraldo Alckmin. "Nós perdemos as eleições em todos os estados com fronteira agrícola", lamentou o vice-líder do governo na Câmara, Beto Albuquerque (PSB-RS). Beto admite que um dólar valendo R$ 2,20, R$ 2,30 é muito baixo para as exportações. "Some-se isso a seca - nem o Lula nem o Papa podem controlar o regime de chuvas - e temos a nossa derrota".

O líder governista, contudo, acredita que o governo precisa mostrar tudo o que fez pelo Rio Grande do Sul. As chances de reversão da derrota de Lula no Estado passam, também, por uma decisão que será tomada na tarde de hoje: com quem o PMDB gaúcho se alinha no segundo turno do Estado e no país.

Rigotto já declarou neutralidade, mas a batalha será intensa. O deputado Eliseu Padilha (PMDB-RS), que conseguiu eleger a maioria dos deputados estaduais e apóia o PSDB. O presidente regional do PMDB, senador Pedro Simon, deve seguir a tendência partidária, seja qual for a decisão. Assessores do partido lembram que, no Estado, a tendência é o PMDB apoiar os tucanos, por conta do espírito anti-PT que reina no Estado. "Eles têm um voto consolidado de 30%", confirmam. E apostam que dificilmente, a decisão nacional vai diferir da decisão local.